Olá, Difícil escrever o que eu quero
lhe dizer. Vou tentar. Se eu pudesse resumir em uma frase o que gostaria que
você entendesse é: a conta não fecha.
Vou
tentar explicar:
Pelo
lado profissional, estou em uma fase de muito trabalho. E sendo
cobrada em ajudar ainda mais. E não sei se estou sendo leviana ao dizer isso,
mas tenho uma sensação de estar “sozinha” na área. A minha liderança é
disponível, mas fraca e distante dos problemas do dia a dia, então fica difícil fazer
uma contribuição real. Aliado à esse contexto, tenho uma
preocupação, nesse novo nível de carreira, de pensar onde poderia agregar mais,
ter ideias novas e etc. Eu me cobro muito. E claro, que tenho a
metade do copo cheio, porque todos os meus liderados (ou quase todos) super me apoiam, nunca me negaram ajuda e
sempre patrocinam muito o meu trabalho. Mas ainda assim, preciso
aumentar os meus conhecimentos, comerciais e financeiros e falta budget. Estou
estudando, mas é esquema “tabajara” mesmo.
Pelo
lado pessoal, com o crescimento das minhas filhas, a preocupação muda
de lugar. Hoje tenho muitas tarefas junto a elas. Tenho também de prover e
cuidar da estrutura da minha casa e etc. O meu marido super ajuda, mas viaja
muito, é responsável pela américa latina, é de um país a outro, uma loucura, então acabo carregando mais o piano. Final de semana é
ainda mais puxado e cada vez tenho menos tempo de dedicar a algumas coisas.
Supermercado, exames, comprar coisas, lazer para as meninas, família, compromissos sociais, etc.
Fora isso, tenho uma família grande, um inventário rolando com alguns
conflitos, depois do falecimento do meu pai. Sinto uma ausência enorme da minha mãe, que mora em outro estado, e uma sensação de que o tempo
está passando, etc. Ainda nesse contexto, tem o peso extra que é a
família do meu marido e a postura dele em relação a eles, todo o cuidado e tempo que exigem, o que não deixa de sobrecarregar. O lado financeiro é muito bom, sou privilegiada, mas ainda assim com tanta ajuda que damos, doações, me questiono algumas vezes, espero que as instituições façam jus ao nosso empenho, porque deixamos de investir em algo próprio para poder ajudar ainda mais e mais.
Pelo
lado profissional, Você estava, de certa forma, sendo um apoio. Uma troca de energia, de
vontade, de paixão pelo trabalho, etc. Um ponto que mudou é que antes,
dedicávamos tempo, falando sobre trabalho, etc. Então isso, por si só, era uma
alavanca profissional. Muitos problemas e questões podiam ser melhor entendidas
e essa troca, muitas vezes um bate-papo apenas, acabava ajudando a ter ideias e
resolver as coisas. Agora, não falamos nada de trabalho, porque parece que
virou crime, falar de uma reunião de trabalho. Virou crime falar de um
contrato, projeto, de um documento, etc. Espero que entenda. Algo que contávamos fazia sentido com algum tema que eu ou você estávamos tratando diretamente,
algo que vc comentava, tinha conexão com que eu estava investigando e vice-versa e essa
“sinergia” nos ajudava e etc. Depois começaram as limitações, dependendo do nome
que eu pronunciasse, já dava problema, se eu perguntasse algo de trabalho antes
do “bom dia” ou se mudasse o assunto de um tema pessoal para um tema
profissional, virava outro problema. Se eu comentasse algo em caráter
confidencial já imediatamente gerava ações suas, satisfações e etc. Ou seja, perdemos ou talvez
enfraquecemos a sinergia de trabalho. E, vamos combinar, apesar de uma certa proximidade, o que nos une é o trabalho. Sempre foi, até porque o contato que temos é em horário comercial e nos escritórios. E tudo bem!
Pelo
lado pessoal, você deveria agregar em tudo isso e nossa convivência nos fazer bem reciprocamente, mas passou a não ser mais assim. Virou quase que uma "posse" velada. Claro, já falei isso a vc diversas vezes, dado o meu cenário, não tenho também tempo disponível, rouba parte do meu tempo ou melhor, que eu invisto parte do meu tempo nisso, tempo que muitas vezes não tenho.
