Abril de 1998 (Recordar...)
Antes
de tudo quero muito te agradecer pelo dia de ontem. Mais do que te agradecer,
demonstrar ao Universo toda a minha gratidão, por ter me permitido conhecer
você, seria um tempo perdido, passar nem vida, sem viver e sentir o que
vivenciei contigo. Se a intenção era que fosse inesquecível, conseguiu. Se a
sua intenção foi me emocionar, sem dúvida nenhuma foi emocionante. Tanto, que
transborda, escrever aqui agora, já me traz lágrimas nos olhos e enche o meu
coração. Conseguiu de verdade tornar esse dia memorável. Um dia que já me vejo
contanto, daqui muitos anos, para os meus netinhos, quando estivermos
conversando sobre o que é um amigo de verdade.
Não
consigo te dizer o que mais gostei, o que mais me tocou. Porque eu seria
injusta em pegar algo dentre tudo para evidenciar aqui. Amei o todo, o
conjunto, mas me apego sim aos mínimos detalhes, todos igualmente importantes,
desde a letra do cartão, o tamanho, a cor, os presentes em si e a capacidade
de, embora pequenos, simples, de certa forma até comuns, carregarem tanto
simbolismo. Realmente é o jeito que olhamos para a estrela que a torna única e
especial, diferente de todas as outras. Da pequenez do pingente, se olharmos
apenas para o pingente em si, mas a grandeza desse mesmo pingente se olharmos
para a cor, para o fato de ser prateado, se olharmos para o fato dele entrar em
uma pulseira que eu já tenho, dele seguir o fluxo da vida, se olharmos a carga
de amor que ele evidencia, é como ver você todos os dias.
E por
aí vai, poderia aqui me transformar em um “grude” e ficar por horas descrevendo
tudo o que vivi e o quanto você é uma pessoa altamente diferenciada, de uma
sensibilidade, de uma verdade, que nos faz olhar para dentro e nos perguntar se
realmente existe. Mas eu prefiro não, não que eu não tenha vontade, porque é o
que estou fazendo no meu diário “novo”. Rs. Mas é que o meu tempo com você é
tão precioso, tão único, que seria um desperdício usar esse tempo, para te
dizer o que eu sinto de tudo o que você me faz. Porque agora aqui, nesse tempo,
eu quero conversar sobre o que nós dois faremos, para lidarmos com esse
contexto diferenciado.
Se
existe na nossa vida, se é o contexto que nos foi apresentado, é porque
precisamos viver. Se o nosso encontro (guardei o bracelete. rs) vai durar
horas, um dia ou se vai durar até apenas a próxima semana,
acredite, não me importa. Porque cansei de fazer contas (li isso no livro também,
tem sido um resgate fantástico, do tipo lembrar o que já se sabe, entende?).
Tenho certeza absoluta que muitos casamentos sólidos que duram anos e são muito
felizes, podem nem sequer terem passado perto da emoção que vivi nesse dia.
Emoções boas, emoções nem tão boas assim, algumas pesadas, mas todas intensas,
como você é. Isso é inegável.
Uma vez
ouvi dizer que o cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos
movimentos. Não sei explicar direito as coisas, você sabe, eu só sei sentir.
Mas vou tentar. rs. Então, por exemplo, se alguém colocasse você dentro de uma
sala branca vazia, sem nada dentro, sem portas ou janelas, sem relógio... você
começaria a perder a noção do tempo. Por alguns dias, sua mente ainda
detectaria a passagem do tempo sentindo as reações internas do seu corpo, dado
os batimentos cardíacos, ciclos de sono, fome, sede, pressão sanguínea, etc.
Mas, nossa noção de passagem do tempo está ligada mesmo é no movimento dos
objetos, pessoas e da repetição de eventos cíclicos (sei lá como o nascer/ pôr
do sol). O nosso cérebro evita fazer duas vezes o mesmo trabalho da mesma
forma. E nós temos milhares de pensamentos por dia. Ficaríamos loucos, se o
cérebro tivesse que processar conscientemente todos os pensamentos do dia de maneira
diferenciada e única. Então grande parte destes pensamentos é automatizada e
não aparece ou não é registrada como evento do dia. Quando você vive uma
experiência pela primeira vez, o cérebro se dedica para compreender o que está
acontecendo. É justo quando você se sente mais vivo. Conforme a mesma
experiência vai se repetindo, o cérebro vai simplesmente colocando suas reações
no modo automático e 'apagando' as experiências duplicadas.
Rs. Simples: o cérebro já sabe o que viveu, já sabe o que fazer, ele simplesmente
pega suas experiências passadas e usa, no lugar de viver, ele repete a
experiência já vivida. É isso, se estava no modo automático, você não vivenciou
aquela experiência de maneira manual, ela é apagada de sua noção de passagem do
tempo... É isso. Quando você começa a repetir algo exatamente igual, a mente
apaga a experiência repetida.
Vamos envelhecemos, as coisas começam a se repetir - as mesmas pessoas,
problemas, desafios, programas, posições, reclamações... enfim... as
experiências novas, aquelas que fazem a mente parar e pensar de verdade vão
diminuindo. Até que tanta coisa se repete que fica difícil dizer o que tivemos
de novidade na semana, no ano ou, para algumas pessoas, na década.
