Introdução

A forma como nos apresentamos reflete nossa autoconfiança e influencia nossas relações. Unimos psicologia, tecnologia, estilo e organização para oferecer uma experiência transformadora. Os estilistas ajudam você a expressar sua personalidade por meio de roupas, acessórios e cores que se alinhem ao seu estilo de vida e objetivos. Já os organizadores otimizam seu espaço físico para que reflita quem você é e atenda suas necessidades práticas. Trago textos do cotidiano a partir da minha vivência no mundo corporativo de tecnologia, com o olhar da psicologia. Falamos de Inteligência Artificial, Metaverso, Luto, Ansiedade, Carreira, Relacionamentos, entre outras coisas.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Você tem desejo de travessia?

Na linguagem da psicanálise, a travessia remete ao enfrentamento das nossas faltas, das nossas angústias e das nossas fantasias mais profundas. É um percurso de desconstrução e reconstrução, que nos desafia a sair de uma posição fixa — frequentemente confortável, mas paralisante — em direção a algo desconhecido, mas genuinamente nosso. A travessia não é só movimento físico ou externo; é uma jornada interna, um desejo de transformar o que está cristalizado em algo vivo e pulsante.

Freud já nos alertava sobre o caráter pulsional do desejo, essa força que nos move, nos incomoda e nos leva a buscar algo além. Mas o desejo de travessia não é apenas um desejo de buscar o outro ou um objeto perdido; é um desejo de atravessar a própria condição humana, marcada pela incompletude. É reconhecer que, para viver, precisamos lidar com a falta, com o vazio, com o incômodo de não sermos inteiros.

Lacan diria que o desejo nunca é algo que se satisfaz completamente; ele é sempre o desejo de "algo mais". E a travessia exige coragem para encarar o "a mais" do desejo, esse resto que não pode ser simbolizado ou preenchido. Em sua teoria, Lacan nos apresenta o conceito do matema do fantasma ($ ◇ a), onde o sujeito se coloca em relação a seu objeto de desejo (o objeto a) por meio de uma fantasia que organiza e sustenta sua existência. A travessia do fantasma, como propõe Lacan, é o momento em que o sujeito confronta essa estrutura fantasmática que o amarra, que lhe dá uma falsa segurança, mas que também o aprisiona.

A travessia do fantasma não implica destruir ou eliminar o desejo, mas deslocá-lo, desidentificando-se da fantasia que organiza seu modo de se relacionar com o mundo e consigo mesmo. É nesse movimento que o sujeito se liberta da ilusão de completude oferecida pelo fantasma e se abre para o real — esse lugar que Lacan define como aquilo que escapa à simbolização, aquilo que nunca cessa de não se inscrever. 

A travessia, então, não é encontrar respostas definitivas ou "resolver" a falta, mas sustentar-se na angústia e nas incertezas que ela traz. É no espaço entre a demanda (aquilo que queremos do outro) e o desejo (aquilo que realmente nos move) que a travessia se desenha. Muitas vezes, ficamos presos na repetição, nas mesmas escolhas, nos mesmos caminhos, porque é mais seguro permanecer no conhecido do que arriscar-se no novo. Mas o desejo de travessia nos convida a romper com essa lógica, a questionar o "por que continuo aqui?" ou "o que espero encontrar repetindo o mesmo roteiro?".

A travessia implica perda. Implica abrir mão de identificações antigas, de certezas confortáveis, de lugares onde nos protegemos do que nos dói. É preciso perder para encontrar. Winnicott, ao falar sobre o processo de amadurecimento, aponta que só nos tornamos verdadeiramente criativos e autênticos quando conseguimos suportar a perda da onipotência, a frustração e a realidade do outro como diferente de nós. E isso, inevitavelmente, faz parte da travessia.

No fim das contas, o desejo de travessia é o desejo de ser sujeito, de se responsabilizar pela própria história. Não se trata de saber exatamente onde vamos chegar, mas de não aceitar permanecer onde estamos quando o que pulsa dentro de nós pede movimento. A travessia é o ato mais radical de criação de si mesmo, um percurso em que aprendemos a viver com a falta e, ainda assim, a encontrar sentido nela.

Então, eu pergunto: você tem desejo de travessia?

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Enganos na infância

A infância é o período em que o alicerce da confiança é erguido, e são os vínculos com os cuidadores que oferecem à criança uma base para compreender o mundo e a si mesma. No entanto, quando o ambiente é marcado por enganos, promessas quebradas ou incoerências, a criança não apenas perde a segurança no outro, mas também no próprio desejo, construindo uma trajetória marcada pela dificuldade em confiar e em formar vínculos significativos.

Freud nos lembra, em seus estudos sobre o desamparo original do ser humano, que o sujeito, ao nascer, é completamente dependente do outro. O cuidador é investido como um “próximo auxiliar” que não só supre as necessidades básicas da criança, mas também modela sua relação com a confiança. Quando esse cuidador engana ou frustra de forma inconsistente e imprevisível, o psiquismo infantil registra o mundo como um lugar potencialmente hostil, o que pode gerar, em termos freudianos, uma fixação em experiências traumáticas e uma repetição compulsiva desse modelo de relação.

Melanie Klein, ao explorar as relações objetais, aprofunda essa perspectiva ao introduzir a ideia de que, no início da vida, a criança projeta no objeto (seja este a mãe ou o cuidador) suas angústias e desejos. Quando o objeto se revela frustrante ou enganador, a criança pode experienciar sentimentos persecutórios que se cristalizam na posição esquizoparanoide. O engano, nesse contexto, pode levar a uma cisão psíquica, onde o outro é vivenciado como “bom” e “mau” de forma fragmentada, dificultando a integração posterior. Essa fragmentação prejudica a capacidade de estabelecer vínculos confiáveis e seguros, uma vez que a experiência de traição no início da vida é internalizada e projetada nos relacionamentos futuros.

Winnicott, por sua vez, introduz o conceito de ambiente suficientemente bom, essencial para o desenvolvimento do self verdadeiro. Ele afirma que, para que a criança possa confiar em si e nos outros, é necessário que o ambiente ofereça previsibilidade e acolhimento. Quando o ambiente é marcado por enganos constantes, o self verdadeiro pode se esconder, dando lugar a um self falso que se molda para lidar com a imprevisibilidade e a insegurança. Winnicott argumenta que a confiança nasce na consistência do cuidado: "É no brincar e somente no brincar que a criança descobre a si mesmo" — e essa descoberta só é possível quando o ambiente oferece segurança emocional.

Já Lacan nos alerta sobre o papel estruturante do Outro no campo simbólico. Para ele, o sujeito é constituído a partir do desejo do Outro, mas também das falhas e lacunas desse Outro. Quando o outro primordial, representado pelo cuidador, engana ou trai de forma reiterada, o sujeito pode vivenciar a falta de garantia no simbólico, o que impacta sua relação com a alteridade. O matema do fantasma, conforme formulado por Lacan, ilustra como o sujeito se posiciona em relação ao desejo do Outro e à falta que o atravessa. Um sujeito que cresceu sob o peso do engano pode estruturar um fantasma onde o outro é sempre potencialmente traiçoeiro, perpetuando a dificuldade de confiar.

