Resiliência. Uma palavra repetida à exaustão, desgastada pelo uso excessivo. Virou slogan motivacional, enfeite de legenda, uma promessa de superação que chama muita atenção nas redes. Mas a resiliência verdadeira não tem nada de glamourosa. Ela acontece nos silêncios. Nos momentos em que a vida rasga, arranca as certezas e obriga a continuar, sem nenhuma garantia de que algo vá melhorar.
Ela não é um troféu que se exibe, nem um estado de espírito elevado. Ela é um instinto. Acontece quando a vida arranca tudo e você, sem alternativas, continua. Não porque é forte, não porque escolheu ser resiliente, mas porque faz parte da espécie humana lutar pela sobrevivência. Você não conduz, você é levado. Muitos ficam pelo caminho!
A resiliência não é teatral. Não é sobre curtidas, não é acompanhada de trilha sonora inspiradora. Ela mora nos olhos inchados depois da noite mal dormida. No aperto, no desespero que bate antes de levantar da cama. Na coragem de seguir em frente quando nada mais faz sentido.
A resiliência não está na foto bem iluminada de quem superou uma fase difícil e agora ostenta felicidade plena. Ela está no caos, no escuro da madrugada, quando ninguém vê. No cansaço extremo de quem já perdeu demais, mas ainda se arrasta adiante.
O que ninguém diz é que a vida vai te derrubar. Muitas e muitas vezes.
Vai ser quando você perder alguém sem aviso. Quando a injustiça for tão grande que te sufocar. Quando você perder algo que estruturava sua existência e perceber que ninguém vai te salvar. Vai ser quando o chão sumir, e você entender que o que chamavam de “recomeço” é, na verdade, um longo período de confusão, incerteza e medo.
E a vida vai te testar.
Nessas horas, não há frases motivacionais que deem conta. Só há o dia seguinte. E depois mais um. E outro.
Nessas horas, resiliência não é sobre se levantar com bravura, mas sobre seguir mesmo sem força. Não tem poesia, não tem estética, apenas uma sequência de dias em que você acorda e faz o que dá.
Porque a resiliência não é sobre vencer sempre. É sobre perder, quebrar, cair, duvidar de si mesmo – e, ainda assim, continuar.
E, pouco a pouco, você muda.
As perdas reconfiguram tudo. O que antes parecia importante se dissolve. O medo de desapontar os outros perde relevância. A busca incessante por reconhecimento se esgota. O que sobra são os poucos e bons amigos - muito poucos, na verdade.
O desejo nasce da falta, da ausência, e a sua história é feita do que faltou tanto quanto do que sobrou.
O sucesso deixa de ser uma linha de chegada e passa a ser simplesmente existir. Estar ali. Respirando. Sendo.
E no fim das contas, a maior vitória não é nunca ter caído. É ter continuado.
Sem precisar chamar isso de resiliência.
Sem precisar provar nada para ninguém.
Sem precisar publicar nada sobre isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário