A caminhada de cada um de nós é muito interessante e faz super sentido quando analisamos de perto, não é verdade? Tudo que acontece ou aconteceu, acontece sempre na hora certa, exatamente no momento em que precisava acontecer e emergir. É inacreditável,
É assim mesmo que funciona, tudo vai fazendo sentido, vai acordando o que tem que ser acordado, te distancia do que não mais faz sentido e te aproxima do que é necessário. Apreciar a viagem para mim é exatamente isso, se maravilhar com o protagonismo que sempre esteve em você e com o roteiro que parece ter sido escrito sob medida.
Claro que os problemas, as dificuldades, os desafios e muitas injustiças no meio desse caminho, poderiam não ter acontecido, da forma que aconteceram, talvez acreditemos que poderíamos ter ficado sem isso e ficamos nos perguntando porque esses fatos foram necessários e porque fomos os escolhidos. Bem vindos! Não sei dizer, talvez para entender a jornada inteira e a lógica por trás de tudo isso, há que se estar em outro plano, em outro lugar e em outro momento. Tem um certo mistério, sempre! Mas olhando pedaços do todo, e a cada dia, juntando as pecinhas, o quebra cabeça inteiro toma forma e vai te mostrando a imagem. Não é? As injustiças vão deixando de ser figuras e vão virando pano de fundo e o que estava ali escondidinho emerge com força total e se transforma em figura. Muito louco pensar em tudo isso.
Mas me parece que o Universo tem um algoritmo muito bem elaborado, complexo na verdade, não dá para ser decifrado assim facilzinho, não é óbvio mas sempre nos damos conta da genialidade do Universo. Nesse sentido, sinto-me privilegiada, por ter sido escolhida e em muitos momentos da minha vida, por ter passado de fase e por ter vivido várias situações, críticas no momento em que foram vividas, mas que só fortaleceram e trouxeram a certeza da necessidade de terem sido vividas e vividas da forma que aconteceram.
Sem romantizar todos esses anos e toda essa jornada, mas principalmente focando no sentimento de gratidão inerente a todo o processo, passei por dias nublados e, muitas vezes, em uma jornada solitária, mas dias nublados intercalados com dias muito ensolarados e com muito apoio, crescimento, suporte. Grandes descobertas. Pude me deparar com o que há de verdadeiro nesse mundo (se é que o mundo corporativo tenha muito de verdadeiro em seu DNA, rs). Como a vida é fantástica. Toda essa mistura, com a garantia de que foi na sequência perfeita e na dosagem certa, eu sempre chamo de “alquimia perfeita”. Posso dizer que foi a receita para tudo que foi alcançado depois, cada ingrediente, sem tirar nem pôr. E aqui faço um parênteses para lembrar de uma das frases dele: “não vou te pedir para mudar nada no seu jeito, até poderia fazer algumas pequenas correções na forma e na abordagem, mas nunca no conteúdo. Mas ainda assim não vou pedir, não seria justo com você, porque foi esse conjunto todo que me fez enxergar essa profissional e ter a certeza que você tem a cara desse lugar”. É aquele momento woooh, então a gente se dá conta que poderia ter sido de outro jeito, até chegamos a torcer e pedir outras coisas, mas talvez não te trariam no mesmo lugar, nesse lugar. Aqui nesse momento em que você está em sua melhor fase, estar podendo “entregar” o seu dom, o que você veio aqui para realizar. É uma daquelas coisas que “não tem preço”.
O sentido que emerge todos os dias é a gratidão, sempre grata ao Universo. Genial. Hj, mais do que nunca, estudante de psicologia, posso dizer que foi uma combinação perfeita, escapar de várias armadilhas e várias maldades que poderiam ter uma finalização muito nociva e prejudicial, não só a mim individualmente mas ao coletivo, a todo um grupo. São detalhes que se tornam enormes e fazem a diferença. Não, não tem nada a ser mudado, nada, nada teria que ser diferente, hoje comemoro, comemoro a dosagem perfeita, a claridade e toda a proporção tomadas me fizeram muito maior e tem sido um grande exemplo para muita gente.