O impacto desse cenário se estende para a vida adulta, onde os laços afetivos podem ser marcados por desconfiança, retraimento emocional e medo de abandono. A dificuldade em confiar não é uma fraqueza, mas uma defesa construída a partir da experiência de traição. Freud aponta, em sua teoria sobre o trauma, que as defesas psíquicas são estratégias de sobrevivência frente ao insuportável. Assim, a desconfiança crônica é, antes de tudo, uma tentativa do sujeito de proteger-se de novas feridas.

No entanto, a psicanálise também nos ensina que é possível elaborar essas marcas. Klein nos oferece o conceito de posição depressiva, um momento em que o sujeito consegue integrar as partes boas e más do objeto, reconhecendo sua ambivalência sem se fragmentar. Da mesma forma, Winnicott nos lembra que um vínculo reparador, mesmo na vida adulta, pode restaurar a confiança perdida, desde que ofereça um espaço suficientemente bom para que o sujeito se permita experimentar a previsibilidade e a segurança que lhe faltaram no início da vida.

Por fim, Lacan nos desafia a considerar que, para além das feridas do engano, o sujeito pode encontrar uma saída na travessia do fantasma. Enfrentar o fantasma da traição — aquele que nos faz enxergar o outro como um eterno risco — é uma forma de reposicionar-se frente ao desejo, aceitando a falta como inerente ao campo do Outro, mas não como uma sentença de isolamento.

A confiança, então, é uma travessia. Não é construída sem rupturas, nem sem confrontar as sombras do passado. Contudo, a psicanálise nos oferece ferramentas para entender que mesmo os laços rompidos na infância podem ser reelaborados, abrindo espaço para vínculos mais saudáveis e autênticos. Afinal, como diz Winnicott, "não existe algo como um bebê sem um ambiente", e é no reencontro com um ambiente acolhedor que a possibilidade de confiar pode renascer.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Solidão

A solidão, frequentemente entendida como um estado de isolamento, vai além da simples ausência de companhia. Ela pode ser sentida em meio a uma multidão ou na quietude de um quarto vazio. Não é apenas a falta de pessoas ao redor, mas a sensação de desconexão, como se as palavras trocadas e os olhares recebidos não fossem suficientes para preencher um vazio interno.

Esse sentimento, tão comum e ao mesmo tempo tão singular, é muitas vezes visto como algo negativo. A solidão pode, de fato, ser dolorosa. Ela nos confronta com a nossa própria existência, com nossas vulnerabilidades e medos mais profundos. Em um mundo que valoriza conexões constantes e a superexposição nas redes sociais, estar só pode parecer um fracasso. No entanto, a solidão também carrega consigo uma potência transformadora.

Há, na solidão, uma oportunidade para o autoconhecimento. Quando nos distanciamos do ruído externo, temos a chance de ouvir nossa própria voz, de compreender nossas necessidades e sonhos mais íntimos. Momentos de solidão podem nos reconectar com nossa essência e nos ajudar a cultivar uma relação mais honesta conosco mesmos. É nesse espaço de solitude que muitas vezes surgem reflexões criativas, ideias ousadas e uma nova perspectiva sobre a vida.

A diferença entre solidão e solitude, aliás, é crucial. Enquanto a primeira pode ser um fardo, a segunda é uma escolha consciente de estar consigo mesmo. A solitude permite um encontro consigo sem as distrações do mundo externo, enquanto a solidão, quando não compreendida, pode trazer sentimentos de abandono e vazio.

Ao longo da vida, todos nós experimentamos a solidão em alguma medida. Ela pode ser transitória, como após uma mudança ou uma perda, ou persistente, como nos casos em que o isolamento se torna um padrão. Nessas situações, é fundamental buscar apoio. Conversar com amigos, familiares ou até profissionais pode transformar a experiência da solidão em uma oportunidade de reconexão com o mundo e com os outros.

Reconhecer a solidão como parte da experiência humana é essencial. Ela nos lembra de que somos seres interdependentes, mas também de que precisamos, ocasionalmente, do silêncio e da introspecção. Abraçar a solidão, sem medo ou julgamento, pode ser o primeiro passo para encontrar sentido e significado em momentos que, à primeira vista, parecem desprovidos de luz.

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Psicologia em função do trauma

O que se quis dizer com "Psicologia em Função do Trauma" parece estar relacionado a uma abordagem terapêutica que coloca o trauma no centro do entendimento e do tratamento das questões psicológicas. Em vez de apenas olhar para os sintomas ou comportamentos isolados, essa perspectiva propõe que muitos dos problemas que as pessoas enfrentam, tanto em nível emocional quanto psicológico, podem ter raízes em experiências traumáticas passadas, muitas vezes não resolvidas ou ainda ativas.

Ao estudar a Psicologia em função do trauma, os profissionais se concentrariam em identificar e tratar esses traumas subjacentes, que podem ser de diversas naturezas — desde eventos claramente traumáticos, como abusos, perdas significativas, ou acidentes, até traumas mais sutis, como negligência emocional ou falta de apego saudável na infância. O conceito de trauma, nesse contexto, vai além da ideia de um evento isolado; ele envolve também como o indivíduo internaliza e lida com essas experiências ao longo do tempo.

O atendimento psicológico, então, seria mais direcionado a compreender como o trauma impacta a pessoa, molda sua percepção de si mesma, dos outros e do mundo, e influencia suas reações, relações e comportamentos. A ideia é tratar as feridas emocionais causadas por esses traumas, com um foco em restabelecer a saúde mental e emocional, ajudando os indivíduos a processar e superar essas experiências, em vez de apenas mascarar os sintomas ou aliviar momentaneamente a dor.

Em resumo, a Psicologia em Função do Trauma coloca a experiência traumática como um ponto central na compreensão do sofrimento humano e propõe um modelo terapêutico que visa não só aliviar sintomas, mas também curar as raízes desses traumas, promovendo um processo de ressignificação e recuperação profunda. Isso implica uma mudança de paradigma na prática psicológica, mais sensível às experiências adversas que moldam o comportamento e a saúde mental das pessoas.

Dia da Marmota

O "Dia da Marmota", termo que se popularizou após o filme homônimo, encapsula uma sensação que muitos experimentam na vida cotidiana: a repetição incessante de um ciclo, onde, apesar de fazer a sua parte, os dias parecem ser uma contínua repetição sem grandes variações, um processo em que se vai "levando" sem grandes avanços ou mudanças substanciais. O filme, que mostra o protagonista preso a um mesmo dia repetido infinitamente, oferece uma metáfora perfeita para a sensação de estagnação que muitos sentem ao longo de suas jornadas pessoais e profissionais.

Nessa dinâmica de "ir levando", muitas pessoas se veem cumprindo suas responsabilidades, realizando suas tarefas, mantendo suas rotinas, mas com a sensação de que estão apenas sobrevivendo ao invés de realmente vivendo. Cada dia começa e termina com uma leve sensação de frustração ou cansaço, como se, por mais que o tempo passe, o progresso real fosse mínimo ou quase inexistente. Como a marmota no filme, que repete o mesmo ciclo sem conseguir escapar, há uma sensação de que a vida é feita de uma série de movimentos automáticos, onde a satisfação e a realização são raros e distantes.

