O ambiente corporativo é um
terreno fértil para injustiças e protecionismo, onde muitas vezes as conexões
pessoais superam o mérito e a competência, após mais de 30 anos de experiência
em ambientes corporativos, sinto a necessidade de compartilhar minhas reflexões
sobre esse tema que tem me incomodado profundamente: as injustiças, os
apadrinhamentos e as proteções que permeiam o mundo dos negócios. Ao longo de
minha jornada, tenho lutado incansavelmente para promover uma cultura de
valorização do trabalho e não das amizades, mas me deparei com inúmeras
situações em que parece que estou nadando contra a correnteza.
Um dos fatores que mais chamam a
atenção é o poder das amizades. Durante minha carreira, observei como as
amizades e os relacionamentos pessoais muitas vezes influenciam as decisões
dentro das organizações. Pessoas próximas a indivíduos-chave são promovidas ou
protegidas, independentemente de seu desempenho ou competência. Essa realidade
injusta é desanimadora e mina a confiança e o senso de justiça dentro das
equipes.
Muitas vezes os relacionamentos pessoas (a
famosa amizade) se sobrepõem a entrega, ou seja, são priorizados em detrimento
do desempenho e vemos nitidamente a desvalorização do trabalho em si. Tive uma
experiência nesse sentido muito ilustrativa ao concorrer por uma promoção, em
que a pessoa escolhida em meu lugar não possuía os requerimentos da vaga, não
era reconhecida pela equipe, não tinha conhecimentos técnicos, não tinha vínculos
fortes com o time, não se mostrava ser uma pessoa inovadora, não possuía habilidades
interpessoais e de gestão de equipe e ainda assim foi escolhida. E o mais
interessante foi o argumento que me foi dado, de que escolheriam uma pessoa da “continuidade”
porque eu me mostrava muito “inovadora”. Isso dentro de um ambiente empresarial
em que, diariamente, falamos em inovação, em como fazer e pensar diferente,
como buscar sempre novas maneiras de executar as tarefas, de pensar “fora do
quadrado”. Ou seja, quando a prática e o discurso estão infinitamente
distantes.
O ambiente corporativo, muitas
vezes, prioriza as aparências e as conexões em detrimento do valor real do
trabalho. Colaboradores dedicados, que buscam constantemente melhorar e
contribuir para o sucesso da empresa, acabam sendo negligenciados em favor
daqueles que possuem relações privilegiadas. Essa desvalorização do trabalho
afeta não apenas a motivação dos indivíduos, mas também a cultura
organizacional como um todo. Sempre bom reforçar a importância de reconhecer e
recompensar os colaboradores com base em suas contribuições e desempenho, em
vez de suas conexões pessoais.
Além dos aspectos mencionados, é
fundamental destacar a importância da transparência e da liderança ética na
gestão de pessoas. A falta de transparência nas decisões, a ausência de
critérios claros para promoções e reconhecimentos e a falta de comunicação
aberta com a equipe contribuem para a perpetuação das injustiças e do
protecionismo dentro das organizações. Uma liderança ética desempenha um papel
crucial na criação de um ambiente de trabalho justo e meritocrático. Os líderes
devem ser exemplos de integridade, agindo de forma imparcial e tomando decisões
baseadas em critérios objetivos e justos. Ao promover uma cultura de
transparência e respeito, os líderes inspiram confiança e estimulam a
valorização do trabalho e o reconhecimento baseado no mérito. Na prática, a
falta de transparência ou liderança falha afeta negativamente o ambiente de
trabalho e contribui para as injustiças. Estabelecer critérios claros e
objetivos para promoções e reconhecimentos é fundamental, mas quase nunca é o
que acontece no dia a dia corporativo.
É igualmente importante incentivar
a participação ativa dos colaboradores no processo de gestão de pessoas.
Promover canais de comunicação abertos, ouvir sugestões e críticas
construtivas, e envolver os funcionários nas decisões que afetam suas carreiras
e desenvolvimento são estratégias que podem contribuir para reduzir as
injustiças e criar um ambiente mais equitativo. O que eu mais gostava de fazer,
era envolver os funcionários nas decisões que afetavam as suas próprias
carreiras, como por meio de pesquisas de satisfação, grupos de discussão ou
programas de sugestões. Dá trabalho, eu sei. É o líder trabalhando pelo grupo e
não para si mesmo e por isso que a maioria dos líderes não gostam de seguir por
esse caminho.
Também posso garantir que é um
grande desafio nadar contra a correnteza. Conscientemente, decidi seguir minha
jornada com a convicção de que o trabalho e o mérito deveriam ser os principais
critérios para o crescimento profissional. Busquei construir uma equipe sólida,
baseada em talentos, competências e diversidade, mas me deparei com a
resistência e a falta de apoio. Nadar contra a correnteza tem sido uma tarefa
árdua, mas acredito que vale a pena lutar por um ambiente de trabalho mais justo
e meritocrático. No meu caso, poderia dar inúmeros exemplos, mas o mais
simbólico foi o de nunca aceitar “amizades”, para não dizer “puxação de saco”,
evidenciados por elogios desproporcionais ao feito, fofocas, presentinhos fora
de hora, testemunhos exagerados de como sua liderança era diferenciada.
É fundamental que os
profissionais se capacitem e se fortaleçam diante das adversidades. Buscar
constantemente o desenvolvimento pessoal e profissional, adquirir novas
habilidades, buscar mentorias e networking podem ser estratégias poderosas para
enfrentar os desafios do ambiente corporativo. A educação contínua e a busca
pelo conhecimento proporcionam um diferencial competitivo e fortalecem sua
posição diante das injustiças e protecionismos.
Apesar das adversidades
encontradas, continuo firme em minha busca por um ambiente corporativo mais
justo e equitativo. Acredito que ao compartilhar minha experiência e minhas
reflexões, posso inspirar outros profissionais a não desistirem de seus valores
e ideais. É necessário promover uma cultura organizacional que valorize o
mérito e a dedicação, criando um ambiente onde todos possam ter oportunidades
iguais de crescimento e desenvolvimento.
O ponto crucial, na minha visão,
seria promover a diversidade e a inclusão no ambiente corporativo. Muitas
vezes, o protecionismo e as injustiças são amplificados pela falta de
representatividade e pela exclusão de grupos minoritários. Ao valorizar e dar
oportunidades igualitárias a todos os colaboradores, independentemente de sua
origem, gênero, raça ou orientação sexual, podemos construir organizações mais
justas e equitativas. A promoção da diversidade traz diferentes perspectivas e
habilidades para a equipe, enriquecendo a tomada de decisões e impulsionando a
inovação. Criar um ambiente inclusivo onde todos se sintam valorizados e
respeitados é essencial para o bem-estar e a motivação dos colaboradores. Esse
tema é tão estrutural que as pessoas nem percebem o quanto falhamos, desde a
contratação até viabilizar igualdade de condições e oportunidades para todos.
Tanto é que foi uma longa jornada até termos de fato representatividade no
grupo, mulheres, pretos, homossexuais, pessoas mais velhas, portadores de
alguma deficiência e por ai vai. A falta de representatividade e exclusão de
grupos minoritários contribui para a perpetuação das injustiças. Além disso,
destaque os benefícios da diversidade de pensamento e como ela impulsiona a
inovação e a tomada de decisões.
A mudança não acontece da noite para o dia. Superar as injustiças e o protecionismo no ambiente corporativo requer esforço contínuo, persistência e coragem. Ao unir-se a outros profissionais que compartilham da mesma visão e ao buscar apoio em redes e comunidades de interesse, você pode fortalecer sua voz e ampliar o impacto de suas ações.
Seja um agente de mudança dentro
das organizações. Encoraje e promova a adoção de políticas e práticas mais
justas, participe ativamente de comitês e grupos de diversidade e inclusão, e
defenda uma cultura organizacional baseada na meritocracia. Ao agir como um
líder de mudança, você pode influenciar positivamente o ambiente ao seu redor e
inspirar outros a fazerem o mesmo.
Encorajo você a compartilhar
estratégias práticas que ajudaram você a enfrentar esses desafios em seu
próprio percurso profissional. Juntos, podemos criar uma mudança significativa
e construir um ambiente corporativo mais justo, transparente e meritocrático.
Por fim, lembre-se de cuidar de
si mesmo em meio a essas lutas. Encontre formas de lidar com o estresse, como
praticar exercícios físicos, meditar, buscar apoio emocional e estabelecer um
equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. A jornada contra a correnteza pode
ser desafiadora, mas manter-se resiliente e cuidar do seu bem-estar é essencial
para continuar lutando por um ambiente de trabalho mais justo e equitativo.
Talvez aqui tenha sido o ponto que eu mais negligenciei ao longo da minha
jornada, subestimei o quanto internalizamos as dificuldades e com o tempo,
essas questões emocionais, acabam por se transformarem em questões mais densas,
como depressão, burnout e mesmo físicas, de impacto real na saúde. E ai, eu já
diria irreversíveis como no meu caso. Sempre bom reforçar que para lidar com o
estresse no ambiente corporativo, lembre-se de praticar exercícios físicos,
estabelecer limites saudáveis entre trabalho e vida pessoal e buscar apoio
emocional quando necessário
Certamente! Poderíamos ficar aqui
por horas e horas listando ações concretas. Mas me limito a listar apenas
algumas sugestões adicionais que podem ser exploradas para aprimorar a reflexão
sobre o tema e oferecer estratégias práticas para promover mudanças positivas
no ambiente corporativo:
· Estabelecimento de políticas de transparência: As empresas podem adotar políticas claras e transparentes para promoções, aumentos salariais e reconhecimento dos funcionários. Isso ajuda a evitar decisões arbitrárias e subjetivas, promovendo um ambiente mais justo.
· Implementação de programas de mentoria: Programas de mentoria podem ser uma ótima maneira de proporcionar suporte e orientação aos funcionários, independentemente de suas conexões pessoais. Ao conectar indivíduos experientes a talentos em ascensão, a empresa pode ajudar a nivelar o campo de jogo e oferecer oportunidades iguais para o desenvolvimento profissional.