Para mim, escrever (que é o mesmo que falar para muitos) é uma forma de resistência. E sempre inspira os demais. Agora estudando tantos comportamentos, com afinco e zelo, e estudando tantos temas ligados às questões psicológicas do ser humano, tem sido ainda mais enriquecedor, usar vários acontecimentos, como exemplos reais de patologias e questões psicossomáticas e conceitos relacionados ao estudo da mente humana, é uma das melhores viagens que me aconteceu nos últimos anos. Normalmente vamos da teoria a prática, mas minha jornada agora tem sido exatamente o contrário, tenho ido da prática (longa prática, longos anos) a teoria. Fantástico! Nesse sentido o aprendizado tem sido conectar o que já se sabe e com uma riqueza de detalhes que flui rápida e intensamente. Tendo feito muitas associações e descobertas em um curto espaço de tempo, não posso mais fingir que eu não sou a pessoa certa, não cabe mais a falsa modéstia, infelizmente. Para alegria de muitos e até tristeza de alguns, o resultado salta aos olhos e espero que eu esteja dando a contribuição necessária. Estão sendo meses de muito aprendizado e muito crescimento e tudo isso tem sido um presente na minha vida profissional. Na vida pessoal também, hora de colher os frutos de todo um plantio, hora de poder também afirmar com todas as letras que o amor é o único e grande objetivo de tudo isso. Deu Certo! Simples assim!
Como sempre digo, todo ser humano tem condições de ser seu próprio analista, a mais pura verdade. Fácil não é, mas é possível. E sempre, nas aulas, nos trabalhos em equipe, nos congressos, dou muitos exemplos e aterrizo a teoria, gerando sempre discussões muito ricas. Estou começando a me controlar, porque pareço criança quando ganha presente novo. Rs. Pouco a pouco, a história vai se completando de uma forma tão precisa e madura, tão detalhada e coesa, que tem me permitido avançar muitos degraus e de maneira rápida, nessa jornada e nessa carreira em Psicologia. Incrível a força que tudo parece ter quando, de fato, precisa acontecer. Agora é o aprofundamento de tudo que foi vivido e com o devido distanciamento, com cautela principalmente. Calma, como se diz sempre. É empoderador, mas tem que se ir com calma, muita calma nessa hora. Não se pode medir rapidamente e superficialmente o que nos passa e mais, não se pode medir no momento exato em que acontece e sendo uma das personagens, porque sempre corremos o risco da interferência e nos misturarmos, analista e analisando. Tudo junto e misturado.
A completude do processo e a riqueza de todos os detalhes e como eles se conectam, dentro e fora, no ambiente e em várias áreas correlacionadas, nos vai permitir passar por pontos importantes da mente humana. Lamento ainda algumas pontas terem sobrado e estarem ainda desconectadas e a mentalidade ainda persistir e iludir, principalmente, os que são mais “desavisados” e desconectados da transformação que estamos protagonizando. Mas enfim, trata-se de um processo, e como tal, não teria como se diferente. Seria utópico dizer que está concluída a mudança, a que se planejou com tanto afinco. Somos a mudança, é algo vivo e constante. Um processo dinâmico ainda em curso. Alguns sempre ficam pelo caminho.
Muitos me abordam e pedem “ajuda”, acho que nesse momento precisam ser ouvidos, entendidos de alguma maneira e acolhidos talvez. Eu invisto no distanciamento, na distância saudável. E aqui entra a parte humanitária, esse botão interno que emerge nos bons e que hoje é muito lúcido para mim (nada como dar o nome exato ao sentimento, é um empoderamento também). Então minha única proposta tem sido, deixá-los se expressarem, simplesmente falarem o que vier a mente, uma associação livre. Claro que com tudo isso, sinto-me também muito grata por ser tão reconhecida e mais ainda, por fazer algo concreto pelas pessoas que ainda estão envolvidas e ser para elas, não só uma escuta ativa, como também um exemplo do que não se deve permitir e a certeza de que deve-se sempre posicionar.
Nesse reino, essa menina que tinha o papel de líder foi se apropriando de tudo e “intoxicando” tudo ao seu redor. Parafraseando um livro que li na infância (“o menino do dedo verde”), digo que era a menina do dedo cinza. Por onde passava, as cores se transformavam em cinza. Rs. A menina monocromática. E ai de quem falasse que estava tudo cinza, todos tinham que seguir afirmando ver as cores. Posso enumerar muitas características e atitudes danosas, como a capacidade de fazer os outros acreditarem em um discurso falso, inventando situações e respostas para justificar suas maldades ou mesmo a capacidade de enganar tantos e por tanto tempo com uma generosidade falsa e com um comportamento em frente as pessoas e outro muito diferente por trás. Mas a pior delas, se é que dentre um catalogo tão vasto de maldades, eu possa eleger a pior, mas eu diria que foi a eliminação das várias pessoas que ousaram discordar ou questionar os desmandos. Os eliminados são os que eu chamo de “acordados” (que viam e discordavam) ou “distraídos” (que não viam, mas distraidamente acabavam discordando e, claro, incomodando).
Logo cedo, percebi que tinha alguma coisa errada ali. A primeira conversa, que durou exatamente 2 horas, nada objetiva, manipuladora, foi para mim o gatilho e sou extremamente grata, esse gatilho inicial, e logo no primeiro contato, foi a minha proteção. Nessa conversa, o que mais me chamou a atenção, foi a ausência de conteúdo, como uma conversa, eu recém chegada, onde se tem tanto a dizer e explicar, poderia ser tão vazia de sentido e de conteúdo? Posicionamento que demostrava total falta de influência e relevância e total desconexão com o mundo lá fora e com tudo que se ouvia das lideranças, dos clientes internos e externos. Sem conteúdo, abordagem manipuladora, enfatizando muito o quanto eu não tinha as características e perfis necessários para o cargo que estava sendo ocupado, a super valorização de si mesma. Uma fala prolixa, confusa, argumentos fracos, solicitação de tarefas subjetivas e sem nexo algum, logo observei uma fala muito infantil, em que se quer algo que não se sabe precisar exatamente. Percebi também muita insegurança em relação a sua própria relevância e capacidade técnica. Qualquer comentário que eu fazia, era sempre seguido de uma pergunta, porque você está dizendo isso? Logo no inicio, no meu primeiro, já fui comparada com meus pares, sempre reforçando o quanto eu era muito mais júnior que todos os demais. Logo de largada já liguei o meu radar de que eu estava lidando com uma pessoa muito despreparada ou então muito malvada. Uma sensação muito estranha e uma primeira impressão muito ruim. Nesse momento, preferi não formar nenhuma opinião precoce, se era apenas uma liderança boa em um dia ruim, ou se era uma liderança ruim, acho que sempre avaliamos os outros com os olhos da nossa própria bondade, resolvi acreditar na primeira opção. Doce engano. Hoje sei que a estratégia sempre foi dar um ar de ingenuidade e pureza, talvez até despreparo, mas ao longo dos anos, foi se mostrando uma pessoa articulada e capaz de planejar a maldade de maneira sistêmica e sempre minando as qualidades das pessoas, colocando todas como fraquezas. Ou seja, se você é preocupada com as pessoas, é fraca e coração mole, se você é generosa é insegurança, se você escuta é porque não consegue protagonizar a fala, etc. Distorcendo, mistura a figura e o fundo, confundindo, manipulando ... abusando.
Logo identifiquei do que estamos falando e logo me dei conta de que não seria nada fácil seguir a caminhada, pós identificação desse contexto. Costumo chamar pessoas assim de monstros, gênios malignos ou coisa que o valha. Mas me contive no inicio, porque a maioria das pessoas envolvidas estava sendo alvo e estavam totalmente cegas dentro da cena. Falar algo ou tomar alguma atitude brusca chocaria muito, poderia ser mal interpretado naquele momento e poderia ser algo que inviabilizaria minha permanência.
Paciência foi uma das muitas “armas” que utilizei. Hj, já na psicologia, sei que não tinha um “monstro” diante de mim, hj considero que me deparei com uma doença, ou melhor, deficiência, ausência cognitiva, uma patologia, uma psicopatia. Sabemos que 1 a 3% da população brasileira tem esse transtorno. Dessas, poucas seriam violentas. A maioria não comete crimes, mas deixa as pessoas com quem convive desapontadas e o estrago emocional costuma ser grande. Essas pessoas andam pela sociedade como predadores sociais, rachando projetos de vida, sonhos, se aproveitando de pessoas vulneráveis, destilando maldade, buscando poder e status de maneira desordenada e sem se importar com a forma, do tipo os fins realmente justificam os meios. E claro, no ambiente corporativo, deixando várias carreiras vazias por onde passam.
Era uma pessoa simpática (uso esse tempo verbal, porque enfim estou livre e não pretendo nunca mais estar próxima a ela), era uma pessoa “legal”, contava histórias envolventes e tinha um sorriso ou um tom de voz que deixava qualquer um confortável. Doce. Muitas vezes, distraída, calma e inofensiva. Como pessoa, parecia até, de certa forma, aplicada e dedicada. Logo no inicio da convivência, já percebi que não era o que parecia, ou tentava parecer aos olhos de muitos. Percebi que se esforçava muito para passar uma imagem de pessoa do “bem”, generosa e preocupada com todos. Rapidamente, vendo em mim, alguém que a tinha identificado corretamente, já se mostrou exatamente como era. Era bastante falsa, tinha atos estranhos, comentários negligentes, na verdade, fingia negligência e descaso com seus desafetos, os que estavam na lista como ameaças a serem eliminadas. Sempre, com quem se “opunha” ou se mostrava mais competente e capaz de atrapalhar a sua liderança, era implacável. O que mais me chamou atenção foi a capacidade de convencer qualquer um, pelo menos ali naquele contexto, de uma falsa generosidade, e o, principal, a ausência total de remorso ao prejudicar a carreira e a saúde mental de muitos.