A repetição pode ser exaustiva. Quando se está preso nesse "Dia da Marmota da vida real", o esforço em fazer as coisas certas parece não trazer o retorno esperado. Você se vê cumprindo suas obrigações, respondendo às demandas de trabalho, relacionamento e até mesmo autocuidado, mas parece que o verdadeiro prazer e as conquistas estão sempre um passo à frente, inalcançáveis. O cansaço de viver sem grandes surpresas ou mudanças cria um desgaste interno que pode se traduzir em desânimo, dúvida e, por vezes, até em desesperança.

As "pequenas vitórias" que se experimenta, como cumprir um prazo, resolver um problema ou até realizar um projeto pessoal, podem ser preenchidas por uma sensação efêmera de satisfação. No entanto, logo após o êxito, a rotina volta, e com ela, a familiaridade do "ir levando". É como se as conquistas não fossem suficientes para quebrar o ciclo repetitivo, e a sensação de estar estagnado persiste.

O principal componente dessa sensação de "ir levando" é a escassez de momentos que tragam uma satisfação plena e duradoura. Embora algumas atividades e interações possam trazer alívio momentâneo ou um prazer passageiro, a satisfação verdadeira e profunda parece escapar, como água que escorre pelas mãos. O trabalho, as relações, as atividades diárias não parecem mais proporcionar aquela sensação de realização que talvez tenham proporcionado no passado. O prazer se torna pontual, fugaz, enquanto a sensação de vazio e de repetição torna-se predominante.

É possível que, mesmo nos momentos de alegria ou sucesso, haja uma voz interior que questiona: “E depois, o que vem?” Isso se torna uma constante, onde até as boas notícias, as conquistas pessoais, e os momentos de prazer parecem se diluir rapidamente, dando lugar a uma nova expectativa de satisfação que nunca se concretiza. Esse vazio existe porque, apesar de fazer a sua parte, você não sente que está fazendo algo por você, mas apenas reagindo aos eventos da vida como se estivesse em um modo automático.

No entanto, é possível transformar esse ciclo. A primeira parte desse processo está em reconhecer que a sensação de estar "ir levando" é, de certa forma, uma escolha inconsciente. Pode ser que, em meio ao desgaste, ao trabalho e às obrigações, você tenha deixado de lado algumas partes essenciais de si mesma. A chave está em reconhecer onde você tem se perdido no meio do caminho, e o que você realmente quer e precisa para viver de forma mais autêntica e satisfatória.

A mudança começa ao resgatar momentos de prazer genuíno e satisfação em atividades que alimentem sua alma. Não se trata apenas de realizar tarefas para cumprir obrigações, mas de encontrar uma conexão mais profunda com aquilo que faz você se sentir realmente viva, tanto no trabalho quanto nas relações pessoais. Às vezes, a resposta está em mudar pequenas rotinas ou mesmo a maneira de encarar as tarefas diárias, buscando a gratificação não na repetição em si, mas no significado que você confere a elas.

Encontrar um equilíbrio entre as obrigações e o prazer de existir, entre as exigências do mundo externo e os desejos internos, é o caminho para quebrar a repetição da marmota. Isso não significa que a vida se tornará um grande espetáculo de eventos grandiosos, mas que você será capaz de reconhecer e valorizar as pequenas conquistas, as pausas, os momentos de reflexão, os encontros genuínos. Essas pequenas mudanças podem ser o começo de uma jornada para uma vida mais plena, onde, apesar da rotina, a satisfação não se torna uma ilusão distante, mas uma realidade possível.

A verdade é que, muitas vezes, os momentos de insatisfação são mais um reflexo de um processo de transformação que está acontecendo por baixo da superfície. O ciclo de "ir levando" pode ser o terreno fértil para o crescimento pessoal, onde, ao se sentir desconfortável e em busca de algo mais, você começa a explorar novos caminhos. Às vezes, o desgaste e a repetição são o sinal de que é hora de se questionar sobre os próprios padrões, sobre o que realmente vale a pena e sobre o que você quer para si no futuro.

Assim, o "Dia da Marmota" não precisa ser um destino definitivo. Pode ser o ponto de partida para uma mudança de perspectiva. A cada repetição, você tem a oportunidade de se reinventar, de fazer escolhas mais alinhadas com quem você realmente é. E, ao olhar com mais atenção para os momentos pequenos, mas significativos, você perceberá que a satisfação pode estar presente onde menos espera — em uma conversa, em um gesto, em um momento de introspecção.

A vida pode continuar com suas repetições, mas com uma nova visão, com a capacidade de criar prazer nas pequenas vitórias cotidianas. E talvez, ao perceber isso, você descubra que o ciclo, que antes parecia infinito e sem propósito, está, na verdade, te levando para um lugar de crescimento e autoconhecimento que, um dia, será o próprio antídoto para o desgaste da repetição.

Está Difícil Ser Protagonista

Ser protagonista é, em muitos aspectos, um desafio monumental nos dias de hoje. Em uma sociedade saturada de demandas, expectativas e influências externas, o ato de assumir um papel ativo e central na própria vida se torna um terreno instável. A ideia de protagonismo, frequentemente associada ao controle, à decisão e à autonomia, parece mais distante do que nunca. Estamos imersos em um ambiente que exige respostas rápidas e sucessos constantes, mas ao mesmo tempo nos coloca em uma posição de insegurança e fragilidade, onde muitas vezes não sabemos o que fazer com as escolhas que nos são dadas.

A dificuldade em ser protagonista está diretamente relacionada a um mundo que exige que sejamos multitarefas, adaptáveis e eficazes o tempo todo, enquanto nos sentimos cada vez mais sobrecarregados, ansiosos e perdidos. Vivemos na era da informação, onde o acesso a um volume imenso de dados pode ser simultaneamente libertador e paralisante. As opções são infinitas, mas a sensação de que nada se encaixa, que nada é realmente suficiente, cria uma falha em nossa capacidade de protagonizar nossas próprias histórias.

Nos últimos tempos, o conceito de ser protagonista tem sido muito associado ao sucesso visível e imediato. O discurso da "realização pessoal" e do "empoderamento" muitas vezes não leva em conta as complexidades da vida cotidiana, e como a pressão para alcançar padrões muitas vezes irreais pode gerar um desgaste emocional. Tornar-se o protagonista de nossa própria vida, muitas vezes, parece exigir que nos destaquemos em algo que se torna cada vez mais difícil de alcançar: um ideal de sucesso sem falhas, sem perdas, sem contratempos. E a realidade é bem diferente.

A pressão para ser bem-sucedido em todas as áreas da vida — na carreira, no relacionamento, na saúde, nas redes sociais — cria um cenário onde o protagonismo se transforma em uma performance constante. Em vez de viver de forma genuína e de se tornar o protagonista de nossa própria jornada, muitas vezes nos vemos apenas atuando um papel, tentando corresponder a uma expectativa externa que, na maioria das vezes, não reflete a verdadeira essência de quem somos ou do que realmente desejamos.

Outro fator que dificulta o protagonismo é a falta de tempo e de espaço para reflexão. O ritmo acelerado da vida moderna, com suas cobranças e urgências, deixa pouco espaço para o autoconhecimento, para pensar profundamente sobre quem somos e o que queremos. A rotina, a agenda cheia, as distrações constantes nos afastam da necessidade de olhar para dentro e se conectar com as nossas verdadeiras necessidades. Sem esse momento de introspecção, o protagonismo se torna algo superficial, uma tentativa de agradar aos outros, de preencher lacunas sem compreender verdadeiramente o que falta.

