Introdução

A forma como nos apresentamos reflete nossa autoconfiança e influencia nossas relações. Unimos psicologia, tecnologia, estilo e organização para oferecer uma experiência transformadora. Os estilistas ajudam você a expressar sua personalidade por meio de roupas, acessórios e cores que se alinhem ao seu estilo de vida e objetivos. Já os organizadores otimizam seu espaço físico para que reflita quem você é e atenda suas necessidades práticas. Trago textos do cotidiano a partir da minha vivência no mundo corporativo de tecnologia, com o olhar da psicologia. Falamos de Inteligência Artificial, Metaverso, Luto, Ansiedade, Carreira, Relacionamentos, entre outras coisas.

segunda-feira, 18 de março de 2024

Em busca de pertencimento: um caso clínico

*Caso fictício e ilustrativo. 

*Este relato é uma representação genérica e não se refere a nenhum paciente real ou situação específica. Tem como objetivo exclusivo ilustrar processos, abordagens ou conceitos relacionados à prática clínica, sem a intenção de diagnosticar, tratar ou aconselhar sobre casos reais.

*O interesse primordial deste relato é o aprimoramento da prática da escrita e da elaboração de relatórios, aperfeiçoando a técnica de relatar e registrar casos, habilidade requerida na formação acadêmica em psicologia.


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Gostaria de compartilhar com vocês um caso interessante que surgiu recentemente na clínica escola. Pelo sigilo, todas as informações e dados pessoais serão preservados. Alguns fatos foram reescritos de forma a não ser possível identificar de quem estamos falando.

Uma paciente, cuja queixa inicial é a descoberta de uma doença grave, expressou sua irritabilidade e a dificuldade de lidar com as relações familiares, especificamente com seus irmãos e sua mãe. Ela descreveu a morte recente de uma pessoa da família como um alívio, destacando o sofrimento que a relação penosa proporcionava. Sua relação com o marido foi também mencionada, ressaltando a dinâmica de cuidado paternal que ele desempenha atualmente. E de como nem sempre foi assim, que no inicio do casamento a relação era bem difícil e como ele se mostrava bastante centrado em si mesmo. Mas com o advento da pandemia, como ela mesma colocou, as coisas se ajeitaram e ele então percebeu que tinha que se integrar e participar mais dos afazeres da casa e também assumir mais responsabilidades.

Temos um vínculo terapêutico já constituído, tudo aconteceu em algumas sessões e hoje posso dizer que a confiança está posta e há abertura dos dois lados. A cada passo, ela se mostra como de fato é. Já são mais de dois meses em análise juntas e, aos poucos, vou remontando sua história.

Ela se descreveu como uma excelente aluna na escola, na faculdade, sempre muito elogiada pelos professores, mas sentindo um vazio em relação às relações interpessoais. A paciente destacou a dificuldade de se sentir pertencendo e expressou frustração ao perceber que as pessoas a veem como uma ameaça, rejeitando sua presença. E que isso acontece em vários lugares profissionais, como ela é muito dedicada e sempre se sobressai frente aos outros, logo gera uma situação de "ciúmes" (foi a palavra que ela usou) e em sendo ambientes muito competitivos, as relações começam a ficar complicadas para ela.

A paciente também compartilhou a experiência recente de sair de um ambiente de trabalho tóxico, no qual se sentiu desvalorizada e enganada. Destacou a sensação de ter colocado essas pessoas em um "pedestal", apenas para descobrir que eram "terra fofa". Adicionalmente, ela lidou com a descoberta de uma grave enfermidade sem se vitimizar, demonstrando uma paciência histórica diante das adversidades. Em momento nenhum das entrevistas iniciais e das nossas conversas posteriores, ela se coloca como vítima de sua história, ou fala da doença de maneira agressiva ou amargurada. Ela sempre narra os fatos e se mostra sempre bem resiliente e forte. Sabe que o caso é grave, mas vejo que ela tem bastante fé em si mesma. Percebo que essa fé perceptível a todos está sendo muito questionada por ela mesma nos dias atuais, porque foram vários acontecimentos recentes que "roubaram" (o verbo que ela mesma utiliza) dela o que seria dela por direito. Hoje ela ainda tem fé, mas, por várias vezes, questiona a justiça.

Em relação ao seu processo de análise (que ela fez nos últimos anos com uma profissional particular), a paciente expressou frustração com sua oscilação constante entre construir e destruir, destacando a dificuldade de se permitir um lugar de pertencimento. Ela reconheceu a necessidade de tempo e paciência para se estabelecer e crescer, vindo de uma cultura familiar e estrutura diferente daquela em que está se desenvolvendo nessa nova fase da sua vida. Ela pontuou os valores serem altos e que ainda assim estava mantendo as sessões semanais de análise, que o plano de saúde nem sempre reembolsava e todos os meses era um grande desafio lidar com isso, porque perde-se tempo com o plano de saúde até conseguir retorno. Foi quando ela decidiu parar, um intervalo (disse ela) e daí ficou sabendo da possibilidade de poder ser "atendida" em uma clínica escola e que, de certa forma, até se reerguer financeiramente, ela poderia seguir se cuidando, não interromperia o cuidado, ela não quer mais abrir mão de se colocar como prioridade na sua vida.