· Construção de uma cultura de feedback construtivo: Incentivar uma cultura de feedback aberto e construtivo ajuda a avaliar o desempenho dos funcionários com base em critérios objetivos. Isso ajuda a evitar a influência de relações pessoais e permite uma avaliação mais justa do trabalho realizado.
· Realização de avaliações de desempenho imparciais: É importante que as avaliações de desempenho sejam conduzidas de maneira imparcial e com base em critérios objetivos. Evitar a influência de relacionamentos pessoais ou preferências individuais é essencial para garantir a equidade nas avaliações.
· Fomento da diversidade de pensamento: Além da diversidade demográfica, é importante promover a diversidade de pensamento dentro da organização. Incentivar a expressão de diferentes ideias, opiniões e perspectivas contribui para uma tomada de decisão mais abrangente e criativa, diminuindo a tendência ao protecionismo e favorecimento.
· Promoção de uma cultura de inclusão: Para combater as injustiças e protecionismo, é fundamental criar uma cultura organizacional que valorize e respeite a diversidade de experiências, habilidades e identidades. Incentive a colaboração, a empatia e a igualdade de oportunidades, criando um ambiente onde todos se sintam seguros e valorizados.
· Estabelecimento de canais de denúncia e proteção aos denunciantes: Para combater as injustiças e proteger os colaboradores que denunciam práticas inadequadas, é importante implementar canais de denúncia seguros e confidenciais. Além disso, é fundamental que a empresa tome medidas efetivas para investigar e tomar providências em relação às denúncias recebidas.
· Fortalecimento das políticas de denúncia e combate ao assédio e discriminação: É fundamental que as empresas tenham políticas robustas para lidar com casos de assédio, discriminação e comportamentos injustos no ambiente de trabalho. Isso inclui a criação de canais seguros para denúncias, investigações imparciais e a implementação de medidas disciplinares adequadas.
· Monitoramento e responsabilização: As empresas devem implementar mecanismos de monitoramento e responsabilização para garantir que as práticas justas sejam seguidas. Isso pode incluir a análise regular de dados, a identificação de tendências ou disparidades e a tomada de medidas corretivas quando necessário.
· Promoção da conscientização e educação sobre vieses inconscientes: Os vieses inconscientes podem influenciar as decisões e percepções no ambiente corporativo, contribuindo para as injustiças e protecionismo. Oferecer treinamentos e atividades que ajudem os colaboradores a reconhecerem e mitigarem seus vieses inconscientes pode ser uma estratégia eficaz para promover a imparcialidade e a justiça.
· Educação e treinamento sobre diversidade e inclusão: Proporcionar educação e treinamento sobre diversidade, inclusão e combate a preconceitos é essencial para sensibilizar os colaboradores e promover uma cultura de respeito e igualdade.
· Desenvolvimento de programas de igualdade de oportunidades: As empresas podem implementar programas que visem garantir igualdade de oportunidades para todos os funcionários, independentemente de sua origem, gênero, raça ou orientação sexual. Isso pode incluir políticas de recrutamento e seleção que buscam ativamente candidatos diversos, além de programas de desenvolvimento de carreira que ofereçam suporte e orientação igualitários a todos os colaboradores.
· Fortalecimento da governança corporativa: Uma governança corporativa sólida, com comitês e estruturas de tomada de decisão transparentes e imparciais, pode ajudar a evitar práticas de protecionismo e garantir que as decisões sejam baseadas em critérios justos e objetivos.
· Promoção de liderança inclusiva: As empresas podem investir no desenvolvimento de líderes inclusivos, que valorizem a diversidade e promovam um ambiente de trabalho justo e equitativo. Isso envolve fornecer treinamentos de liderança inclusiva, estabelecer metas de diversidade e inclusão para líderes e incentivar a construção de equipes diversas.
· Promoção da igualdade salarial: As empresas devem analisar e corrigir possíveis disparidades salariais entre funcionários que desempenham funções semelhantes. É importante garantir que o salário seja baseado no mérito e na contribuição individual, e não em relações pessoais ou protecionismo.
· Incentivo à rotatividade de cargos e oportunidades de crescimento: Estabelecer políticas que promovam a rotatividade de cargos e ofereçam oportunidades de crescimento e desenvolvimento para todos os colaboradores pode ajudar a evitar a estagnação e o favorecimento baseado em relações pessoais. Isso permite que diferentes pessoas tenham a chance de assumir novas responsabilidades e contribuir com suas habilidades e perspectivas.
· Incentivo à colaboração e trabalho em equipe: Estimular a colaboração e o trabalho em equipe pode ajudar a reduzir o protecionismo e favorecer a valorização do trabalho coletivo. Iniciativas como projetos conjuntos, grupos de trabalho interdisciplinares e programas de reconhecimento em equipe podem promover uma cultura de cooperação e valorização mútua.
· Parcerias com organizações externas: As empresas podem estabelecer parcerias com organizações externas, como grupos de defesa da diversidade e inclusão, para obter orientações, compartilhar boas práticas e participar de iniciativas conjuntas. Isso ajuda a fortalecer o compromisso da empresa com a justiça e a igualdade.
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