O ser protagonista não se limita a realizar ou conquistar, mas se estende ao processo de reflexão, de entender o próprio desejo, de fazer escolhas que são autênticas e verdadeiramente nossas. Sem o tempo para se questionar, sem espaço para parar e ouvir a própria voz interior, a sensação de estar perdido se intensifica, e o caminho para a autoria da própria história se obscurece.

Em muitas situações, a dificuldade de ser protagonista é alimentada pela insegurança e pelo medo do fracasso. A sociedade atual tem uma relação complicada com o erro: ele é, ao mesmo tempo, inevitável e incompreensível. A todo momento, somos confrontados com o sucesso dos outros — nas redes sociais, nas vitrines do mercado de trabalho, nas histórias de vida de quem parece ter "chegado lá". E, assim, a comparação se torna inevitável. Quando falhamos ou sentimos que não estamos vivendo o que é esperado de nós, a sensação de impotência aumenta, e o protagonismo se esvai. Nos vemos como coadjuvantes de nossas próprias histórias, em um palco que não conseguimos entender.

Por fim, a dificuldade em ser protagonista também está ligada à busca incessante por um propósito maior. Quando não conseguimos identificar claramente o que nos motiva ou o que queremos alcançar, somos facilmente arrastados pelas correntes da vida, sem direção. O vazio existencial, frequentemente causado por esse descompasso entre quem somos e o que estamos vivendo, impede que nos sintamos no controle de nossa narrativa. A busca por algo que faça sentido é uma das grandes forças que alimenta nossa necessidade de ser protagonistas. Mas, sem respostas claras e sem a capacidade de entender nossas próprias emoções, muitas vezes nos vemos à deriva, com dificuldade de encontrar esse fio condutor que nos permita dirigir nossa própria história.

No entanto, a verdadeira essência de ser protagonista não está em ser perfeito ou em corresponder às expectativas alheias. Ela reside na autenticidade, na capacidade de aceitar a jornada com suas complexidades e contradições. Ser protagonista é entender que, mesmo em meio à incerteza, ao medo e ao desconforto, temos o poder de escolher como reagir, como aprender com os erros e como crescer. Não é sobre controlar tudo, mas sobre assumir a responsabilidade pelo que podemos controlar: nossas ações, nossas atitudes e a maneira como nos relacionamos com o mundo ao nosso redor.

Ser protagonista não é um destino fácil, mas sim um processo contínuo de descobertas, escolhas e ressignificações. Mesmo quando parece que estamos apenas "levando" a vida, sem grandes vitórias ou conquistas, há valor em continuar nesse caminho. O protagonismo, afinal, não se define pelos momentos de glória ou pelas metas atingidas, mas pela capacidade de continuar, de se reinventar e de se manter fiel a si mesmo, mesmo em tempos difíceis. Mesmo que o papel de protagonista não seja sempre claro ou recompensador, ele ainda é possível, desde que sejamos capazes de abraçar a complexidade de nossa jornada e de nos reconectar com o que realmente importa para nós.

Você luta por reconhecimento, como se fosse seu emprego.

Às vezes, a gente se empenha tanto em buscar reconhecimento que acaba tratando isso como se fosse o nosso trabalho, a nossa obrigação. A busca por ser visto, valorizado e reconhecido passa a se tornar uma espécie de missão, como se dependesse de esforços constantes, como se fosse um emprego em si. Esse desejo de ser validado e de conquistar o olhar dos outros acaba consumindo a energia, como se fosse um esforço diário que nunca termina. O problema é que, assim como um trabalho, o reconhecimento, muitas vezes, não vem na hora que esperamos ou na medida que imaginamos. E, quando ele finalmente chega, pode ser que não seja tão gratificante quanto imaginávamos ou que demore mais do que gostaríamos. A busca pelo reconhecimento pode se tornar uma roda que gira sem parar, em que, mesmo quando atingimos algum nível de sucesso, a sensação de que é necessário continuar lutando por ele nos impede de desfrutar do que conquistamos. Ao tratar o reconhecimento como um “emprego”, corremos o risco de perder a perspectiva do que realmente importa: o valor que temos para nós mesmos, independentemente da opinião dos outros. O desafio está em encontrar um equilíbrio, onde a busca por reconhecimento não se torne um fardo que esgota nossa energia, mas algo que faça sentido dentro do nosso caminho, sem nos perdermos nele.

Reflexão Crítica ao filme "A Substância"

A Substância se apresenta como uma reflexão ácida e perturbadora sobre a busca insaciável pela juventude eterna e os padrões estéticos impostos pela sociedade contemporânea. Em uma narrativa que mistura ficção científica, horror e crítica social, o filme expõe como a pressão pelo corpo perfeito e a juventude pode levar ao colapso físico e emocional do indivíduo, transformando essa obsessão em uma prisão sem saída.

O título, A Substância, já carrega uma ambiguidade intencional. Por um lado, remete ao produto milagroso que promete transformação; por outro, nos leva a pensar no esvaziamento da “substância” humana — a perda da identidade, do caráter e da essência diante de uma sociedade que valoriza apenas a aparência e o descartável.

O filme faz inúmeras analogias com a Realidade. Por exemplo, a busca pela juventude eterna e o culto ao corpo. Assim como no filme, a sociedade atual vive obcecada pela juventude e pelo corpo perfeito. Podemos fazer um paralelo com as cirurgias plásticas excessivas, o uso de produtos estéticos, filtros de redes sociais e até remédios experimentais. A crítica aqui é clara: até onde estamos dispostos a ir para atender padrões irreais? A Substância transforma essa busca em algo literal e grotesco, jogando na tela as consequências extremas dessa obsessão.

A perda de identidade  é também um tema trabalhado. O filme também oferece uma crítica à ideia de que a transformação externa pode preencher vazios internos. As personagens que consomem “a substância” passam por uma fragmentação da própria identidade, como se deixassem de existir como indivíduos e se tornassem produtos. Aqui, pode-se traçar uma analogia com as redes sociais e a cultura da performance, em que as pessoas constroem versões editadas de si mesmas, muitas vezes perdendo o contato com quem realmente são.

Minha principal crítica é ao capitalismo e à indústria da beleza. A Substância também pode ser interpretado como uma metáfora para a lógica capitalista da obsolescência programada e o consumismo desenfreado. Assim como produtos têm prazo de validade e são rapidamente substituídos, as pessoas no filme também são tratadas como descartáveis. A indústria da beleza, por exemplo, prospera ao alimentar inseguranças e vender a promessa de perfeição — um ciclo interminável que nunca satisfaz.

A alienação e a dependência ficam bem evidentes nesse cenário. O consumo da substância no filme funciona como uma dependência física e psicológica, semelhante ao vício em drogas ou até em tecnologias que prometem conforto imediato. A alienação surge como consequência: as personagens não conseguem mais enxergar as próprias deformações ou refletir sobre as consequências de suas escolhas. Isso nos lembra como a busca desenfreada por dopamina rápida (likes, filtros, cirurgias) pode nos afastar da realidade.

