Escrever é, muitas vezes, um ato de coragem. É enfrentar o inominável e tentar colocar em palavras aquilo que me parece escapar por entre os dedos. É dar forma ao que não se compreende totalmente, como se cada palavra fosse um esforço de resgatar uma parte de mim que caiu e se perdeu pelo caminho.
Há momentos em que o ato de escrever flui naturalmente, como se o papel fosse um espelho que reflete minhas emoções, pensamentos e memórias. Mas há também aqueles períodos de silêncio, quando escrever se torna impossível, porque as palavras parecem pequenas demais diante daquilo que estou vivendo ou sentindo.
Estar sem escrever pode ser uma pausa necessária, um espaço para que as minhas feridas cicatrizem. Talvez seja um sinal de que algo dentro de mim está se organizando, encontrando novos significados, construindo uma narrativa para o que parecia ser puro caos. Por outro lado, o silêncio pode também carregar o peso da desesperança, aquele vazio que me impede de acreditar que as palavras têm algum poder para traduzir o que estou vivendo.
A dúvida entre a cura e a desesperança, nesse caso, é compreensível? Escrever é um movimento para fora, uma tentativa de conexão com o outro e com o mundo. Quando as palavras não vêm, fico em suspenso nesse limbo: estou me reconstruindo ou apenas me isolando?
Mas talvez a ausência de escrita seja, por si só, minha forma de comunicação. O silêncio também fala, e muitas vezes ele me ensina mais do que eu gostaria de admitir. Ele revela os momentos em que preciso olhar para dentro, cuidar do que está machucado, antes de permitir que as palavras façam o seu trabalho de cura.
O ato de escrever pode voltar quando menos espero, como um reflexo da minha própria reconstrução. Não há pressa. Seja no silêncio ou nas palavras, estou lidando com o impossível: traduzindo experiências, dores e esperanças em algo que possa ser compreendido, ainda que imperfeitamente.
E talvez seja isso o que mais importa: saber que, mesmo quando as palavras me falham, o processo continua. A escrita, como a vida, é feita de ciclos — e sempre há espaço para recomeçar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário