Muitas pessoas me procuram para ouvirem o que já sabem. Mas ainda assim gostam de ouvir novamente e novamente. Eu acredito que talvez seja para ajudá-las a elaborar, elaborar através da repetição. Ou talvez seja porque, nas conversas que temos, costumo "adivinhar" alguns acontecimentos e isso aumenta o grau de confiabilidade delas em relação ao que falo e ao que eu represento.
Talvez porque no mundo corporativo ninguém confie em ninguém e ninguém seja sincero com ninguém, ao encontrarem alguém que doa seu tempo e não pede nenhum retorno, ou não usa nenhuma moeda de troca, realmente impressione. As pessoas têm dificuldade em encontrar executivos na empresa que, de verdade, se preocupem com o ser humano por trás do profissional. E aqui não estou fazendo nenhum juízo de valor, é o que é. Tudo isso porque o foco é realmente ganhar dinheiro e "fazer carreira" e todos estão nessa jornada específica de sucesso. E sucesso para muitas pessoas é tão somente se colocarem em competição, para outras, é se omitirem e tentarem não chamar muita atenção, ir tecendo uma rede de relacionamento que os assegurem. O mundo corporativo não cria monstros, apenas os contrata. Na minha opinião o mundo corporativo só reflete e evidencia as pessoas como são, em grande parte para compensarem seus fracassos familiares.
Então o mundo corporativo se coloca para muitos como a "cura" da dor que sentem, de longa data. Sinto em dizer que não existe cura em um ambiente construído para ganhar e ganhar e ganhar, em que pessoas são sempre comparadas e em que sempre se prioriza relacionamentos em detrimento de conhecimento e competência.
O que mais me chama atenção e, novamente, sem juízo de valor, porque o mundo corporativo é o que é e vem entregando seus resultados, é que existe também um movimento nas empresas de "iludir" os profissionais, exibindo o ambiente como curativo e inclusivo, como integrado e baseado na meritocracia. Mas infelizmente não é assim, não se faz um ambiente por decreto. São as pessoas que fazem o ambiente e as pessoas que estão na liderança, são as que já abriram mão de valores e fundamentos básicos de conduta, então não se pode mesmo esperar muito nesse sentido. Sei que existem exceções e trabalho em uma, mas a maior parte das empresas não fogem a regra.
Mas com diz um grande amigo, as vezes, é necessário buscarmos oxigênio e alternarmos entre os mundos, o que te financia e paga suas contas e o que você se realiza e pode ser quem você é. E tudo bem nessa alternância, desde que você não se iluda e não confunda os dois. Não acredite que o mundo corporativo é capaz de te dar o reconhecimento que você não obteve no seu âmbito pessoal e familiar, não se tem como curar o passado deficitário com um cargo ou posição, que aparentemente evidencia sucesso, mas de que sucesso estamos falando?
Enquanto isso, na sala da "psicologia", vejo que os profissionais de hoje no mundo corporativo serão os meus pacientes de amanhã na clínica. E que a experiência por ter vivido esse mundo, me permita ajudar e aliviar o sofrimento de muitos que venham nessa esteira do crescimento e do "sucesso" profissional.