Para mim, que estive muito perto e com interações frequentes, era muito fácil perceber. A cada dia mais características me saltavam aos olhos e tudo fazia sentido, como todo o conteúdo que passei a estudar sobre o tema. Para os demais não. Isso porque os psicopatas não têm crises como doentes mentais: o transtorno é constante ao longo da vida, eu diria que em doses constantes e homeopáticas. Passam até uma imagem de coerentes e equilibrados em alguns momentos. Mas para quem olha, mais detalhadamente, algumas características, no entanto, são tão evidentes. Ainda não tenho a formação de psicóloga e não pretendo, como simples estudante, montar uma perfil psicológico, eu não seria assim tão irresponsável. Meu intuito aqui é passar por algumas características dessa pessoa e que foram para mim uma certeza de que estava lidando com uma pessoa muito nociva e prejudicial e que eu precisaria me cuidar para não ter nenhuma sequela mais grave ou nenhum impacto emocional maior. Sempre quis apenas sair ilesa de tudo isso, mas sempre pensando em “salvar” todos os demais, nunca considerei apenas me salvar, como muitos me sugeriram. Tinha já virado uma causa. Tinha acordado em mim, a paixão por psicologia, que sempre tive como meu plano B de carreira. Psicologia sempre foi minha segunda paixão, perdendo apenas para tecnologia. Então tudo isso, fez acordar esse gigante dentro de mim.
#1: A primeira característica que percebi, foi a propensão à
Mentira. Todo mundo mente, mas psicopatas fazem isso o tempo
todo, com todo mundo. Inclusive com eles mesmos. Essa pessoa usava e abusava de termos
técnicos de conhecimentos que fingia ter, mas era só insistir em algumas
perguntas para ver o quanto não era real. E foram muitas mentiras, muitas que,
contadas repetidamente, passavam até a ganhar um certo ar de verdade. Depois
que descobri as mentiras que ele me contou, temas diretamente relacionadas comigo,
passei um tempo me perguntando como tinha sido tão burra por acreditar naquilo
em um primeiro momento. É um sofrimento para as pessoas que convivem com
líderes assim. O pior é que essa pessoa
não achava que estava fazendo algo errado, dizia que omita coisas e não mentia,
e sempre dizia, friamente, que queria fazer o bem para sua equipe. Entendo
omissão por deixar de falar algo, no caso dela eram mentiras mesmo. Eu comecei
a perceber que era patológico, porque além de mentir, ela não achava que estava
fazendo nada errado, mesmo ao pegá-la em inconsistências, muitas vezes, eu
ressaltei a mentira para que ela se explicasse e ela, mais uma vez, recheava as
conversas com novas mentiras, um ciclo insano. Eu diria patológico mesmo. Logo
percebi que não falaria nunca a verdade e que esse caminho de fazê-la enxergar
sua falsidade seria em vão. Além das mentiras pensadas e articuladas, aqui, já
me aprofundando no tema, observei muitos “atos falhos”, sempre observava o
conteúdo e o momento em que apareciam, porque os atos falhos dizem muito. Atos
falhos são manifestações do nosso inconsciente, fruto de nosso desejo e vontade
ou da intenção de reprimir e esconder. São excelentes dicas e “pistas” para os
analistas de plantão, no caso “euzinha”. rs
#2: Outra característica que me saltou os olhos, foi tratar
as pessoas como “coisas”, como se não fossem pessoas, com medos,
com necessidades, com demandas e dificuldades. Eram apenas peças, nas reuniões
reduzidas, ai sim ficava tudo muito nítido, como eram apenas poucas pessoas,
tudo ficava mais intenso e nítido, não precisava posar, havia um relaxamento e
aparecia muita coisa. Gostava de chamar as pessoas de “peças” em um tabuleiro. Como um grande jogo.
