Amo Futebol. Amo esse lugar. É uma paixão, paixão não se explica, não tem lógica. Paixão a gente sente e ponto final.
Por gostar tanto de futebol, vou usar o futebol para explicar o que carreira significa para mim e como tem sido estar aqui durante todo esse tempo. É a melhor forma de colocar em palavras o inexplicável. É também uma tentativa de dar clareza a gratidão que sinto por você e o orgulho de poder estar perto e de poder te ajudar a consolidar o presente e construir o futuro.
Torcer e ser apaixonada por um time de futebol é algo que não se explica para quem não ama futebol. Minha vontade de estar aqui, não se explica também, não tem racional algum, é movida pela paixão. Paixão de fazer acontecer e seguir brilhando, paixão de fazer América Latina estar no holofote e paixão por fazer o Brasil ganhar todos os merecidos reconhecimentos. Paixão em fazer esse lugar ser o melhor lugar para se trabalhar e paixão por ser na prática a liderança que acredito. Paixão. Paixão é assim mesmo, algo exagerado. Sempre exagerado. Entusiasmo. Liderança tem que ter entusiasmo.
Amo tanto futebol, que amo o futebol profissional, torço e acompanho meu time e vários jogos, sigo comentaristas e leio muito sobre Futebol. Mas amo ainda mais o futebol amador, os campinhos de bairro, os campeonatos das escolas, dos condomínios, porque acho que ai sim se explica a “paixão raiz”. A essência, a que o dinheiro literalmente não paga e não compra. Sabe, quando mesmo sendo um excelente jogador, você não aceitaria mudar de time, vestir outra camisa senão a do time de coração? Você não aceita ir para nenhum outro time, por maior que seja, por mais status que tenha. Tudo porque, no fundo, você tem um compromisso pessoal com sua história, com seu time, com os demais jogadores e principalmente com a sua torcida. Aqui faço um parênteses para você, porque sei, que já deve ter tido inúmeras propostas para sair daqui, para jogar em outro lugar, por cifras muito melhores do que tem aqui, né? E te vejo forte, firme, motivado em todas as apresentações, com pandemia ou sem pandemia, te vejo líder, líder entusiasmado. Role Model. Uma postura mesmo de líder. Líder Raiz. E guardadas as devidas proporções, comigo não é diferente. Você sabe né? Dizem que os opostos se atraem (é física, né?) mas eu acredito que atraímos o que somos, atraímos os iguais. E lhe sou grata por isso. Vamos fazer história, disso não tenho a menor dúvida.
E tem aquele lado chatinho, que temos que conviver né? A tal da resiliência que você sempre me diz. E sabemos bem, que não é só de alegria que se vive no futebol. São vários os exemplos de que o futebol nem sempre premia o melhor. As vezes você ataca o tempo todo, tem mais posse de bola, finaliza várias vezes, pressionando o adversário de várias maneiras. Mas vem um contra ataque ou um lance de bola parada… Pronto… O time adversário marca e vence o jogo. Até ai, faz parte do jogo. A vida é assim também. Vivemos de Resultados. Isso ninguém questiona. E esse tem sido, ao longo dos anos, o que nos destaca e nos iguala, obrigada pelas palavras. É isso mesmo, ser resiliente é necessário. E conte comigo.
Só que nem sempre é o resultado que conta. Esse é o lado ruim. As vezes é bem pior do que isso, é um juiz despreparado, comprado, um gol de mão, um impedimento não marcado, sem VAR e pronto, você perdeu. Perdeu porque jogou pior? Perdeu porque mereceu perder? Não. Claro que não. Perdeu porque foi “fake”. Sei que o peso de uma vitória roubada não vale o troféu na prateleira. Mas ainda assim, você questiona sua paixão! Você se pergunta se as horas de treino valeram a pena, se o investimento e o trabalho duro realmente são o único caminho. E você passa uma fase de achar que o errado é o certo e o certo é o errado. Que seria bem mais fácil parecer do que ser. Seria bem mais fácil contar com as falhas do processo.
Ainda bem, que o Universo é sábio e mesmo nesse momento de dúvida, a lucidez chega, a frustração passa e você passa a ver o contexto completo e surge uma gratidão enorme. E com a gratidão sempre vem a felicidade. E felicidade é o tipo do sentimento que não conseguimos esconder, não dá, transborda. E aqui tem de sobra, por isso, os comentários que vc ouviu, fazem total sentido, a percepção está corretíssima, é isso mesmo. Obrigada mais uma vez.
