Definitivamente você não está em um grupo de amigos. E parece que desistir é pior ainda. Concorda? Gosto do termo sobreviver, mas acho que você está indo além, você está vivendo intensamente. Sabe?
Você sempre viveu intensamente essa é a verdade. Suas
histórias, suas vivências, tudo que você traz para nossa conversa. Você conta
de uma época anterior a minha, mas é tudo tão atualizado.
Parece que o mundo mudou, as pessoas mudaram, mas as relações
e os efeitos colaterais dessas relações seguem intactas. Impressionante como suas
histórias e experiências são atuais, quase que consigo vê-las reproduzidas
integralmente no ambiente que tenho ao meu redor. Fantástico. Quando você
dizia, que temos que tentar seguir e tentar nos incluir de alguma forma. Vejo muita sensibilidade e inteligência. Ignorar os efeitos colaterais gerados pela convivência com algumas pessoas? Seria esse mesmo o caminho, ou enxergar, esses efeitos colaterais como os verdadeiros presentes? Tenho dúvidas.
Aceitar que nem mesmo algumas pessoas que te fizeram um voto
de confiança e te prometeram algo, que mesmo essas não estão nem ai. O problema não está
nelas, mas em nós mesmas, nas expectativas que permitimos serem criadas. Quando
você conta situações em que, quase sempre, a imagem prevalece acima dos fatos. Quando você me
disse o que te mantinha de alguma forma, era essa imagem, essa formação de
opinião em cima do fato e não do fato em sim. Ou seja, não se mirava na relação
em si, mas na “falsa” crença que muitos tinham dessa relação. E tudo bem! Estar
desperta, estar sempre acordada. Não confundindo efeito colateral com sintoma, mas sabendo que ambos se complementam em alguma instância.
Quando você me falou de que, em algum patamar, ainda existe
o desejo, sem saber me explicar direito. Vejo. Vejo desejo eminente, que ele
é bem nítido. Disfarçado de ansiedade ou irritabilidade talvez, mas ele está
ai. E tem que estar mesmo, esse desejo de fazer um "mundo melhor" é importantíssimo, tem que estar ai, não importa o quanto seja idealista, o fato dele existir justifica sua existência e colore sua essência. É o que te faz diferenciada! Porque matar o desejo? Porque desmerecê-lo, como, se por ser impossível, não deva estar ai dentro. E quando você concluiu, dizendo que o mundo melhor já está acontecendo. É fato! 360 graus.
De que ainda existe uma crença de que vai poder mudar a
posição na vida que construiu. Não vai, mas vai poder construir patamares, degraus, girar a mandala. Sabemos que algumas pessoas são “fixas”, elas
não são “mudáveis”, é a sua mandala. E tudo bem, tem a ver com a sua formação central. Todas as demais, você poderá eliminar, essas não, essas eu não te aconselho, são estruturais, elas têm que permanecer. O que vai mudar é a sua forma de enxergá-las. Ainda
existe uma crença de que seria a sua resposta a toda uma vida, a toda uma
jornada. Que lindo! Que depoimento foi esse !!! Que não se tratou apenas de ir
superando os desafios impostos e sua realidade, enquanto isso, você viveu a
vida, a vida estava acontecendo, você foi construindo, ao seu redor, bases sólidas, você construiu tudo que construiu. É isso,
focar no desafio seria perder o todo. Trocar o todo pela parte. Fantástico!
Embora ela sempre te diga que não, que não existe resposta
possível, que você está indo de um impossível ao outro. Eu questiono. Será? Não sei
se é esse o movimento. Acho que você está, de fato, construindo o mundo
possível, e iria além, você está construido o mundo real, o que te cabe e o que
você merece estar. E você está tentando te levar a sublimar, resignificar essa
história e com isso, entender que, no fundo, você é uma grande vencedora. Como
ela disse, esteve soterrada durante muitos anos, tentando simplesmente
respirar. Eu concordo com ela, você foge aos casos clássicos com receitas já
conhecidas. Sua força é encantadora, a cada interação, quando eu acho que já
atingimos a barra, vejo que não, você se supera, você sempre vai além, você se
posiciona, sempre com coragem, com vontade. Sabe? Estou para te dizer isso faz muito
tempo, desde que nos conhecemos (lembra do inicio complicado?), mas logo nas
primeiras semanas, a gente percebe que não se trata de alguém comum, mais do
mesmo, você é muito diferenciada. Sou enormente grata por tê-la como minha primeira
“paciente”. Você brinca dizendo ser “cobaia”, mas te confesso que eu sou muito
mais cobaia nessa relação do que você. Sou muito grata, por você me permitir
estar aqui, estou aprendendo horrores, praticando tantas coisas e de uma forma tão
significativa. Tanto é que passa por transferência e contra-transferência e por
termos conseguido um rapport inimaginável, para uma marinheira de primeira
viagem e uma pessoa assim tão iluminada e generosa. No alto dos seus 65 anos, você
tem sido uma fonte de inspriração constante na minha vida. Mestre, Supervisora, Professora... Realmente você está certíssima, vale a pena. Entre livros, aulas, trabalhos e sessões,
seguimos alimentando o intelecto e as emoções. Uaw!
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