Um ponto bem crucial é o fato de colocar o corpo como prisão. O horror corporal apresentado no filme serve como metáfora visual para o sofrimento psíquico gerado por uma sociedade que enxerga o corpo como uma mercadoria. À medida que as personagens se transformam e deformam, somos confrontados com a brutalidade da autodestruição em nome da aceitação externa. É possível fazer um paralelo aqui com transtornos alimentares, dismorfia corporal e a constante insatisfação que leva ao limite do suportável.

A Substância é mais do que um filme de horror; é um espelho distorcido de nossas obsessões contemporâneas. Por meio de cenas impactantes e uma narrativa perturbadora, ele nos obriga a refletir sobre os limites da vaidade e do desejo de aceitação. É um alerta sobre os riscos de buscar validação externa a qualquer custo e sobre como, no fim, a verdadeira “substância” do ser humano se perde quando cedemos ao vazio das aparências.

O filme nos desafia a olhar para dentro, questionando o que é, de fato, essencial. Afinal, quando a busca pelo “perfeito” se torna uma obsessão, não apenas perdemos quem somos, mas também nos tornamos prisioneiros de um ideal que nunca poderá ser alcançado.

Ponto de Virada

Vivemos em uma era em que a informação chega até nós a todo momento, de todos os lados. Mas, em meio a tanto conteúdo, surge uma pergunta essencial: o que realmente merece ser acreditado? Aceitar uma ideia apenas porque a ouvimos repetidamente ou porque está validada por figuras de autoridade é um caminho cômodo, mas perigoso.

A história mostra como crenças coletivas, que pareciam incontestáveis, foram desmontadas por aqueles que ousaram questionar. A Terra não era plana, o sol não girava ao nosso redor, e o corpo humano não era governado por humores incontroláveis — mas, em suas épocas, quem questionasse essas “verdades” era visto como tolo ou herege.

Questionar não significa negar por impulso, mas observar de forma crítica e construir suas próprias conclusões. Esse é o verdadeiro ponto de virada: trocar a passividade pelo pensamento ativo. Não se trata de desrespeitar o conhecimento que veio antes, mas de fazer dele um ponto de partida, não de chegada.

As tradições podem carregar sabedoria, mas também podem conter limitações. O que está nos livros pode ter sido verdadeiro para outra época, outro contexto, mas será que ainda se sustenta hoje? O que todos acreditam pode ser confortável, mas raramente é inovador.

Analise. Observe. Experimente. Coloque as ideias à prova. A construção de um olhar crítico e independente é o que diferencia aqueles que seguem o fluxo daqueles que criam novos caminhos. E, às vezes, tudo o que você precisa é uma pergunta certa para virar a chave.

Revolução Digital

A relação entre Psicologia e Tecnologia se fortaleceu de forma notável nos últimos anos, especialmente após a pandemia, que acelerou a revolução digital em praticamente todas as áreas, incluindo a saúde mental. O isolamento social e a necessidade de adaptação criaram um cenário em que as ferramentas tecnológicas não apenas viabilizaram o atendimento remoto, mas também demonstraram seu potencial transformador na prática clínica e na pesquisa psicológica.

O atendimento virtual, que antes era uma alternativa pontual, se consolidou como uma tendência central no campo da Psicologia. Plataformas especializadas passaram a oferecer não apenas encontros online entre profissionais e pacientes, mas também recursos adicionais, como agendamento automatizado, prontuários digitais e ambientes seguros para comunicação. Essas soluções ampliaram o acesso à terapia, atingindo públicos que antes encontravam barreiras geográficas ou financeiras.

Além da prática clínica, a tecnologia vem impulsionando estudos mais complexos e detalhados sobre o cérebro humano. Ferramentas avançadas de neurociência, como softwares de mapeamento cerebral e inteligência artificial aplicada à análise de dados, abrem caminhos promissores para entender processos cognitivos e emocionais. O uso de big data, por exemplo, permite identificar padrões comportamentais e desenvolver intervenções mais precisas e personalizadas.

A formação e o aperfeiçoamento profissional também são impactados pela revolução digital. Cursos online, simulações em realidade virtual e acesso a bancos de dados internacionais oferecem aos psicólogos ferramentas para atualização constante e troca de conhecimentos com especialistas ao redor do mundo. A tecnologia, assim, não apenas conecta, mas democratiza o saber.

As inovações não param. Pesquisas avançam em áreas como terapia assistida por chatbots, uso de realidade aumentada para tratamento de fobias e transtornos de ansiedade, e desenvolvimento de aplicativos para monitoramento do bem-estar emocional. Essas ferramentas, aliadas à sensibilidade humana que a Psicologia exige, tendem a transformar radicalmente a relação terapeuta-paciente.

Para o futuro, o profissional de Psicologia que se abre para essas mudanças terá uma atuação mais completa e adaptada às demandas contemporâneas. Expandir o olhar e explorar as possibilidades tecnológicas não significa substituir o contato humano, mas sim potencializá-lo com recursos inovadores.

Estar atento às novidades, desenvolver habilidades digitais e compreender as implicações éticas desse avanço tecnológico são os grandes diferenciais para aqueles que desejam ser protagonistas nesse cenário em constante evolução.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

Olhar Atento

Ser espectador da vida não significa ser passivo ou deixar que o fluxo dos acontecimentos aconteça sem nossa participação. Ao contrário, é adotar uma postura de quem observa com atenção, escuta com profundidade e entende cada momento como uma oportunidade de aprendizado. É como estar fora do palco, ao invés de agir diretamente, tem o papel de olhar para o todo, compreender as nuances e interpretar o que está acontecendo ao redor. A vida, então, deixa de ser uma simples sequência de fatos, um roteiro e se transforma em algo que podemos entender, absorver, refletir sobre sua complexidade.

Não é se ausentar dos acontecimentos, mas ter a capacidade de se posicionar com clareza diante deles. É praticar uma escuta ativa, um olhar atento que percebe não apenas o óbvio, mas o que está nas entrelinhas, nas pequenas ações, nos gestos e nas palavras não ditas. A atenção se volta não só para os outros, mas também para nós mesmos — como estamos reagindo a tudo o que nos cerca, como nossas percepções estão moldando nossas experiências. Nesse papel, temos a oportunidade de observar e refletir sem a urgência de tomar decisões imediatas, mas com a capacidade de atuar de forma consciente quando o momento certo chegar.

Um espectador ativo, uma forma de viver com mais consciência, de se permitir ser tocado pelo que acontece ao nosso redor e de gerar transformações dentro de si. É um olhar que se faz presente, que interpreta, que se engaja sem precisar controlar tudo. Ao compreender, pode influenciar a si mesmo e ao mundo ao seu redor de maneira mais genuína.

Entre Transformações e Incertezas

Nos últimos dois anos, a minha vida passou por uma reviravolta tão grande que, às vezes, parece que me perdi no meio desse turbilhão. Quando decidi mudar minha carreira, meu círculo de amizades, a forma como me relaciono e até o que espero da vida, não sabia que isso viria com um preço tão alto. Exigir mais de mim mesma, começar a pedir retornos pelos investimentos que faço, trocar amigos, reduzir o consumo, me voltar para um núcleo familiar mais restrito e buscar prazer nas coisas simples, foi um processo tão radical que, agora, percebo que não tem volta. A transformação é uma estrada difícil, sem mapa, sem sinalização. A cada dia, é como se o tempo que vivi até aqui fosse um tempo perdido, um tempo em que fui alguém que já não me cabe mais.

