A clínica é realmente fascinante. Carregamos uma enorme responsabilidade, pois o paciente deposita em nós expectativas altíssimas. Ele acredita que podemos ajudá-lo, e muitas vezes somos surpreendidos. Como não se emocionar diante disso?
Segue um trecho do relato de uma dessas pacientes. O que ela talvez não saiba é o quanto ela me ajuda, muito mais do que eu a estou ajudando.
- - - - - - - - - - -
Quase perdi tudo, tudo mesmo. Quase não sobrou mais nada.
Foi um daqueles momentos em que o peso da vida parece tomar conta de tudo e, de repente, você percebe que está no limite, à beira do abismo, sem saber se vai conseguir dar o próximo passo. O que parecia certo desmoronou, e tudo o que eu acreditava ter construído se dissipou diante de mim como areia escorrendo pelas mãos. Foi um turbilhão de decisões erradas, de caminhos que tomei sem pensar nas consequências, e da sensação de estar vivendo em um ciclo sem fim de frustração e medo.
Aos poucos, vi a minha vida se desintegrando. Relacionamentos que pareciam sólidos se quebraram com palavras não ditas, com atitudes impulsivas, com mentiras que foram ficando cada vez mais difíceis de sustentar. Minhas escolhas me afastaram das pessoas que mais importavam, e eu vi as portas se fechando uma a uma. As amizades, aquelas que eu pensava que seriam para sempre, começaram a se desfazer como névoa ao amanhecer. O que restava eram os ecos vazios do que foi perdido, os fragmentos de algo que já não fazia mais sentido.
E a vida não era mais uma questão de escolhas – era uma questão de sobrevivência. Eu estava lutando para manter a cabeça acima da água, mas cada vez mais me sentia afundando. O medo de perder mais, de ver tudo desaparecer, era insuportável. E eu quase perdi tudo. Minhas certezas, minha confiança, minha paz... tudo parecia ter se ido. Olhei para mim mesma e não consegui encontrar mais quem eu era, o que me fazia sorrir, o que me dava forças para seguir.
Naquele ponto, foi como se tivesse chegado ao fundo do poço. Não havia mais para onde ir. O que parecia impossível de ser reconstruído era a única coisa que eu poderia tentar salvar – a mim mesma. E, então, comecei a perceber que, embora quase nada tivesse sobrado, ainda havia algo dentro de mim que não tinha sido totalmente destruído: a minha vontade de recomeçar.
Aos poucos, foi preciso aceitar que a perda faz parte do processo de crescimento, e que não se reconstrói algo sem antes dar espaço para o novo. Quase perdi tudo, mas o que restou foi a oportunidade de aprender com cada erro, com cada falha. Porque, mesmo quando a vida nos leva ao limite, sempre existe a chance de começar de novo, de resgatar o que é essencial. O que eu pensava que era o fim, acabou sendo a oportunidade de renascer e, finalmente, entender o quanto a perda pode nos ensinar a revalorizar o que realmente importa.
Quase perdi tudo, mas o que ficou foi mais forte do que tudo o que eu pensava ter perdido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário