Nem todo cuidado é amor. Nem toda presença acolhe. Nem toda entrega cura.
Às vezes, o que se apresenta como amor vem disfarçado de controle, de dependência, de medo de perder — e, por isso, sufoca. Há amores que aprisionam, que exigem, que cobram em nome de uma “intensidade” que mais esgota do que sustenta. Amores que invadem o espaço do outro e confundem afeto com posse.
Quando o amor nos faz calar, diminuir ou sumir de nós mesmos, talvez já não seja amor — ou, pelo menos, não um amor que cuida. Amar não deveria doer o tempo todo. Não deveria pedir silêncio onde há dor, nem exigir sacrifícios como prova de vínculo.
Na clínica, vemos muitos desses amores. Relações que começaram com paixão e entrega, mas que, com o tempo, foram se tornando fontes de angústia, ansiedade ou sofrimento silencioso. E, mesmo assim, é difícil nomear isso. Porque há culpa. Há história. Há medo.
Falar disso é já começar a sair. É colocar luz onde antes só havia confusão. É um gesto de cuidado consigo.
Talvez o primeiro ato de amor — verdadeiro — seja voltar-se para si e perguntar: isso me faz bem? Eu me reconheço aqui? Eu posso ser quem sou nesse vínculo?
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