Não é uma reclamação. Não entenda assim. Mas coisas que eu resolvia em horário
de almoço, por exemplo, agora esses horários são compartilhados também contigo de alguma forma.
Até aqui tudo bem, porque faz parte, um momento para
relaxar, trocar ideias e se energizar. Então não seria “roubar” tempo mas
“investir” tempo. O problema maior é que você passou a "exigir", então o almoço passou a ser obrigação e não diversão. Então o que era para ser algo leve, descontraído e sem
regras, tem se transformado em algo pesado, pensado, analisado e sempre com
muitas considerações e relembrando histórico, tipo terapia. Então passou a ser um item na minha lista de “TO DOs”. Um momento de pensar para
falar, de analisar o contexto, questionar o que o outro traz … um momento de,
ao invés de conversarmos apenas, focarmos no presente, sem pretensão de coerência total ou de conteúdo. Deveria ser apenas jogar conversa fora, passamos a falar mais do
passado, suas intermináveis perguntas, do que já foi, de buscar todas
as incoerências o tempo todo … sei lá, um esquema muito detetive ou GPS e etc. Insuportavelmente chato. Peço desculpas por ser tão sincera. Mesmo cada um sendo de um jeito … cada um com suas necessidades especificas
para se sentir confortável e seguro … ainda assim, ficou pesado demais, ai sim, comecei a perder tempo contigo e não ganhar tempo contigo.
OK.
Até aqui, talvez nada seja novo, já falamos tudo isso, de várias formas e em
vários momentos. Esse contato, mesmo que no ambiente de trabalho, tem sido bem esgotante para mim.
Na tentativa de te
responder o que então mudou nessa "amizade", que eu prefiro chamar de "coleguismo" … todo esse contexto faz com que
eu não seja mais a Menina corajosa e espontânea do inicio. E você não é
mais o Menino divertido e que sabe das coisas do inicio. O que percebo
é a migração clara de tudo o que tínhamos profissionalmente (e que nos
aproximava pessoalmente) para o que temos pessoalmente (que nos afasta
profissionalmente). Acho que ficou confuso, mas tenho a impressão (posso estar errada) que vc está confundindo as coisas, é confesso que é meu medo. Porque sempre deixei bem claro, que somos colegas, ok. Qualquer interesse além disso, é bem improvável da minha parte.
Não quero dizer que
o profissional seja mais importante que o pessoal, mas é o que temos e deveria
nos aproximar. Seria esse o diferencial que temos. Somos colegas de trabalho! Amizades surgem também no trabalho, mas leva mais tempo! Essa ansiedade em fazer essa amizade surgir, acaba por prejudicar o ritmo natural das coisas.
Na minha visão (e
não preciso estar certa) temos uma proximidade e admiração profissionais, que
nos permitem aprofundarmos em alguns temas pessoais, ainda superficiais. E não o
inverso, somos super próximos pessoalmente e daí tentamos nos ajudar
profissionalmente. Não sei se vai me entender, mas conhecer alguém pessoalmente leva tempo, amizade é conquistada, construída, tem a ver com afinidades e tudo mais. Não é um click e pronto já está lá.
Quanto
mais falamos, pior fica, porque a cada dia, tudo é menos natural. E o resultado
de tudo isso é que perdermos a sinergia, ao invés de nos potencializarmos
unindo forças, nos destruímos. Fico mesmo sem paciência e acabo mesmo desaparecendo no horário do almoço, é verdade quando você diz que fico evitando.
Porque a ação de
um, impacta o ânimo do outro e ai, dispendemos mais energia para nos refazermos
e explicarmos os “maus entendidos” do que para gerar coisas novas e
desafiadoras. Uma maluquice. Um ciclo vicioso, nada virtuoso.
E com a vida que
temos e as responsabilidades que temos, não poderíamos nos dar o luxo de gastar
essa energia, é um desperdício, porque ela faz muita falta depois para outras
coisas.
Então perdemos
pelos dois lados, profissionalmente, porque não nos ajudamos, perdemos o
foco no trabalho. Hoje, parece crime usar o tempo que temos para falar de
trabalho. Pessoalmente, porque não nos ajudamos também, fica muito forçado, mais discussões,
é burrice. Não sei se passa o mesmo com você!
Então, dada toda essa pressão, está bem estranho, fica difícil a convivência, nem torcer um
para o outro, torcemos mais. O que me parece insano também: só queremos dividir
nossas frustações e sermos profissionais confiantes e pessoas melhores,
fortalecer a carreira e como pessoas, quem sabe. A sua personalidade tem muito a ver com tudo isso, porque te vejo possessivo, querendo sempre estar certo, arrogante em alguns momentos e grosseiro. Complicado! Enfim, seria legal deixar fluir, sem expectativas. Mas isso fica apenas na teoria, porque na prática, me parece
uma competição, um jogo que no final terá apenas um vencedor, eu me sinto sufocada, vigiada.
Tem
também a personalidade de cada um de nós. Falo por mim, sou incoerente
muitas vezes, você repete isso o tempo todo, cansativo, posso não saber agora tudo o que quero da minha vida, mas tenho
clareza do que não quero (tanto para a minha vida pessoal quanto
profissional). E definitivamente, não estou a fim de perder tempo com o que não me dá prazer, que não faz sentido. Aliado a tudo isso tenho os meus valores e
princípios. E mais, particularmente, tenho uma busca pela
superação das minhas muitas limitações, que é interna, que é minha. Ou seja, você não é terapeuta e mesmo que fosse, não estou atrás de nenhuma terapia … Tenho algumas feridas abertas, algumas cicatrizes ... quem não … Mas quando
olho para trás e vejo a minha vida, gosto do que construí, me sinto feliz, me
sinto amada, me sinto próspera, etc. Tenho as pessoas certas ao meu lado. Tá tudo certo. Tá tudo bem! Sou bem humorada e me divirto até com minhas inconsistências, faz parte do processo. Não quero chegar a lugar nenhum, estou curtindo a travessia, meu foco é em viver. Estou vivendo, detesto esses mil planos futuros e perguntas, parece que estou em um entrevista constante ao seu lado. Entendo que você é ansioso e que vive pensando no futuro. Eu não, até tenho meus planos (privados) mas gosto de viver o aqui e o agora.
Misturando tudo isso, fazendo as contas, já que somos de Exatas,
noves fora zero, os riscos e esse investimento estão desproporcionais ao retorno. E a conta não
está fechando.
E o
que eu gostaria agora de pedir? Sei lá, não tenho a fórmula correta para
que a conta feche. Mas conheço algumas das variáveis necessárias nessa fórmula:
cautela, sabedoria e maturidade, qualidade de vida, evitarmos descarregarmos as
nossas frustrações pessoais no outro, que essa "amizade" (eu usaria coleguismo, mas já sei que você não tolera essa forma de eu colocar) não se torne a tábua de
salvação dos nossos problemas, que tenhamos também foco na troca profissional,
e por ai vai, etc. E também temos outros protagonistas nas nossas vidas. A lista é enorme, poderia ficar aqui por horas
escrevendo todas as variáveis/ações que se fazem necessárias, mas acho que,
ainda assim, essa lista não seria conclusiva. Parece que ela se
retroalimenta diariamente e viraria algo sem fim, sem solução, sem luz no final do
túnel. Estou exausta.
É como terapia,
quanto mais fazemos mais precisamos dela, parece vício, porque se focarmos
nos problemas, só problemas encontraremos pelo caminho. Enfim,
se existe um pedido principal seria que a gente desista de estarmos certos e
concentremos apenas em seguirmos. O que me parece é que a "admiração" que vc relata que sente por mim, se transformou numa quase obrigação de convivermos.
P.S:
Confesso que receio quais serão os desdobramentos que ainda vão rolar. Fico cansada só de pensar em reflexões futuras pós envio desse email. Meu Deus!!! As vezes me pergunto porque,
ainda assim, insisto em escrever, porque já te escrevi vários textos muito
parecidos a esse. Mas essa com certeza será a minha última tentativa, ou amadurece ou fim. Não sou a dona da verdade, mas segue aqui meu desabafo, e saiba que os meus erros não são intencionais e minhas ações/atitudes não são premeditadas. Estou cansada de ficar pensando no que posso ou não
dizer. Se não tem nada a ver para você o que escrevi, é fácil,
reescreva. Zero problema. Após tantas considerações posso apenas afirmar, com 100% de certeza, que: te
quero bem. E te peço encarecidamente para que você leia detalhadamente e de fato reflita. Essa é minha última tentativa.
Junho de 2007
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