Esse processo de recomeço, de redesenhar a minha vida social, profissional e até a minha própria identidade tem sido uma verdadeira montanha-russa. Por um lado, me sinto orgulhosa de estar avançando, mas por outro, há momentos em que a dor da mudança é quase insuportável. Às vezes, me arrependo, outras me sinto grata por ter dado o primeiro passo. A ansiedade de me graduar logo e voltar ao mercado de trabalho me acompanha, como uma sombra constante, e a busca insaciável por mais conhecimento parece nunca ter fim. São leituras e mais leituras, horas de preparação que não acabam. E no meio disso tudo, as sobrecargas de tarefas diárias, domésticas e rotineiras, que nunca foram minha praia, mas que agora se tornaram minha realidade, exigem que eu aprenda, cresça e me aprimore. Por vezes, me pego até sentindo prazer em algumas dessas atividades, o que me surpreende.

A minha relação com a família também mudou. Tenho me dedicado mais, me esforçando para ser um suporte, mas, ao mesmo tempo, buscando momentos de ociosidade, algo que antes parecia um luxo. Agora, em meio ao caos, tento encontrar equilíbrio. Tudo é confuso e difícil, o tempo todo. Os choros, as dúvidas, os aplausos, os risos — tudo se mistura, se transforma, me desconcerta e me reconcilia, ao mesmo tempo. Este caminho, ainda em curso, está longe de ter terminado. E, talvez, nunca termine. Mas, por agora, ele é o meu caminho. Um caminho cheio de incertezas, mas também de esperanças.

Infamiliar

Às vezes, a gente muda sem perceber, como se fosse uma transformação silenciosa e gradual. Mas é só quando voltamos a um lugar, ou a um momento do passado, que a mudança se torna evidente. Lá, tudo parece deslocado, quase irreconhecível, e somos tomados por uma sensação estranha, como se o ambiente que antes nos era familiar agora fosse um território desconhecido. Não é exatamente um sentimento de perda, mas uma percepção de que já não cabemos mais naquele espaço, naquele tempo. Esse "infamiliar" acontece quando o que antes parecia seguro e estável agora revela suas impermanências, refletindo também nossas próprias transformações internas. A mudança, que antes parecia discreta, se torna nítida na comparação entre o passado e o presente, e é nesse momento que nos damos conta de que, de alguma forma, fomos deixados para trás por aquilo que antes nos definia. E, embora seja desconcertante, esse estranhamento também nos permite reconhecer o quanto crescemos, amadurecemos e, muitas vezes, superamos. O "infamiliar" é, assim, uma espécie de reencontro com nós mesmos, quando finalmente percebemos as distâncias entre o que fomos e o que nos tornamos. O que antes era um lugar de pertencimento e totalmente familiar, de uma hora para outra se torna um local distante, irreconhecível, infamiliar.

O conceito de "infamiliar" pode ser abordado a partir das ideias de Freud e Lacan, ambos influentes na compreensão da psique humana.

Para Freud, o "infamiliar" pode ser relacionado ao conceito de "unheimlich" (ou "estranho" em alemão). Freud introduz esse termo em seu ensaio de 1919, "O Estranho" ("Das Unheimliche"), onde explora a ideia de que algo familiar pode se tornar assustador ou perturbador quando é deslocado de seu contexto usual ou é percebido de uma maneira inesperada. O "unheimlich" é, então, aquilo que, embora originalmente familiar e seguro (como uma casa ou uma pessoa), de repente se torna estranho e gerador de ansiedade. Esse fenômeno está profundamente relacionado ao retorno de conteúdos reprimidos, desejos ou medos que, quando emergem da mente inconsciente, se apresentam de maneira perturbadora e desconcertante, como se fossem "novos", mas na verdade são antigos e já conhecidos.

Para Lacan, o "infamiliar" se conecta ao conceito de "o Real" e à ideia de que o sujeito está constantemente em uma busca por uma identidade estável e unificada, mas que sempre se vê confrontado por uma alteridade que escapa à compreensão. O "Real" lacaniano refere-se a aquilo que está fora do alcance da simbolização e da linguagem, o que não pode ser totalmente integrado ao imaginário ou simbólico. Quando o sujeito encontra o "infamiliar", é como se ele fosse confrontado com uma parte de si mesmo ou da realidade que não pode ser completamente assimilada, algo que ultrapassa os limites do que pode ser nomeado ou controlado. Essa sensação de estranhamento pode ocorrer quando a pessoa se depara com elementos de sua própria psique ou com a realidade que não se encaixam em sua narrativa de identidade, resultando em uma experiência de desconforto e alienação.

Resumidamente, para Freud, o "infamiliar" está ligado ao retorno do reprimido e à transição entre o familiar e o estranho, enquanto, para Lacan, está relacionado ao confronto com o "Real", uma experiência de algo que não pode ser totalmente simbolizado ou compreendido, gerando uma sensação de desajuste e estranhamento. Ambos os pensadores exploram a tensão entre o que é conhecido e o que nos escapa, revelando a complexidade da psique humana e a constância da alienação em relação a nós mesmos.

sábado, 14 de dezembro de 2024

A fragilidade da força

Há pessoas que, aos olhos do mundo, parecem verdadeiras fortalezas. São aquelas que parecem carregar uma força inabalável, que nunca deixam transparecer seus medos ou inseguranças. Elas resolvem problemas, sustentam outras pessoas e seguem em frente, mesmo sob o peso de grandes adversidades. Porém, essa imagem de força pode ser uma construção externa que esconde, dentro dela, um coração cheio de dúvidas, cansaço e fragilidades.

A ideia de ser forte o tempo todo é uma armadilha que a sociedade frequentemente impõe. Aqueles que são vistos como "fortalezas" muitas vezes não têm a permissão de mostrar suas rachaduras. Quando demonstram fraqueza, não raro são surpreendidos pelo julgamento ou pela incapacidade alheia de lidar com a vulnerabilidade. Isso cria um isolamento silencioso: quem é percebido como invulnerável raramente recebe ajuda ou acolhimento emocional, porque os outros assumem que "não precisam".

Por trás dessa máscara de força, há cansaço. É exaustivo sustentar um papel que, na verdade, não condiz com a natureza humana. Ninguém é inabalável, e a tentativa de parecer invulnerável cria um abismo entre quem se é de fato e a forma como se é enxergado. Essa desconexão pode gerar uma profunda sensação de solidão, não pela ausência de companhia, mas pela falta de compreensão.

A fragilidade, no entanto, é tão legítima quanto a força. Admitir que nem sempre se é capaz de lidar com tudo é um ato de coragem. É nas rachaduras que a luz entra, e é ao mostrar as vulnerabilidades que as conexões humanas se tornam mais reais e empáticas. A ideia de fortaleza como algo indestrutível é ilusória — ninguém é feito para resistir sozinho a todas as tempestades.

