Introdução

A forma como nos apresentamos reflete nossa autoconfiança e influencia nossas relações. Unimos psicologia, tecnologia, estilo e organização para oferecer uma experiência transformadora. Os estilistas ajudam você a expressar sua personalidade por meio de roupas, acessórios e cores que se alinhem ao seu estilo de vida e objetivos. Já os organizadores otimizam seu espaço físico para que reflita quem você é e atenda suas necessidades práticas. Trago textos do cotidiano a partir da minha vivência no mundo corporativo de tecnologia, com o olhar da psicologia. Falamos de Inteligência Artificial, Metaverso, Luto, Ansiedade, Carreira, Relacionamentos, entre outras coisas.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Enganos na infância

A infância é o período em que o alicerce da confiança é erguido, e são os vínculos com os cuidadores que oferecem à criança uma base para compreender o mundo e a si mesma. No entanto, quando o ambiente é marcado por enganos, promessas quebradas ou incoerências, a criança não apenas perde a segurança no outro, mas também no próprio desejo, construindo uma trajetória marcada pela dificuldade em confiar e em formar vínculos significativos.

Freud nos lembra, em seus estudos sobre o desamparo original do ser humano, que o sujeito, ao nascer, é completamente dependente do outro. O cuidador é investido como um “próximo auxiliar” que não só supre as necessidades básicas da criança, mas também modela sua relação com a confiança. Quando esse cuidador engana ou frustra de forma inconsistente e imprevisível, o psiquismo infantil registra o mundo como um lugar potencialmente hostil, o que pode gerar, em termos freudianos, uma fixação em experiências traumáticas e uma repetição compulsiva desse modelo de relação.

Melanie Klein, ao explorar as relações objetais, aprofunda essa perspectiva ao introduzir a ideia de que, no início da vida, a criança projeta no objeto (seja este a mãe ou o cuidador) suas angústias e desejos. Quando o objeto se revela frustrante ou enganador, a criança pode experienciar sentimentos persecutórios que se cristalizam na posição esquizoparanoide. O engano, nesse contexto, pode levar a uma cisão psíquica, onde o outro é vivenciado como “bom” e “mau” de forma fragmentada, dificultando a integração posterior. Essa fragmentação prejudica a capacidade de estabelecer vínculos confiáveis e seguros, uma vez que a experiência de traição no início da vida é internalizada e projetada nos relacionamentos futuros.

Winnicott, por sua vez, introduz o conceito de ambiente suficientemente bom, essencial para o desenvolvimento do self verdadeiro. Ele afirma que, para que a criança possa confiar em si e nos outros, é necessário que o ambiente ofereça previsibilidade e acolhimento. Quando o ambiente é marcado por enganos constantes, o self verdadeiro pode se esconder, dando lugar a um self falso que se molda para lidar com a imprevisibilidade e a insegurança. Winnicott argumenta que a confiança nasce na consistência do cuidado: "É no brincar e somente no brincar que a criança descobre a si mesmo" — e essa descoberta só é possível quando o ambiente oferece segurança emocional.

Já Lacan nos alerta sobre o papel estruturante do Outro no campo simbólico. Para ele, o sujeito é constituído a partir do desejo do Outro, mas também das falhas e lacunas desse Outro. Quando o outro primordial, representado pelo cuidador, engana ou trai de forma reiterada, o sujeito pode vivenciar a falta de garantia no simbólico, o que impacta sua relação com a alteridade. O matema do fantasma, conforme formulado por Lacan, ilustra como o sujeito se posiciona em relação ao desejo do Outro e à falta que o atravessa. Um sujeito que cresceu sob o peso do engano pode estruturar um fantasma onde o outro é sempre potencialmente traiçoeiro, perpetuando a dificuldade de confiar.

O impacto desse cenário se estende para a vida adulta, onde os laços afetivos podem ser marcados por desconfiança, retraimento emocional e medo de abandono. A dificuldade em confiar não é uma fraqueza, mas uma defesa construída a partir da experiência de traição. Freud aponta, em sua teoria sobre o trauma, que as defesas psíquicas são estratégias de sobrevivência frente ao insuportável. Assim, a desconfiança crônica é, antes de tudo, uma tentativa do sujeito de proteger-se de novas feridas.

No entanto, a psicanálise também nos ensina que é possível elaborar essas marcas. Klein nos oferece o conceito de posição depressiva, um momento em que o sujeito consegue integrar as partes boas e más do objeto, reconhecendo sua ambivalência sem se fragmentar. Da mesma forma, Winnicott nos lembra que um vínculo reparador, mesmo na vida adulta, pode restaurar a confiança perdida, desde que ofereça um espaço suficientemente bom para que o sujeito se permita experimentar a previsibilidade e a segurança que lhe faltaram no início da vida.

Por fim, Lacan nos desafia a considerar que, para além das feridas do engano, o sujeito pode encontrar uma saída na travessia do fantasma. Enfrentar o fantasma da traição — aquele que nos faz enxergar o outro como um eterno risco — é uma forma de reposicionar-se frente ao desejo, aceitando a falta como inerente ao campo do Outro, mas não como uma sentença de isolamento.

A confiança, então, é uma travessia. Não é construída sem rupturas, nem sem confrontar as sombras do passado. Contudo, a psicanálise nos oferece ferramentas para entender que mesmo os laços rompidos na infância podem ser reelaborados, abrindo espaço para vínculos mais saudáveis e autênticos. Afinal, como diz Winnicott, "não existe algo como um bebê sem um ambiente", e é no reencontro com um ambiente acolhedor que a possibilidade de confiar pode renascer.

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