A vida é, por essência, uma jornada de transformações. Desde o instante em que nascemos, somos lançados em um fluxo constante, onde cada momento traz algo novo, mas também nos tira algo que parecia eterno. Quando jovens, sabemos, de forma abstrata, que "tudo passa". É um mantra repetido por pais, professores e pelos textos filosóficos que nos atravessam. No entanto, essa ideia parece mais uma lição moral do que uma verdade tangível. Não é algo que compreendemos profundamente até que sentimos em nossa própria pele a impermanência das coisas.
O que é tão fascinante — e ao mesmo tempo doloroso — é que só percebemos o quanto algo era valioso quando ele deixa de existir tal como conhecíamos. Relacionamentos, amizades, fases da vida, os sonhos que outrora pareciam brilhantes e inabaláveis… tudo, inevitavelmente, muda de forma. Talvez seja um paradoxo humano: enquanto entendemos intelectualmente a ideia de que "tudo passa", emocionalmente nos agarramos ao desejo de permanência, como se pudéssemos prender o tempo em nossas mãos, impedir a areia de escorrer pela ampulheta.
Por que isso nos afeta tanto? Talvez porque, no fundo, associamos o que já foi a uma ideia de segurança. O passado, conhecido, traz uma nostalgia, uma sensação de que, em algum momento, éramos mais inteiros, mais plenos, mais felizes. É como se houvesse uma linha divisória invisível entre o "antes" e o "agora", e o antes sempre carregasse uma aura de perfeição — mesmo que, na época, não soubéssemos disso.
Quando chega o momento em que nos damos conta de que "acabou" — que o momento passou, que a fase mudou, que a pessoa foi embora —, somos confrontados com o vazio da transição. O que fazer com isso? Para onde ir quando o "novo" ainda não tem forma e o "antigo" é apenas uma lembrança? É aí que mora a dor, mas também a beleza da vida. Pois, apesar de tudo, esse movimento é o que nos torna humanos. É no confronto com as perdas e transformações que crescemos, nos renovamos e descobrimos novos sentidos.
A literatura e a filosofia sempre buscaram respostas para essa experiência universal. O filósofo já dizia que "ninguém entra no mesmo rio duas vezes, porque as águas já não são as mesmas, e nem a pessoa é a mesma". Essa frase sintetiza a essência da mudança: não há como voltar atrás. O rio segue seu curso, assim como a vida. Por outro lado, o poeta nos lembra de que "tudo vale a pena se a alma não é pequena". É um chamado para ressignificar as perdas, enxergando nelas não apenas o fim de algo, mas o começo de uma nova jornada.
O que fazer, então, quando percebemos que nada será como antes? Talvez a resposta esteja na aceitação. Aceitar que o fluxo da vida é inevitável e que, ao invés de resistirmos a ele, devemos aprender a flutuar. É na transformação que encontramos espaço para crescer e, quem sabe, descobrir novas formas de alegria. Isso não significa ignorar a saudade ou a tristeza — pelo contrário, esses sentimentos fazem parte do processo. Mas é importante não se prender ao que já foi, porque isso nos impede de enxergar o que ainda pode ser.
O futuro não promete permanência, mas ele traz a possibilidade de novas experiências, novas memórias e, talvez, novas formas de felicidade. A dor da mudança nos ensina a valorizar o presente — a única coisa que, de fato, temos. Tudo passa, sim, mas é exatamente isso que dá significado àquilo que vivemos. Saber que um momento é único, que ele não voltará, nos convida a vivê-lo com intensidade, sem reservas.
Ao olharmos para as perdas da vida, podemos enxergá-las não como o fim, mas como parte de um ciclo maior. A saudade será sempre nossa companheira, mas, com ela, vem também a certeza de que fomos capazes de viver algo que valeu a pena. E, mesmo que o que era já não seja mais, o que virá ainda pode surpreender, encantar e preencher os espaços vazios deixados pelo tempo.
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