A beleza da humanidade está justamente na possibilidade de alternar entre ser forte e ser frágil, entre sustentar e ser sustentado. A verdadeira fortaleza não está na ausência de fraqueza, mas na capacidade de abraçá-la, de pedir ajuda quando necessário, e de criar um espaço onde os outros também possam fazer o mesmo. Afinal, a vida não precisa ser uma performance de força; ela pode, e deve, ser um lugar onde a vulnerabilidade encontra acolhimento e compreensão.

O inevitável

A vida é, por essência, uma jornada de transformações. Desde o instante em que nascemos, somos lançados em um fluxo constante, onde cada momento traz algo novo, mas também nos tira algo que parecia eterno. Quando jovens, sabemos, de forma abstrata, que "tudo passa". É um mantra repetido por pais, professores e pelos textos filosóficos que nos atravessam. No entanto, essa ideia parece mais uma lição moral do que uma verdade tangível. Não é algo que compreendemos profundamente até que sentimos em nossa própria pele a impermanência das coisas.

O que é tão fascinante — e ao mesmo tempo doloroso — é que só percebemos o quanto algo era valioso quando ele deixa de existir tal como conhecíamos. Relacionamentos, amizades, fases da vida, os sonhos que outrora pareciam brilhantes e inabaláveis… tudo, inevitavelmente, muda de forma. Talvez seja um paradoxo humano: enquanto entendemos intelectualmente a ideia de que "tudo passa", emocionalmente nos agarramos ao desejo de permanência, como se pudéssemos prender o tempo em nossas mãos, impedir a areia de escorrer pela ampulheta.

Por que isso nos afeta tanto? Talvez porque, no fundo, associamos o que já foi a uma ideia de segurança. O passado, conhecido, traz uma nostalgia, uma sensação de que, em algum momento, éramos mais inteiros, mais plenos, mais felizes. É como se houvesse uma linha divisória invisível entre o "antes" e o "agora", e o antes sempre carregasse uma aura de perfeição — mesmo que, na época, não soubéssemos disso.

Quando chega o momento em que nos damos conta de que "acabou" — que o momento passou, que a fase mudou, que a pessoa foi embora —, somos confrontados com o vazio da transição. O que fazer com isso? Para onde ir quando o "novo" ainda não tem forma e o "antigo" é apenas uma lembrança? É aí que mora a dor, mas também a beleza da vida. Pois, apesar de tudo, esse movimento é o que nos torna humanos. É no confronto com as perdas e transformações que crescemos, nos renovamos e descobrimos novos sentidos.

A literatura e a filosofia sempre buscaram respostas para essa experiência universal. O filósofo já dizia que "ninguém entra no mesmo rio duas vezes, porque as águas já não são as mesmas, e nem a pessoa é a mesma". Essa frase sintetiza a essência da mudança: não há como voltar atrás. O rio segue seu curso, assim como a vida. Por outro lado, o poeta nos lembra de que "tudo vale a pena se a alma não é pequena". É um chamado para ressignificar as perdas, enxergando nelas não apenas o fim de algo, mas o começo de uma nova jornada.

O que fazer, então, quando percebemos que nada será como antes? Talvez a resposta esteja na aceitação. Aceitar que o fluxo da vida é inevitável e que, ao invés de resistirmos a ele, devemos aprender a flutuar. É na transformação que encontramos espaço para crescer e, quem sabe, descobrir novas formas de alegria. Isso não significa ignorar a saudade ou a tristeza — pelo contrário, esses sentimentos fazem parte do processo. Mas é importante não se prender ao que já foi, porque isso nos impede de enxergar o que ainda pode ser.

O futuro não promete permanência, mas ele traz a possibilidade de novas experiências, novas memórias e, talvez, novas formas de felicidade. A dor da mudança nos ensina a valorizar o presente — a única coisa que, de fato, temos. Tudo passa, sim, mas é exatamente isso que dá significado àquilo que vivemos. Saber que um momento é único, que ele não voltará, nos convida a vivê-lo com intensidade, sem reservas.

Ao olharmos para as perdas da vida, podemos enxergá-las não como o fim, mas como parte de um ciclo maior. A saudade será sempre nossa companheira, mas, com ela, vem também a certeza de que fomos capazes de viver algo que valeu a pena. E, mesmo que o que era já não seja mais, o que virá ainda pode surpreender, encantar e preencher os espaços vazios deixados pelo tempo.

Conectados e Vazios

O mundo digital transformou a maneira como vivemos, comunicamos e percebemos a realidade. A promessa inicial da internet como um espaço de conexão, conhecimento e liberdade deu lugar a um cenário onde a superficialidade reina, e a busca por validação social, muitas vezes materializada em likes e seguidores, se tornou uma obsessão coletiva. Essa nova forma de viver online não apenas alterou nosso comportamento, mas também diluiu aspectos essenciais da vida, como profundidade, privacidade e a qualidade das relações interpessoais.

No universo das redes sociais, a vida se tornou performática. Cada post é meticulosamente planejado para criar uma narrativa de sucesso, felicidade ou pertencimento. Os likes e comentários funcionam como recompensas imediatas, alimentando nosso sistema de dopamina e criando um ciclo vicioso de validação externa. No entanto, essa busca constante por aprovação transforma a existência em uma vitrine. O eu real, com suas nuances, falhas e complexidades, dá lugar a uma persona polida e higienizada para agradar ao algoritmo e aos seguidores.

A modernidade líquida, como diria o filósofo, uma era de relações frágeis e identidades em constante mutação. No mundo digital, essa liquidez é amplificada. Os relacionamentos escorrem pelos dedos, substituídos por conexões efêmeras e superficiais. Amizades que antes exigiam esforço e comprometimento agora se resumem a cliques em “curtir” ou emojis nos comentários. A intimidade se perde em um oceano de interações rápidas e rasas. Até mesmo os relacionamentos amorosos são moldados pela lógica das plataformas digitais, com aplicativos que promovem escolhas baseadas em critérios visuais e descartabilidade.

A profundidade, por sua vez, foi uma das grandes vítimas desse mundo digitalizado. A economia da atenção — na qual disputamos segundos preciosos de foco — nos empurra para consumir conteúdos rápidos e fáceis. Artigos longos, livros e debates aprofundados são cada vez menos valorizados em um ambiente onde a palavra de ordem é “viralizar”. O pensamento crítico é substituído por opiniões instantâneas, frequentemente moldadas por bolhas de informações que reforçam preconceitos ao invés de desafiá-los. Como resultado, vivemos em uma era de sobrecarga de informação, mas de escassez de sabedoria.

Além disso, a lógica das redes sociais transforma tudo em mercadoria: a felicidade, os momentos íntimos e até mesmo as tragédias pessoais são monetizadas e transformadas em conteúdo. Essa comercialização da vida cria uma desconexão entre o que somos e o que mostramos. A comparação constante com vidas idealizadas, exibidas de forma estratégica online, alimenta sentimentos de inadequação, ansiedade e depressão. Nunca fomos tão conectados, mas também nunca nos sentimos tão sozinhos.

O que fazer diante desse cenário? Talvez a resposta esteja em redescobrir o que significa viver com profundidade e autenticidade. Isso envolve resgatar o valor das relações humanas genuínas, fora das telas, e aceitar que nem tudo precisa ser exibido ou validado pelo outro. Significa, também, desacelerar e dar espaço para o silêncio e a reflexão. O mundo digital tem seu lugar e seus benefícios, mas não pode substituir as experiências reais, as conversas significativas e o contato humano.