A análise tem sido um espaço de reflexão e autoconhecimento para a paciente, que reconhece a necessidade de trabalhar em si mesma para encontrar seu lugar de pertencimento. Ela está consciente de que a solução não está em terceirizar ou buscar respostas fora de si, mas sim em se permitir construir sua própria história e se dar o lugar que merece.

Tenho trabalho as questões transferenciais e principalmente contratransferenciais que sempre surgem na clinica, mas dessa vez, essa paciente tem sido para mim uma grande escola nesse sentido. Tenho me interessado muito pela sua história e pela maneira como ela encara a vida. Ela é nova, mas traz muita sabedoria de vida, ela é uma pessoa adorável, prática, sabe o que quer e sabe para onde está indo. Ela é inspiradora. E nesse caso, o que mais me convoca são as questões sociais que, tudo que ela me traz, evocam em mim. Quase que, claro que não falo nada, tendo a concordar com a injustiça que ela tanto menciona. Sei bem  e entendo perfeitamente todas as suas colocações sobre o mundo corporativo. Tenho bastante experiência nesse meio e portanto, tudo do que ela pontua faz total sentido e é real. São ambientes tóxicos e se você tem uma posição executiva e pensa diferente e quer cuidar das pessoas, você deixa automaticamente de pertencer, você vai sendo eliminado, a sua sensibilidade com as pessoas é sempre usada contra você e te coloca como fraca e incapaz de lidar com "situações gerenciais difíceis" e "tomadas de decisões". Ela usa ainda alguns termos desse mundo empresarial e, nunca a interrompo, porque eu entendo todos esses termos e não quero atrapalhar as construções e as interpretações que vão surgindo, evito interromper o ciclo mágico de ir "se dando conta". Sei bem que esse teatro corporativo adoece as pessoas (as boas pessoas, digo), porque ele parece muito real, parece sábio, parece saudável. Tenho me envolvido bastante com esse caso e espero, de fato, conseguir ajudá-la a chegar em suas próprias conclusões, o que já vem acontecendo sessão a sessão. Ela não parou de avançar sequer por um instante, está construindo "outro" lugar de maneira muito consciente e robusta. Vejo que ela ainda não percebe o quão grande ela é e o quão bonita é a sua força e a sua história. Essa "ingenuidade" de sua magnitude é o que mais me chama a atenção e me convoca e me faz encantar-me. Ela tem sido muito sábia ao longo de toda a sua existência.

E porque está em uma clínica escola? A queixa é de saber lidar com o seu quadro de saúde atual. Mas me parece que isso ela já faz com maestria. Vou tentar entender essa iniciativa dela aos poucos e vejo que ela quis estar aqui, quis se "doar" de alguma forma, como se sua história pudesse ajudar outras tantas histórias, como se pudesse inspirar e de fato inspira. A característica maior que eu vejo nela é a generosidade, que se percebe em todos os seus atos e no seu modo de ser, de pequenas a grandes atitudes. Certa vez, comentei no meio de algum contexto, que era muita generosidade que eu percebia e ela se assustou com isso, dizendo que nunca havia pensado ou percebido isso. Sabe aquela generosidade raiz, nata, genuína? É disso que estamos falando aqui.

Teremos um ano completo juntas aqui na clínica escola e estou muito empolgada em poder praticar tudo que estudamos e em poder, de fato, ajudar a aliviar o sofrimento dela. Lidar com um diagnóstico grave, lidar com o tratamento, que exige demais fisicamente do paciente e tem efeitos colaterais pesados, além dos impactos psicológicos e na saúde mental, sem se perder no caminho, não é algo fácil. O processo de elaboração vai se dando ao longo do tempo. Não é um evento, é um processo. O nosso vínculo está constituído e estou feliz por isso. E sessão a sessão vamos consolidando. 

De tempos em tempos, postarei algo sobre esse caso, trazendo insights. Espero que esse caso inspire vocês e os façam refletir sobre as complexidades das relações interpessoais e a importância de se dedicar ao processo de autoconhecimento e crescimento pessoal na prática clínica. A terapia continua e estou ansiosa para acompanhar o desenvolvimento dessa paciente ao longo do tempo e seus relatos das suas próximas sessões. Tenho aprendido bastante. Não tem como estar nesse curso e não ser transformada por ele.

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Compartilhamos a mesma casa e a mesma educação, crescemos juntos, vivemos juntos e ninguém nos conhece melhor do que nós mesmos, por isso, quero que saiba que te amo de todo coração, e que, se precisar de algo, estarei bem aqui para te ajudar, para te dar minha força.
Admiro você, sua família, sua empresa ... sua alma, sua jornada nessa vida!!!!
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Quero lhe desejar tudo de bom neste dia, você merece o melhor! Obrigada pela sua amizade, você é a minha certeza e torço bastante por você. Que estejamos cada vez mais unidos.
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