Sendo que essa frase, sempre era usada mesmo por ela: “tenho que mover algumas
peças no meu tabuleiro”. Chamou minha atenção esse jeito asséptico de ver o
mundo, faz com que um psicopata consiga mentir sem ficar nervoso, sacanear os
outros sem sentir culpa. Muitas vezes eu percebia a maldade pela maldade em si,
para ela especificamente, em algumas situações, nem ganho real essa pessoa teria
com tal ato, mas era a maldade pelo prazer da maldade em si e para se sentir
liderando a situação ou pela sensação de “poder” que julgava ter. Gostava de
ter essa sensação de “poder” manipular as pessoas da forma que achava
conveniente.
Mesmo quando eu já tinha essas duas características dessa
pessoa muito mapeadas, ainda assim, eu tinha dúvidas. Em alguns momentos, eu
voltava no enunciado, para ter certeza de não estar sendo imediatista na
solução. Lidando com um psicopata sempre achamos, no inicio que estamos
equivocados e, por fim, se não estamos
exagerando. Minha certeza veio, quando ela se conectou com outra pessoa
igualmente má do time e a escolheu como sucessora. Foi um casamento perfeito,
como essas duas pessoas se entendiam e concordavam. De todos os integrantes do
time, talvez, essa pessoa, escolhida por ela, era a que se destacava por ter a
maldade nata e pouca preocupação com a sua imagem ruim mediante todos. Já era
conhecida do time e tinha muitos apelidos, acho que posso citar “monstro”,
porque era o mais carinhoso deles. Rs. E quando a conexão entre as duas se
consolidou, foi como unir a fome com a vontade de comer. Foi uma explosão. Ela
de fato encontrou um capataz para realizar sua maldade, sem dó, e, ainda com
isso, podendo manter sua imagem de boa pessoa, porque tinha delegado a maldade
e a tortura a outra pessoa.
Foi ai, que todo o ambiente começou a ficar insuportável, e
eu considerei pela primeira vez “desistir”. Nas reuniões executivas que eu
tinha que participar, estava a “dupla dinâmica” e, portanto me exigia uma dose
de proteção divina e de blindagem para não me afetar e nem me contaminar. Estar
nesse “seleto” grupo me chocava, a cada reunião, ver as colocações e a frieza
no que tange a maldade, sempre me chamou a atenção, a maneira de se expressar
ao tratar as pessoas, a formar de conduzir a equipe e as “mentiras combinadas”
que seriam ditas e, o pior, agora era tudo em dose dupla. Pensando em desistir
e diante de uma quadro patológico, comecei acreditar que não era para amadores
e que eu não teria o poder de sair do outro lado. Foi ai que recorri novamente
aos Universitários. Em um outro café, momento que me recordo cheia de gratidão,
relatei tudo, com riqueza de detalhes e foi mágico. Depois de muitas
considerações que reiteravam minha “missão” em salvar esse time, concordei em
me manter presente e confiar que a justiça aconteceria e libertar todos em um
futuro próximo. Libertar é o verbo certo, porque lidando com psicopatas estamos
realmente reféns, é como um cativeiro. Renovei minhas forças e as esperanças e
novamente segui em frente, não estava sozinha, muito pelo contrário, tinha o
patrocínio certo.
#3: Uma terceira característica que também percebi é o fato
de nunca estar conectada a realidade, em se viver em um mundo totalmente
paralelo. Esse Espírito sonhador (vou chamar assim, parece até
algo bonito, mas não é), de viver com a cabeça nas nuvens, mesmo se a situação
do time estiver miserável, essa pessoa só falava sobre as “glórias” que o
futuro nos reservava ou suas “ilusórias conquistas”. Mas nem as glórias e nem
as conquistas eram reais, eram fruto de um sonho maluco, como se tivesse obtido
relevância e consideração, como se todos estivessem bem e como se o ambiente
fosse extremamente saudável, mas nunca o foi. Conquista e Glória de “fachada”.
Eu classifico como uma ilusão muito própria de poder e reconhecimento, para
satisfazer a si, mesmo sabendo que não eram reais, mas sempre fingia ser e
ninguém ousada discordar. Só se via um movimento de muitos de conseguir
oportunidades em outro lugares. Havia também, um roubo de identidade, quando, muitas
vezes contava uma conquista de outra pessoa, como se fosse dela. Tipo paranoia,
provavelmente, no seu mundo paralelo, ela tinha sido reconhecida pelo seu
amiguinho imaginário. Aqui tenho até dificuldades em explicar, porque é algo
muito nebuloso, nada concreto, falas, falas ilusórias criando um contexto
irreal, como em uma viagem narcótica em que tudo é relativo, sonho e realidade
misturados. E o efeito era tão passageiro que eu a via, a cada momento,
aumentando a dosagem da viagem, buscando a sensação de satisfação que nunca era
suficiente, mas fingia ser, muito difícil, porque muitos se sentiam mal mas
tinham que dizer que se sentiam bem . Para ela, não havia diferença entre
sinceridade e falsidade. Era capaz de contar qualquer mentira como se fosse a
verdade mais cristalina. E o pior, distorcer a verdade, como em um passe de
mágica. Um pesadelo.
