Análise Póstuma

 

Olá Tati, tudo bem sim. Que saudades de você. Estou bem, acho até que como nunca estive antes. A maturidade traz muita coisa boa, dentre elas, o auto-conhecimento e a capacidade de filtrar o que de fato importa nessa vida.

Adorei receber a sua cartinha, rs. Quanto tempo eu não recebia uma carta, escrita à mão, naquele envelope verde e amarelo, achei o máximo. Deve ser um pouco de saudosismo dos tempos que não voltam mais. O que mais me encanta é que essa carta tem uma mensagem implicita, que é o zelo, o cuidado, o tempo dedicado, né? Então fiquei muito feliz. Fora a roupagem, veio também muito recheada de conteúdo, lembranças da nossa época de Facul juntas, dos nossos desafios diários, das descobertas e de toda uma fase (incrível, eu diria que a melhor da vida de alguém) e que foram base para termos chegado onde chegamos. Fiquei alguns dias pensando em tudo que você escreveu, fiz mesmo uma viagem, lembrei de tanta coisa, acho que a gente vai “otimização” o espaço em disco e despriorizando algumas passagens (olha a disciplina de otimização e eficiência, ai, rs), mas reviver algumas lembranças me fizeram bem, seja porque foi alguma passagem boa, relevante e que me marcou, seja porque foi algo muito ruim e que me posicionei mal, mas ainda assim, me trouxe a certeza de que hoje eu faria tudo diferente.

 E acho que o que você me pede de conselho é justamente isso. Não tem como fazer nada diferente, o que já foi, já foi. E ainda bem que foi da forma que aconteceu, acho que se pudéssemos voltar no tempo e ir “corrigindo” nossas ações, talvez não chegaríamos onde chegamos, ou então geraríamos outros problemas, outras confusões. Então estou sempre convencida de que acontece o que tem que acontecer. Sempre. Agora que você está no olho do furacão, eu sei, que tudo isso que escrevo, deve te cair como algo utópico ou que funciona apenas nos livros de administração, mas não na vida real, no ambiente corporativo. O momento que você vive hoje não ajuda, vc está no meio de toda essa confusão, então talvez eu falar não ajude. Mas o fato de você ter falado, ajuda e muito. Eu acredito muito na cura pela fala. Falando, nos ouvimos, e ouvindo nos entendemos melhor. Falar, falar e falar.

 

No mundo corporativo, é exatamente como você descreve (e não só nesse mundo, tá? Juntou mais de duas pessoas, já vira mesmo um grande BBB, rs). Eu sei que você está vivendo esse “tombo”. Tem uns tombos enormes que a gente leva e que muda tudo dentro e fora, transforma totalmente a nossa maneira de ser. E em um primeiro momento, não ganhamos coisas “boas” mas sim uma avalanche de sentimentos e o desespero bate com força. Não sei se você vai acreditar em mim, mas eu entendo perfeitamente o que você está passando. O que você está vivendo e viveu nesses últimos anos foi real, foi duro, ainda mais conciliando com a pandemia. Embora eu tenha percebido na sua fala, que a pandemia até que não teve peso nesse contexto, você lidou bem, em alguns momentos, estar distanciada até te ajudou, né? Entender que você perdeu muito tempo com uma pessoa e com esse grupo ai, que você mesma já sabia que não valia a pena, que atrasava muito sua vida profissional e ainda assim você continuou tentando fazê-la e fazer o grupo ser mais honesto e justo. E você usa a palavra “burrice” mas eu não a usaria não, te acho muito inteligente, ter sido uma das melhores da faculdade, ter esse reconhecimento, sem arrogância, ter passado por tanta coisa, tantos lugares, ter me decepcionado tanto ao longo da minha vida profissional com as pessoas, me dá essa certeza de falar sem exitar. E mais, vale lembrar que também você tem uma inteligência emocional que chama muita atenção. E aqui é onde quero chegar e desenvolver contigo, ser muito inteligente emocionalmente nesse mundo hostil, tem lá suas consequências, para você ganhar esse jogo, você teria que deixar de ser a “Tati”, o preço é alto demais. Porque os demais conseguem? Porque lhes falta inteligência emocional, lhes falta inteligência, mas sobra habilidades e capacidades de fingir e de se submeter. Já vi tanta coisa e hoje vejo mais ainda. Da posição que estou, é triste ver como se comportam todos. Tenho feito até uma associação com o Behaviorismo, que tenho estudado tanto esse semestre. É uma relação entre Estímulo-Resposta-Consequência. E porque tudo isso funciona? Porque estão sob privação forte. Privados de reconhecimentos e amizades sinceras, privados de admiração, privados de liberdade, privados até de poderem ter as próprias opiniões, privados de exercerem seus próprios valores. Então um “elogio” ou uma “promoção” viram estímulos reforçadores quase tão fortes quanto os primários (como o sono, comida, água, sexo), são rapidamente transformados em reforçadores condicionados generalizados. Não tem como, o sujeito nesse ambiente, vira comportamento esperado.