Ou
seja,
- o
que faz o tempo parecer que acelera é a... ROTINA.
- o
que faz a vida ser interessante é o … MOVIMENTO.
Você
está em movimento, Você é jovem (por fora não tenho dúvida), mas não acredita
totalmente na sua juventude por dentro. Espero que não fique bravo comigo.
Porque sempre erro no final. rs. Você é ansioso como eu e quer resolver,
encontrar a resposta do exercíco, montar a equação e fechar a conta,
antecipando qual é a resposta. Mas eu estou te pedindo para voltarmos no
enunciado, para lermos de novo o enunciado da questão. Porque, dessa vez, tem
uma pegadinha no enunciado. Lendo detalhadamente a gente vê que não é para
resolver nada, não tem problema nenhum. A resposta está no próprio enunciado.
Para
que resolver a equação e passarmos a sermos um a rotina do outro. Se
podemos ser indefinidamente o movimento?
Não me entenda mal. Por favor. É só uma tentativa de entender o que está se
passando comigo. E talvez, por sermos muito parecidos, pode ser também o que te
acontece. A rotina é essencial e otimiza muita coisa, mas a maioria das pessoas
ama tanto a rotina que, ao longo da vida, seu diário acaba sendo um livro de um
só capítulo, repetido todos os anos. Por outro lado, tem gente que odeia a
rotina, que não consegue ser feliz, porque nunca termina de ler o livro, está
sempre começando o seguinte, sem terminar o primeiro, um movimento frenético, o
que não é solução também.
Quero
te dizer, que eu não sou nada do que você já viveu. Sou diferente. Nossa
combinação é diferente, não dá para ser comparado com nada. Eu posso repetir
coisas e você repetir coisas, mas nós dois juntos somos uma comibnação única,
antes não existente, então não pode ser algo igual a nada que já vivemos.
Acredite. Quando, hoje, você me disse que já viveu isso e sabe o que vai
acontecer, me deixa triste. Porque você me joga na vala comum, você analisa
você separado de mim, ao invés de analisar a combinação “eu + você”. Mas
o problema maior não é esse não. O pior é que o simples fato de você acreditar
que será assim mesmo, o simples fato de dizer que você sabe o que irá acontecer,
já tem uma força e poder absurdo de realizar esse pensamento. O que a gente
acredita, acontece.
Estava pensando muito, como sempre, e vejo um antídoto para essa
“aceleração” do tempo (rotina). E eu diria que o antídoto é composto de 2
fases: se permitir + registrar (movimento).
Se
movimentar seria, se permitir e registrar. E se permitir é mudar,
fazendo algo diferente, sem comparar, sem enquadrar, sem sofrer, sem se culpar
e registrar é gravar na alma, fazendo um ritual, uma festa, fotos,
escrevendo, etc, registrando o toque, o cheiro, o tato, a imagem, o som,
registrar na pele, na mente, no coração.
Você
deve estar se perguntando agora, o que tudo isso tem a ver conosco, e
justamente agora, onde quero chegar. Sou confusa.Mas é tão simples quanto te
dizer que: Você é o meu antítodo.
Mudar de paisagem. Celebrar pequenas coisas. Trocar idéais novas, Desejar
muito. Beijar diferente. Focar em coisas simples. Conversar. Escutar. Brigar, Discutir,
Perdoar, Entender. Sei lá.
Você é
o movimento da minha vida. Registrar e diferenciar o dia. Um ano de registros
ao seu lado. Um ano completamente registrado. E dado o contexto, registrado na
alma mesmo, nas minhas lembranças, nos meus sentidos (por isso achei lindo o
presente “multi-sentidos” que você me proporcionou).
Não tem segredo nenhum. É só abusar dos rituais para tornar momentos especiais
diferentes de momentos usuais. E nesse ponto, nunca seremos um problema, nem
antes, nem durante e nem depois, se o fim mencionado por você hoje, realmente
acontecer.
O que
quero te dizer também é que mesmo na rotina, dá para fazer diferente. Focar no
lado cheio do copo. Aceitar o que vier. Zerar as expectativas. Não implorar.
Cercar-se de amigos. Amigos com gostos diferentes, vindos de lugares
diferentes, com religiões diferentes e que gostam de comidas diferentes,
músicas diferentes, pensam diferente. Abrir espaço para você dentro do seu
próprio “lar”. Se me permite, tenho medo de falhar e te magoar agora … mas ser
sincera tem disso … você me diz que ser “coadjuvante” foi algo que te chamou
muita atenção e eu te digo que ser coadjuvante, talvez no seu contexto, seja o
mesmo que você me dizer que se sente um estranho no seu próprio lar.
Eu
entendo que a rotina, poderia ser diferente, se tivéssemos a sorte de estar com
alguém disposto a viver e buscar coisas diferentes. Mas ainda assim, acho que
seria jogar a responsabilidade (delegar) da nossa felicidade para alguém que,
muitas vezes, não está nem ao menos conseguindo cuidar da própria felicidade.