#4: Existia também uma característica muito presente em
todas suas ações, que posso chamar de Frieza. Uma pessoa sem
vida. Algo robotizado. Não reagia ao ver alguém chorando, alguém enfrentando
uma situação de dor, ou mesmo, de constrangimento, quando alguém era, de certa
forma, acusado de um erro que não cometeu ou de uma falha que não estava sob
sua responsabilidade, e terminava sempre as reuniões sem dar explicação ou com
respostas pouco conclusivas. Todas as reuniões tínhamos uma parte reservada
para as perguntas do time (enviadas previamente, claro) e acabou virando “meme”
porque as respostas não eram dadas, se falava muito mas não se respondia nada.
Muitas vezes as mesmas perguntas eram feitas, reunião após reunião, e ai nas
conversas paralelas do time, foi virando uma grande piada (e as várias frases
que rolavam no time: “a volta dos que não foram”, “se não chover, depois da
chuva, eu passo lá”, “ser ou não ser”).
Era nítido quando havia uma situação de dor, perda de um
parente, algum acidente, era muito estranho ver como ela agiu nesse cenário,
não se importando, não fazendo nem o “politicamente correto”. Isso acontecia o
tempo todo e com todos da equipe, acidentes, imprevistos, doenças, não
acionavam nenhuma emoção, muitas vezes, a maior parte delas, os profissionais
não recebiam sequer uma mensagem. Assim como nascimentos, progressos,
casamentos, enfim, sucessos, também não a tocavam. E ai, alguns anos depois,
uma par me ligou contatando do nascimento do seu filho e de uma reação muito
similar ao falecimento de um ente querido, ou seja uma “não reação”, de total
negligência, insensibilidade, claro que eu entendi, eu já tinha passado por
algo similar. Ela me contava incrédula, mas eu sabia exatamente que o que me
dizia era verdade. E dai fui conectando com outras historias de outros
integrantes do grupo, em situações relacionadas a emoções bem fortes. Soa muito
estranho, ainda mais porque em uma posição de liderança, além de suas próprias
crenças, você representa um cargo, você representa uma empresa e com isso a
responsabilidade pelas pessoas que lidera é inerente a responsabilidade do
cargo que ocupa, mas ainda assim.
#5: Tinha também uma característica muito peculiar e que ela
sempre demonstrava, que eu vou chamar de parasitismo Os
psicopatas, quando conseguem a confiança de alguém, sugam tudo, todas as
ideias, todos os trabalhos, tudo que se é feito, sem nenhuma cerimônia, se
apropriando do que não é deles. E era comum a ver falando, como se tivesse sido
a mentora intelectual (claro que do que dava certo, o que desse errado, com
certeza não teria partido dela). Apropriando
das glórias e se esquivando dos fracassos do time. Eu sentia muito isso,
apropriação indevida do meu trabalho, e, com tudo isso, ficava claro o quanto
essa pessoa precisava de mim e por isso não conseguia se “livrar de mim”. Desafazer
de mim, apesar de ser algo que ela queria muito, estava fora de cogitação,
nessa altura eu já tinha muitos fãs pelo caminho, exigiria dela uma mentira
muito mais elaborada e, no fundo, era precisa também das glórias. Isso
acontecia, não só comigo, mas com os melhores profissionais do time. Eu sabia
que ela nunca iria me ajudar ou patrocinar nada, era muito perceptível para
mim. Lamento, porque muitos do grupo caíram nessa armadilha, o quanto ela se
aproximava até capturar o trabalho, a ideia, a forma, o discurso e depois, sem
parcimônia ou constrangimento, inclusive muitas vezes na frente dos autores
reais, se apropriava das ideias e dos trabalhos em alto e bom tom. Algo complexo
e que gerava muitas dúvidas na plateia, já que se apropriava de algo com tanta
convicção e persuasão, ninguém nem ousava acreditar que poderia não ter sido
feito por ela.
#6: Por último e talvez permeando todas as características
acima, sempre aparecia o egoísmo Fazia suas próprias leis, suas
regras e políticas mudavam constantemente para atender a si mesma, por isso a
coerência nunca era possível, porque o mesmo argumento que utilizava para
justificar uma medida tomada, era também usado em outra situação totalmente
inversa. Uma rede complexa de justificativas e justificativas e complexidade
nas regras e políticas fazendo as mesmas nunca serem entendíveis pelo grupo.