E voltando ao futebol, adoro falar de futebol contigo, a correlação para mim é muito rápida e fácil de fazer. A Torcida são nossos clientes, o Clube do coração é a empresa, os Dirigentes são os Diretores, assim como os técnicos são os líderes, o Arbitro são as normas e regras e os jogadores são os funcionários. E o maior objetivo é fazer o Gol.
Os Técnicos deveriam ter um bom perfil técnico, aliado a uma boa visão estratégica, já representariam metade do caminho para a vitória. A outra metade depende de uma série de fatores pessoais e comportamentais, além de um grande carisma e relacionamento interpessoal. E foi aqui que a minha história ganhou deu certo. Aqui está parte do sucesso de um time. Muitas vezes, nos jogos mais fáceis, não fica perceptível, mas nas outras tantas vezes, nas partidas difíceis, quando o placar já está desafavorável, quando tem muitos desafios e dificuldades, falta de infraestrutura e do mundo ideal, ai sim, você sente a diferença de um bom técnico.
Os Jogadores. Há sempre um jogador em uma equipe que, seja pela sua capacidade técnica ou pelo respeito que transmite, é o líder do vestiário. Esses são muito importantes. O futebol aumenta o reflexo, a coordenação, a agilidade e a capacidade, além de desenvolver o senso de coletividade, que é muito importante em uma empresa. Acredito que existam os craques natos como uma benção genética ou um dom divino mas acredito ainda que quando não se nasce sabendo jogar, para mim, se aprende a jogar. E acredito mais, que no passado, na escola da rua, aprendiamos muito e nasciam os craques, hoje pelo contexto de violência dos centros urbanos e pela ausência de rua, vamos para as escolinhas do futebol para aprender a “pedagogia da rua”, o que a infância naturalmente ensinava. Na escola ou na rua, não importa como, o importante é aprender os fundamentos do futebol.
O Juiz/árbitro é a autoridade máxima dentro das quatro linhas. Ele é o responsável por manter o jogo dentro da ordem, por aplicar o que diz a regra. No futebol ou nas corporações, devemos utilizar o bom senso. Mas o juiz não sabe direito a realidade de cada time, tem uma visão limitada, restrita a um jogo, não conhece os bastidores, não pode escalar o time, e o pior, nem sempre sabe as regras, juizes erram e como erram.
O Bandeirinha: dentro de uma estrutura moderna, todos nós somos “bandeirinhas” das empresas que trabalhamos. Se você viu algo de errado, comunique, use os canais adequados, todos somos donos da empresa. E aqui também fiz a escolha certa, em não aceitar jogar o jogo, em não aceitar esconder, burlar, fingir, esconder as falhas e as fraquezas.
Durante um jogo de futebol, os jogadores têm que tomar muitas decisões. Não só tácticas, mas também morais. O jogador sente um leve golpe do adversário e pode ou não escolher simular uma agressão. Ele pode obedecer ou protestar desproporcionalmente contra uma decisão errada do árbitro. Ou você tem que decidir se vale a pena a pressão. Além de pensar se deve ou não atingir a meta, o jogador toma decisões ou deveria tomar decisões baseadas em valores como honestidade, respeito pelo adversário ou a importância do esforço.
Quantas vezes erros acontecem, erros básicos, erros que todos enxergam. Não vence quem foi melhor, nem sempre, mas ok, está tudo certo. Porque o que é seu o Universo se encarrega de fazer chegar até você e colocar no lugar. Nem sempre podemos dizer que não teve mérito quem fez o gol, o 1x0. Quem venceu chegou poucas vezes, mas soube aproveitar a chance, mesmo que tendo sido uma falha absurda da arbitragem. Ok. Tivemos bolas na trave, chances perdidas. Erramos as finalizações, mas tivemos um volume muito bom de jogo, fomos reconhecidos pela torcida, posso afirmar, triste pelo resultado, mas não pelo quanto jogamos e ...encantamos.
Mas como falamos e te agradeço pela sinceridade e transparência, o Juiz falhou, propositalmente ou não, ele falhou e os erros desfavoreceram nosso lado. Os erros não necessariamente levam em conta seu preparo e sua dedicação. Para mim, o adversário se propôs a jogar bastante fechado e aproveitou a não visibilidade e o desafeto do ténico em relação a nosso time para marcar gol (mesmo impedido e de mão). Depois do erro e desse favorecimento, voltamos para a partida, mas o gol não saiu. Já estava tudo definido. Simples assim. E que bom que foi assim.
