2023
Há anos que giram, transformam, mudam trajetórias. E há aqueles que capotam—destruindo certezas, arrancando bases, deixando um rastro de silêncio e perguntas sem resposta.
Foi um desses anos. Um período marcado pela perda, pelo luto, pela sensação de que o chão cedeu sem aviso. A despedida de uma amizade que parecia para sempre, a ausência materna transformada em um vazio impossível de preencher, o golpe inesperado da instabilidade profissional. Cada novo acontecimento foi um choque, um teste da resistência humana.
Houve momentos em que o peso da dor foi insuportável. Sensação de aperto, pensamento focado nas injustiças, o nó na garganta diante de despedidas inevitáveis, a revolta silenciosa contra tudo o que foi tirado sem aviso ou explicação.
E como se não bastasse, veio a batalha contra o próprio corpo. Um diagnóstico que mudou tudo, que exigiu uma coragem que talvez nem existisse até então. Lidar com a fragilidade, com o medo, com a necessidade de ser forte quando tudo dentro gritava o contrário.
E, ainda assim, mesmo nos escombros, um passo foi dado. Uma escolha de recomeço, um novo caminho traçado em meio ao caos. O peso da dor não desapareceu, foi transformado. O que antes era apenas perda, tornou-se o impulso para reconstrução.
Porque, no fim das contas, há algo de extraordinário em sobreviver a um ano que parecia insuportável. Há força em continuar, mesmo quando tudo diz para parar. Há coragem em aprender a respirar novamente, mesmo depois de ter sido afogado.
Nem sempre a vida permite recomeços suaves. Às vezes, é preciso reconstruir a partir dos destroços e em tempo recorde.
E, mesmo sem respostas, sem certezas, sem a promessa de um amanhã mais fácil, seguir em frente já é, por si só, um ato de resistência.
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