Não entendia o que significava “bem comum”. Se estivesse tudo ok para ela, não
interessava como estava o resto do mundo.
Total falta de transparência e justiça. Direcionando todos os recursos
da empresa e todas as oportunidades da empresa para favorecidos diretos, para
os que, muitas vezes, eram chamados pelo time de “protegidos”, deixando os
demais sem o mínimo para desempenharem suas funções. Via todo esse cenário com
tristeza, mas sempre encorajada a fazer minha parte, e sempre onde a dignidade
não estava sendo preservada, eu entrava para tentar trazer alguma compensação.
A explicação que eu tenho para que essa pessoa tenha
sobrevivido tanto tempo em uma posição é que, pessoas assim, costumavam se dar
bem em ambientes pouco estruturados e com pessoas vulneráveis e também pelo
fato de não ter um reporte local para alguma liderança local, isso encobria
muitos desmandos. A liderança global, pela diferença de cultura, diferença de
fuso horário e por não ter acesso direto ao time, não tinha a menor
visibilidade do que se passava ali. Esse era exatamente o cenário que vivíamos.
Lembro também que todas as contratações buscavam pessoas com o mesmo “perfil”
ou seja, fragilizadas e extremamente necessitadas da oportunidade. Acho que,
assim, ela consegui controlar melhor o grupo e nunca ser questionada ou
pressionada.
#7: Por último, posso dizer que outro ponto foi o “charme”
que ela simulava com a liderança global anterior e que a ajudou a conquistar a confiança e a
pressionar para que colegas que atrapalhavam sua ascensão profissional acabassem
demitidos ou eliminados. Muita rotatividade e muitas demissões, sempre foi o
que se viu na equipe. Mas sempre bem explicadas e embasadas, taí algo que sabia
fazer: “business cases” para comprovar a má performance dos profissionais a serem
eliminados. A maior parte das contratações eram sempre de pessoas vulneráveis,
como comentei. Um ciclo vicioso e uma total “blindagem”, inviolável, uma cerca
que por muito tempo se mostrou forte e suficiente, que protegeu seu reino por
alguns bons anos.
Tudo isso sempre me chamou muita atenção como comentei. Desde
sempre. Não demorar muito a perceber tudo isso, para mim, foi a chave da
superação e da sobrevivência. Ainda bem que tudo se evidenciou desde muito
cedo, logo no inicio, não tive tempo para me iludir. Logo na primeira semana,
notei que ela gastava mais tempo criando “probleminhas” entre os liderados e
criando situações, do que, trabalhando propriamente dito. Depois, ela mesma
vinha com as soluções para os problemas que ela mesma criava. Uma pessoa única.
De certa forma inteligente, em gerar os problemas que resolvia e saber fazer
uma propaganda em ser uma grande “solucionadora” de problemas. Uma estratégia
que parecia interessante, mas, com o passar dos anos, a não geração de
resultados ficou em evidência. Posso dizer, que essa pessoa formou uma legião
de desafetos e com isso, como disse, ganhou uma série de apelidos pejorativos,
no nosso grupo, cada um deu um apelido. Nunca concordei com isso, porque um apelido
pejorativo era se transformar nela, na própria maldade. Então eu escolhi o
apelido que daria a ela e, para isso, procurei focar no lado bom, passei algum
tempo pensando no que ela tinha de bom, qual seria essa parte nela, até que
encontrei, eu a chamava de “escola”. A Escola está aí, ou a Escola está me
perguntando isso ou pedindo aqui, ou bla bla bla. E Escola é bem simbólico.
Porque foi uma escola para mim, fonte de muito aprendizado, costumo dizer que
aprendi, muitas vezes, mais com os anti-exemplos, com o que não se deve repetir
ou copiar, e nesse sentido, essa pessoa foi o meu maior anti-exemplo. E me fez muito
melhor profissional, pude me transformar em uma líder muito melhor do que eu
seria sem essa experiência. E aqui não estou fazendo o “jogo do contente”, mas
é real, esses desafios só contribuem para nosso progresso.
Hoje sei que “o poder
e o controle” sobre os outros tornam as grandes empresas muito atraentes para
os psicopatas. O pior que vejo nessas pessoas é que, mesmo empresas
estruturadas, e que possuem uma área de RH estruturada e capaz de identificar
esse perfil, não estão isentas. Isso porque os psicopatas que são “pinçados”
pelo RH e começam a ser acompanhados mais de perto, rapidamente pegam os “chargões”
usados e o discurso politicamente correto e esperado, e se camuflam
rapidamente. Porque são muito hábeis, não chegaram onde chegaram sem essa
habilidade. Portanto ao tentar ajudá-los ou recuperá-los, o RH só os
fortalecem. Infelizmente, eles se disfarçam dentro do sistema e para serem
identificados, há que se ter muita vontade e um trabalho de fato coordenado e
senior.
Felizmente, nesse reino distante, ao final tudo se concluiu
de uma maneira muito efetiva. Não posso dizer aqui “fomos felizes para sempre”,
mas sim voltamos ao dia a dia “normal” (e falando em psicopatia, essa palavra
normal é, por si só, um grande alívio) e passamos a lidar com os desafios
diários de uma grande corporação mas sem a contaminação e o exagero que vinha
sendo imposto por essa pessoa, da qual, nunca mais tive notícias.
Refletindo agora e revivendo essa história ao escrever, acredito
que demorou mais do que o esperado, mas tendo em vista todo o cenário, seria
realmente difícil fazer o entorno prestar atenção no que estava de fato
acontecendo. Foi também uma caminhada muito produtiva para mim, pude fortalecer
características muito importantes como a resiliência e a empatia. E hoje me
sinto infinitamente mais preparada. Talvez, eu tenha dedicado muito e colocado
muito empenho e muitas horas no encaminhamento dessa questão, mas não foi uma
jornada em vão. Mesmo o que apagamos ou resolvemos fica marcado. Essa pessoa
foi identificada, pelo seu caráter nocivo ao ambiente e também pela “não
entrega” de resultados e, em uma grande corporação, não ser útil, não ser
efetiva, não entregar resultados é uma sentença de morte. Foi desligada após
algum tempo, alguns anos, deixou sucessores, lembra da dupla dinâmica?
Não estou mais nessa empresa, nessa área, migrei, vivo hoje
outro cenário, em outra área, em outros desafios. Ainda assim, durante algum
tempo, mesmo de outro lugar, ajudei muitos ex-liderados a se recolocarem
profissionalmente e a encontrarem sentido e novos rumos. Pelo que me relatavam
ainda se perpetuava todo esse cenário, porque a sucessão foi uma continuidade,
o famoso “trocar seis por meia dúzia”. Hoje não mais tenho tanto contato, nossas
vidas profissionais tomaram outros rumos, acho o distanciamento importante,
essa fase faz parte do meu passado profissional, fase de importante crescimento
e hoje me sinto totalmente preparada para meus novos e reais desafios. E posso
dizer (mas aqui é outra história) que muito tempo depois encontrei outros
exemplares da “menina com o dedo cinza”, tanto na versão feminina quanto
masculina, mas de uma maneira bem mais preparada, pude lidar muito bem. Ai que
reforço o quanto sou grata por tudo que aconteceu e pela forma como aconteceu.
O intuito aqui, espero que tenham gostado, foi apenas
didático, simples, de colocar um ponto de vista, uma luz no fim do túnel, ainda
mais porque hoje na graduação, vivo de estudar “casos” e de enveredar pela
mente humana e suas patologias. Escrevo alertando para o fato de estarmos
rodeados de psicopatas, que como tal, tentam destruir a auto estima e crenças,
valores, posturas, nossa identidade. A minha dica? Por favor, não negligenciem
esse fato! Eles existem e estão por todos os lados! Saber identificá-los e
identificá-los o quanto antes, é super importante, para manter sua sanidade
mental.
O mundo corporativo por si só já nos exige bastante, não é nenhuma novidade, mas interagindo com psicopatas, o desafio se agiganta. Ter seus próprios filtros, assumir o protagonismo e não se deixar levar, são as minhas recomendações. Sempre digo e repito, que nós mesmos temos que nos conhecer e saber quais os feedbacks iremos aceitar e deixar entrar. O que faz sentido para você. Não ficar a mercê de psicopatas e nem ser manipulados por eles. Sugiro também leituras, na minha lista de sugestão, coloquei muitos livros, tem muito conteúdo interessante. Defendo a idéia de que somos nossos próprios analistas.
Aproveito, por fim, para ressaltar um livro extremamente interessante sobre o tema “Psicopatas de Terno”. Recomendo esse livro escrito pelo psiquiatra Hare, em conjunto com Babiak. O livro se chama Snakes in Suits – When Psychopaths Go to Work (“Cobras de Terno – Quando Psicopatas vão Trabalhar”), inédito no Brasil.
Boa Leitura!
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