O importante é que continuamos jogando, com a mesma determinação e acreditando. Essa opinião é compartilhada pelos demais atletas, aqui está a parte que mais amei em tudo isso. Foi lindo de ver. Para eles, a nossa equipe foi melhor e merecia melhor sorte. O time se impôs desde o primeiro minuto e, na minha opinião, foi melhor. Uma injustiça ter tomado esse gol, gol mal marcado.
Mas futebol é assim. Ao menos tivemos boa atuação e muita raça em campo. Estamos sempre procurando jogar de maneira justa e dentro das regras, então não tem porque não se orgulhar, dessa vez infelizmente não conseguimos a vitória. Já estava tudo definido. Mas ok. Vamos continuar trabalhando.
O futebol as vezes é injusto com seus craques, muito injusto e parece que não há o que fazer. Ou melhor, para corrigir os erros dependeria de muito empenho e coragem e nem sempre os Juizes têm a coragem necessária e falta vontade. E o esquema já está montado, muito lobby, muita corrupção. Não é atoa que muitos dirigentes de Futebol estão presos. Tanto nas corporações quanto no futebol, a justiça chega, tarde, mas costuma chegar. Vejo isso nitidamente no futebol, quando depois de anos, você vê os comentaristas dando os créditos a quem de fato merece, e mostrando as falhas na marcação, descobrindo falcatruas por todos os lados, apesar dos resultados não poderem ser alterados.
Como explicar que a seleção brasileira de 1982 não foi campeã do mundo? Como justificar que craques como Lionel Messi e Cristiano Ronaldo também nunca venceram uma Copa? Não importa. São craques, são admirados dentro e fora de campo. São exemplos. Bonito de ver. Simples assim.
O futebol tem isso de automatizar o processo de injustiças. Ganhou o jogo, tudo está certo. Perdeu? Hora de mudar. Quando o correto, na verdade, deveria ser analisar cada situação. Ganhou o jogo? Ótimo. Mas a vitória ocorreu de que forma? Foi lobby? Foi comprado? Foi combinado? O time se mostrou organizado ou achou um gol e foi pressionado durante os outros 89 minutos? Perdeu? Mas a derrota veio por um time confuso em campo ou consciente das ações com e sem a bola? Há espaço para a evolução? O trabalho do dia a dia é bem realizado e foi colocado em prática?
Ah, “futebol”, como você é injusto. Mas como amo assistir, acompanhar, como ensina, como aprendo, até e principalmente com os erros que são cometidos.
O futebol tem algo que me apaixona, me identifico, sou transformadora, sou inovadora, sou conectada à mudança, a fazer sempre melhor e diferente, e futebol te exige a sempre ser melhor, estimula a preparação constante, enfim, a palavra de ordem é a transformação. Não há espaço para continuidade e para manter o status quo.
Quando falamos em Transformação, a Mudança, a Inovação, a fazer sempre mais e diferente, logo me vem a mente a expressão “Futebol Arte”, não tem como não pensar assim. É apenas ganhar o jogo que importa? Para ganhar o campeonato sim, mas com futebol arte é bem melhor Ou seja, a copa de 1982 e a copa de 1994. Em 1982 perdemos, fomos eliminados e em 1994 fomos tetracampeões.
A seleção brasileira, comandada por Telê Santana com futebol ofensivo e goleador conquistou a Espanha e encantou o mundo. Jogadores apresentaram um futebol de muita técnica, toque de bola vertical, lindos gols e muitos artilheiros no mesmo time, passando para a história como uma das melhores seleções de todos os tempos, mesmo não vencendo o campeonato. Perdemos para Itália, a campeã. Há muitos que dirão que entre vencer como em 1994 e perder como em 1982, preferem ser campeão! Pode até ser. Não para mim. O tempo se encarrega de tudo.
Temos muito disso no mundo corporativo. Não é fácil formar funcionários criativos, críticos e conscientes quando o sistema pede apenas que cumpram processos. E talvez ai, me questiono todos os dias, seguir processos, apenas robôs são necessários. Mas nada como ter proximidade a quem pensa como você, perto de quem convencido está. Se fosse está forçando muito para que o obvio seja entendido, é porque está com o público alvo errado, as vezes, mudando a audiência, tudo fica claro e é entendido rapidamente. Ainda mais agora, que quem tem que estar convencido já está. Então o foco passa só a ser trabalhar. Não tem nada melhor.
