O fenômeno atual de sucesso em torno do filme da Barbie transcende as fronteiras da diversão e se insere, de forma complexa e completa, nos campos da psicologia e das análises sociais. Esse filme não apenas encanta a maioria dos espectadores, mas também catalisa profundas reflexões sobre a formação de identidade, os padrões sociais estabelecidos e a autoestima, especialmente em relação à questão do patriarcado. Portanto, não tenho dúvidas, que assistir a esse filme, ajuda na compreensão e enriquece minha trajetória rumo à profissão de psicóloga. Não só o filme em si, mas também ter podido observar o comportamento das pessoas que assistiram o filme na minha sessão, além de acompanhar todas as publicações nas mídias sociais.
O filme da Barbie tem um enredo cativante, é preenchido por personagens marcantes, oferece um terreno fértil para a exploração de diversos conceitos psicológicos. Os desenvolvimentos da trama podem ser analisados por meio da perspectiva do desenvolvimento psicossocial, evidenciando as lutas e as conquistas que modelam a jornada emocional da personagem principal. O filme lança um foco enorme sobre o tema do patriarcado, revelando como as relações de gênero, a representação feminina e a submissão aos padrões sociais são “ensinadas” desde cedo nas narrativas culturais.
O ponto alto do filme, pra mim, é, sem dúvida, a Barbie Estranha, que foi criada para ser uma personagem que ajuda as demais a se conectarem com seu passado. Uma Barbie que foi modificada por quem brincava com ela e afetando-a diretamente na Barbielândia. Em outras palavras, é a personificação das Barbies que foram modificadas pela criança que brincou com elas. Ela era uma das mais belas Barbies até que uma criança decidiu rabiscá-la com canetinha, cortar seu cabelo e forçá-la a abrir um espacate e por isso ficou desse jeito. Suas roupas também são divertidas, sempre muito coloridas e com cortes que remetem o que uma criança faria com as roupas de uma Barbie. Além disso, a Barbie Estranha é a única Barbie a ter consciência de que existe um "mundo além", é ela quem explica para Barbie Estereotipada que precisa viajar e encontrar a sua criança. Caso não fizesse, a Barbie Estereotipada adquiriria celulite, ficaria com os calcanhares no chão e não seria mais bonita. Em outras palavras, a Barbie Esteriotipada viraria uma Estranha. Nesse sentido me remete a teoria da Melaine Klein, a Barbie Estranha personifica muito como uma criança cuida de suas coisas e expressa sua criatividade através dos brinquedos.
Minha experiência ao assistir ao filme da Barbie permitiu-me
empregar meu conhecimento psicológico na análise das representações dos
personagens e suas motivações, identificando os fatores que influenciam suas
decisões e interações. Também permitiu-me discernir temas subjacentes, como a
importância da autoaceitação, o impacto da mídia na construção da imagem
corporal e a resistência face a adversidades, todas moldadas pelo contexto mais
amplo do patriarcado. Após assistir o filme, perceber como a mídia lidou com
esse filme, os vários canais, comentários veiculados, a mobilização nas redes
sociais, evidenciando quem adorou a mensagem do filme e também as inúmeras
críticas. Toda essa dinâmica que o filme gerou foi muito rica para nós
psicólogos.
Assistir ao filme da Barbie contribuiu para minha formação como psicóloga ao incentivar-me a adotar uma postura crítica e reflexiva em relação à cultura popular e à mídia, especialmente em relação à influência do patriarcado nas construções de gênero. Reconhecendo como as mensagens transmitidas pela mídia podem afetar a autoimagem e o bem-estar emocional, entendendo a importância da terapia para ajudar as pessoas a desenvolverem uma compreensão saudável de si mesmas e a resistir às pressões sociais que perpetuam o patriarcado. A análise cultural, o desenvolvimento psicológico e os conceitos de saúde mental se entrelaçam no filme. Ficou pra mim, nítida a necessidade de se ter uma formação em psicologia que integre várias perspectivas para compreender fenômenos complexos dos indivíduos, mas considerando o contexto social, cultural e histórico.
Essa experiência não apenas contribuiu para minha formação como psicóloga, mas também me impulsiona a seguir na minha abordagem crítica e reflexiva em relação às questões sociais, principalmente de gênero (patriarcado) e reforçar que o objeto de estudo da Psicologia é a "subjetividade".
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