Eu entendo que a sua rotina hoje não enche o seu copo. Mas temos nós dois,
abundantes e que podemos nos complementar, de alguma forma.
Tenho
para mim, que pensando em tudo isso e praticando tudo isso, meu livro está
muito mais longo, muito mais interessante e muito mais v-i-v-o... do que a
maioria dos livros da vida que existem por aí. É isso que me move hoje. É
através dessa crença que me protejo da culpa e do julgamento de que existe algo errado. E mais, me torno uma pessoa melhor, porque (não quero ser
hipócrita contigo, mas é sincero, acredite) consigo entender melhor a minha
rotina e aceitar os desvios e quem sabe até uma possível jornada parecida da
outra parte.
Porque
a vida está aí. Passando rapidamente, automaticamente, imersa em uma
rotina absurda e que posso fazer um pouquinho diferente também. E
mais, o antítodo já me foi apresentado, com todas as letras, com a idade
que preciso, com a energia que preciso, com os mesmos conflitos, com
experiência de vida, ou melhor, com experiência de vidas. E mais, é um
presente tão completo, que veio do jeito que me faria abrir as portas, veio
lindo, cheio de ossinhos, com o sorriso e olhar mais sinceros que já tive,
perfumado, com a energia de uma criança e com um lado “menina” cativante.
O meu convite para você é sermos diferentes é em nos permitimos, nos
movimentarmos. Em outras palavras... V-I-V-E-R!
Porque se vivermos intensamente as diferenças o tempo vai parecer mais longo. É
nisso que acredito. É o que tenho feito contigo. E se quer saber não sinto
arrependimentos, em nenhum momento, aparece arrependimento. Porque como sempre
te digo, você é meu por direito. Pode surgir arrependimento sim, se tudo der
errado, se o nosso “diferente” virar rotina. Mas
hoje, te digo com a maior certeza do mundo, que você é uma das poucas coisas
(para não dizer a única) que eu não mudaria, que eu faria exatamente igual,
faria tudo de novo, eu faria igualzinho foi. Porque você tem o poder de mudar a
minha vida, não só no seu raio de ação … a sua energia se propaga e muda
a minha vida na seqüência, cura as minhas feridas antigas, mexe no meu passado,
coloca algumas coisas no lugar … tira outras tantas do lugar … rsrsrs
Talvez … Eu seja hoje na sua vida, peço desculpas antecipadas pela baixa
modéstia, essa experiência diferente, capaz de expandir seu tempo, com
qualidade, emoção, rituais e vida. Não sou um “furror”, mas também não sou
omissa contigo. Não te namoro em todas as posições, mas te namoro tocando o seu
coração, sempre que você quer e não só quando eu quero. Não tenho o melhor
beijo, mas te beijo com freqüêcia. Sou atrapalhada, te machuco, falo sem
pensar, mas não sou morna contigo. Não sou única e exclusivamente sua, mas sou
única e exclusivamente sua quando estou contigo. Divido sempre a conta ao
final, mas não divido o que temos com ninguém, não conto os nossos segredos e
nem fico fazendo conta e discutindo quem está dando mais ou menos. Quero o que
me pertence e até que você me diga o contrário, você me pertence. O meu convite
é mesclar a sua rotina comigo, se movimentar comigo. Ainda não acho que temos
que trocar um, pelo outro, escolher entre o movimento e a rotina, mas não vejo
minha vida sem mesclarmos as coisas. É importante buscarmos o que se quer nos
locais corretos. Aquele lance de não buscar água onde a fonte secou. Na vida
não existe uma única fonte.
Nada e
nem ningúem será capaz de prover tudo o que precisamos para estarmos bem. Não
existe uma fonte única. Mas eu quero ser uma das fontes que enchem o seu copo.
Eu me sinto responsável por você. Eu sinto vontade de me doar, me dar. Porque sou extremamente egoísta e você me faz MUITO bem. Você
me faz ver a vida com olhos mais maduros, mais humildes, mais reais. Está aí,
sempre te digo que gosto de você porque você é REAL. Um menino diferente cheio
de defeitos e envolvente, encantador.
O meu
pedido para você é para fazer parte da sua vida, fazendo o que você me ensinou,
esquecendo o “se” (tenho tentado muito, tenho meus defeitos, receios, tenho
dúvidas, depressão, raiva, tristeza, etc). O “se” não serve para nada, apenas
para invocar o medo, a insegurança e trazer culpa. O meu convite para você é
para sairmos do “modo automático” e quando estivermos juntos, virarmos a chave
para o manual. Sermos juntos o movimento capaz de complementar a nossa rotina.
Nada
está escrito na pedra, algo que fazemos bem juntos, é irmos escrevendo nossa
história, dia a dia, às vezes voltamos, apagamos, reescrevemos, corrigimos a
rota e seguimos.
Vai
durar um ano? 7 anos? ou 15 anos? Não sei. Não me importa.
Se tudo
terminar imediatamente após o envio desse email, ok.
A
sensação de ter valido a pena, já é por si só, suficiente
Ass: Lisa