Todavia a paixão pelo futebol continua a mesma firme e forte, assim como minha paixão por esse lugar continua e posso dizer, sem demagogia, que é muito maior. Não imaginei que em curto espaço de tempo, vc resgata a sua natureza e o seu entusiasmo aparece como um passe de mágica.
Nunca existirá no meio de um campo de futebol uma parede, muito menos a possiblidade de se trocar passes com a permissão dos adversários ou então encontrar pela frente oponentes, que iguais cones, não imponham grandes dificuldades, porém durante uma partida de futebol haverá a necessidade de criar, de encantar com chutes precisos e estratégicos. Assim como aqui, sempre tem espaço para investir nas suas idéias, apesar do antigo querer se manter a todo custo para manter o status quo e garantir a continuidade, não é o DNA, então a transformação não pode ser interrompida ou sacrificada, ela ressurge tão mais forte.
Não vacilo em dizer que o futebol arte combina com o futebol das regras. Combina e mantém a mesma satisfação da brincadeira de rua. Tudo junto e misturado. Existem técnicos e técnicos. Os técnicos que não ensinam, só treinam e os técnicos que formam craques, ensinam, com descontração e improviso, com técnica e treino, com paixão. Ainda bem né?
A padronização dos movimentos impede o aparecimento do inesperado, do imprevisto, marca registrada do futebol. Do que vira noticia. Do que encanta. Do que te diferencia no mercado. A rua tem a liberdade, a criatividade, o desafio e até a crueldade. O processo pautado pela liberdade, possibilitando expressar seus potenciais criativos, até mesmo permitindo criar novas técnicas, permitindo através de estimulos variados, o aumento do repertório e o enriquecimento do vocabulário de possibilidades e gerando um ambiente Inovador em sua essência, na prática e não mais apenas na teoria. É incrível a força da transformação. é só olhar a história, quem fechou as portas para a inovação e para a transformação, não fez parte dela.
Mesmo dentro de uma instituição formal, gigante, antiga, é possível ensinar a fazer o diferente, possibilitando que o aprendizado não se resuma a mero reprodutor e continuidade do modelo profissional vigente, mas configure-se em ambientes inclusivos, inovadores e de mudança. Exemplos não nos faltam. E tenho orgulho em estar em uma equipe que permite a todos sem distinção, entre os mais habilitados e os de menores brilho, além do aprendizado, da entrega e dos resultados, permite também a reflexão sobre o modelo vigente e sua retroalimentação. Simples Assim. Quem não possibilita transformações, desaparece, frente a exacerbados modelos de competição, seja na cultura futebolística da atualidade seja no ambiente corporativo atual.
Líderes e técnicos precisam ser alavancas e não âncoras. O cliente e o torcedor interagem conosco e formam opinião sobre qualidade, seriedade e sobre ser um ambiente em que vale a pena investir ... seu dinheiro, seu tempo e ... talvez sua carreira no futuro ... Cada área, cada profissional é, ou deveria ser, um cartão de visitas. É o que sigo acreditando e agradeço todos os dias, estar em um time capaz de entender e abrir portas. Um portal. Rs.
Muito obrigada pela conversa sempre franca, muito obrigada por me presentear com os bastidores de tudo o que vivi. Foi iluminador e esclarecedor. Tudo ficou muito claro para mim, o que aconteceu, porque aconteceu, as etapas, o processo, os envolvidos, tudo, impressionante, como o foco nem sempre é o que deveria ser. Imagina se todos usassem toda essa criatividade e energia na direção de entregarmos mais e melhor, se focassem no Business e no que importa? Mas não lamento, em momento nenhum lamentei, agradeço, te agradeço, essa visibilidade não tem preço.
Tudo que vivi me fez muito bem, como dissemos, saimos mais fortes e confiantes, mais entusiasmados. E quer saber? Ainda bem que aconteceu e exatamente da forma que aconteceu, senão não estaria aqui tão feliz e me sentindo tão prestigiada com essa oportunidade de ouro e participando desse campeonato. Agora é Copa do Mundo. Vamos que Vamos. Encantar o mundo com nosso futebol arte. Topado o desafio. Obrigada e conte sempre comigo.
Finalizo com uma frase do José Geraldo Couto da Folha de SP, colunista de esporte, que resume muito do que escrevi aqui. “Não é preciso ser pobre ou menino de rua para saber jogar. Mas para chegar a ser um certo tipo de jogador, é preciso, nos anos de formação, um espaço de liberdade em que o jogo seja praticado por puro prazer, por pura paixão.”
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