 

Então, não se sinta uma idiota. Você não é. E diria até que esses reforçadores não foram capazes de te condicionar, e por isso, te admiro ainda mais. Não se cobre por não ter saído há tempos atrás, de não ter  aceitado esse mesmo convite já naquele momento, teria sido muito bom, é verdade, você está certa, mas olha só o quanto você está se conhecendo. Você está gigante! Eu entendo quando você diz que teria participado da transição e todos os fatores que envolvem essa mudança logo no início e que te posicionariam melhor. Mas você está super bem posicionada, olha para você. Não lamente ter aceitado o convite tardiamente. Foi um processo, uma etapa necessária. Te permitiu ver essa “lambança” acho que se tivesse saído antes você poderia não ter conseguido entender e por certo acreditaria no “condicionamento”, rs. Você está resistente a tudo isso. Não é lindo? Eu acho.

 

Você escreve que se prejudicou, que não teria os pré-requisitos, que não teria a coragem necessária, o que ??? Vamos pular essa parte do desespero. Você não se acomodou, não inventou justificativas e desculpas para não se mexer, pelo contrário, se mexeu tanto e fez tanto que olha só para você hoje. Admirável. Você escreve dizendo ter a sensação de também estar perdendo tempo. Não você não perdeu sequer um segundo, em toda a sua trajetória, desde que nasceu, desde o primeiro dia. A garotinha precoce, determinada, você é diferente de tudo que já vi. 1o. raio, lembra? Por isso me encanta ter contato com você e quando você compartilha comigo esses temas, ai me maravilho, porque é recheado de aprendizado para mim também. Já te disse inúmeras vezes que não me julgo capaz de te falar algo que você já não tenha pensado. Você sabe das coisas garota. É exemplo, arrasta muitos, olha só quanta gente se insprira em você. Esse é o retorno. E sobre retorno financeiro, ai nem vou falar, porque você está muitoooooooooooo bem de vida, merecidamente. É empreendedora nata.

 

Outra coisa que me chamou atenção na sua fala. De que já se passou um ano completo, e passa semana e semana, e você vive  um “dia da marmota”, um ciclo interminável de servir os outros, e blá blá blá não olha para você, não está em busca do seu desenvolvimento e sequer tem perspectivas. Não! Nós duas sabemos que é justo o contrário. Você sabe que esse sentimento acontece no exato momento em que você vai dar um salto, não é? Está é batendo um medinho bobo, porque você sabe que esse ciclo se encerrou e que agora é só pular. Você é a menina dos medos bobos em coisas simples e das coragens absurdas nas coisas grandes. È, seu detector de “proxima fase” já disparou e você, no fundo, sabe disso. Ahahahahahaha. Tá me escrevendo... só isso já simboliza muito.

 

É seu salto. Você tem usado a auto análise para entender suas restrições e descobrir como sobrepó-las. Que tal buscar uma psicóloga, euzinha. Ahahaha. Tô brincando, nem poderia, falta muito e além do mais, quando se tem vínculo anterior não rola. Você ficar aí repassando os mesmos pontos faz parte do processo. Nada de errado nisso. Aí entra sua inteligência né? Você não joga para perder. Todos esses pontos já estão racionalmente entendidos. E vejo que você não está nos mesmos desafios, você está fazendo desse lugar, o seu laboratório particular. E te agradeço compartilhar comigo, que escola, não tem preço. Fico te devendo essa para o resto da minha vida. Põe na minha conta. essa conta está ficando astronomica, não vou conseguir pagar nessa vida. O lado bom é nascer de novo tendo você por perto! ahahahaha

 

Até entendo a negligência e os maus tratos, as injustiças, não foi pouca coisa, mas ainda assim, agora você tirou de letra, ainda zoando a galera, vai, agora é necessário aceitar e seguir. Você tem que se cuidar melhor. Vejo que está fazendo isso. E que tem altos e baixos. Para não dizer que está nota 10, talvez o único que te diria é para cuidar da sua parte física, que talvez te cause uma irritabilidade maior do que a necessária, e com isso, essa irritabilidade afasta as pessoas e não é justo com você. Exatamente isso. Hoje percebo que você anda meio irritadinha. E as pessoas do bem em volta de você, simplesmente se incomodam com essa “irritação”, e as pessoas do mal, ao seu redor, usam isso contra você, porque começam a apertar nos botões exatos que te irritam, começam a jogar com isso. Concorda? É dar arma para bandido. E você está rodeada deles.

 

Querida, vai fundo, salta, estou assistindo de camarote. Você é a menina do primeiro raio. Quando falei disso lá atrás, éramos adolescentes, mas nunca estive tão certa. Primeiro Raio Total. Bj, me liga.