O desafio é viver no equilíbrio entre o real e o virtual, entre a rapidez e a profundidade, entre o eu que mostramos e o eu que realmente somos. Afinal, o que realmente vale a pena não se mede em likes, mas em conexões autênticas, aprendizados duradouros e a capacidade de estar presente, de corpo e alma, em cada momento da vida.

Envelhecer

Envelhecer carrega consigo tanto conquistas quanto perdas, muitas vezes difíceis de ignorar. Essas perdas se manifestam de diversas formas: a ausência de pessoas queridas que partiram, o declínio de certas capacidades físicas, a mudança nos papéis sociais e profissionais e, talvez, a consciência de que alguns sonhos outrora tão vívidos nunca serão concretizados. Essas experiências não são apenas episódios de luto ou melancolia, mas sim momentos de transformação que exigem adaptação e ressignificação. O envelhecimento nos desafia a revisitar nosso passado e nos reconciliar com aquilo que ficou para trás, enquanto ainda temos a oportunidade de construir algo novo.

As perdas pessoais, como a morte de familiares e amigos, são talvez as mais dolorosas. Cada partida deixa um vazio que muitas vezes nos força a confrontar a própria mortalidade. As perdas físicas, por sua vez, trazem limitações que alteram a maneira como vivemos e nos vemos, já que o corpo, antes pleno de energia, começa a dar sinais de fragilidade. Além disso, o envelhecimento pode significar o término de carreiras que definiram nossa identidade por décadas, gerando uma sensação de inutilidade ou de perda de propósito. Também é comum olhar para trás e perceber que alguns sonhos nunca se concretizaram, o que pode despertar sentimentos de arrependimento ou frustração.

Apesar disso, as perdas não precisam ser vistas apenas como ausências, mas também como oportunidades para o crescimento. A aceitação da dor é o primeiro passo nesse processo, permitindo que possamos ressignificar o que foi perdido. A busca de sentido mesmo diante do sofrimento, são valiosas aqui. Perguntar-se o que cada perda pode ensinar e como essas experiências moldaram nossa identidade atual é uma forma de transformar o luto em sabedoria.

Ao mesmo tempo, é fundamental valorizar o presente. Envelhecer é um privilégio que muitos não tiveram, e focar no que ainda está ao nosso alcance pode trazer renovado ânimo. Cultivar relações, buscar novas conexões e engajar-se em atividades que tragam satisfação pessoal são formas eficazes de encontrar alegria e pertencimento. A participação em projetos sociais ou o aprendizado de novas habilidades podem proporcionar um propósito renovado. Essa também pode ser a hora de explorar caminhos não percorridos e se reinventar, adotando hobbies ou projetos pessoais que antes não eram possíveis.

A espiritualidade pode ter um papel significativo nesse processo, oferecendo um senso de conexão e tranquilidade frente às incertezas do futuro. Não é necessariamente sobre religião, mas sobre encontrar momentos de reflexão e contato com algo maior. Além disso, é essencial reconhecer a beleza intrínseca do envelhecimento. Com o tempo, adquirimos uma visão mais ampla e serena da vida. Se a juventude é marcada pela expansão, a maturidade nos ensina a depurar o que importa e a viver com profundidade.

As perdas são inevitáveis, mas também são uma porta para a autodescoberta. Transformar essas experiências em crescimento e propósito é o desafio — e a dádiva — dessa etapa da vida. Não é apenas sobre lidar com o que foi perdido, mas sobre viver plenamente com aquilo que permanece e com o que ainda pode ser conquistado. Afinal, cada dia traz consigo uma nova chance de dizer sim à vida.

terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Fazer falta

Esteja sempre calma. Aprenda a fazer falta, seja importante. A importância é algo que você constrói no lugar onde você está. Uma pessoa importante é aquela que permanece nos outros, que é levada para dentro deles. As pessoas se importam com você e, ao fazer isso, elas "importam" você para suas vidas.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

Feliz Ano Novo !!!

Foi, sem dúvida, um ano de aprendizado intenso, uma verdadeira escola da vida. Foi um período marcado por perdas significativas e injustiças, situações que testaram não só a minha paciência, mas também a minha capacidade de resiliência. Cada momento difícil, cada obstáculo, me ensinou algo novo sobre mim mesma, sobre o mundo ao meu redor, e sobre a profissão que escolhi seguir. As perdas, embora dolorosas, me forjaram, me ajudaram a entender melhor o processo de luto, a importância do acolhimento e da empatia, e como, muitas vezes, a vida exige que nos reergamos depois de cada queda. As injustiças, por sua vez, me desafiaram a questionar as estruturas que muitas vezes nos oprimem, a me posicionar de maneira mais firme e a lutar pelos direitos e pela dignidade do outro. Apesar das dificuldades, eu tenho certeza de que, ao longo desse ano, me tornei uma psicóloga infinitamente melhor. Cada experiência, boa ou ruim, se transformou em uma lição que me prepara para ser mais capaz, mais humana e mais sensível aos desafios dos outros. Eu sei que, ao passar por tudo isso, não só cresci como pessoa, mas também como profissional, e isso é algo que vou carregar comigo para sempre.

Falta menos do que já faltou

Às vezes, parece que quanto mais a gente caminha, mais a sensação de que ainda tem muito pela frente cresce. O caminho parece se expandir, e o horizonte se distancia. Mas, ao mesmo tempo, há uma sensação de que falta menos do que já faltou. Quanto mais a gente percorre, mais a gente percebe o quanto já andou e o quanto cresceu. Isso tem a ver com o fato de que, ao longo da caminhada, a gente vai se transformando. Quando estamos no meio do caminho, tudo parece distante e difícil. Mas, se olharmos para trás, vemos quantas barreiras já passamos e o quanto aprendemos. Cada desafio que superamos vai somando, e a distância entre onde começamos e onde estamos agora diminui. É como se o tempo fosse nos mostrando o quanto já percorremos, nos dando uma perspectiva diferente do futuro. A sensação de que ainda há muito para alcançar fica misturada com a percepção de que já conquistamos muito. Esse caminho, que antes parecia interminável, vai ficando mais compreensível à medida que avançamos. Mesmo que ele ainda seja longo, agora a gente já tem mais ferramentas para enfrentar o que está por vir. Cada passo à frente traz a sensação de que o caminho é longo, mas também revela que ele é mais curto do que parecia no começo.

A Racionalização Não Dá Conta do Fenômeno

A racionalização, como mecanismo psicológico, funciona como uma ferramenta para tentar dar sentido às nossas ações e experiências, oferecendo explicações lógicas e coerentes para comportamentos que, muitas vezes, têm raízes em áreas mais profundas da nossa psique. Ela serve como um escudo contra o desconforto que pode surgir quando as emoções ou comportamentos entram em conflito com nossa percepção de nós mesmos ou com as normas sociais. No entanto, há situações em que a racionalização não é suficiente para compreender ou explicar totalmente um fenômeno, especialmente quando ele é complexo, contraditório ou carregado de camadas emocionais e inconscientes.

A racionalização tem a sua utilidade e é um mecanismo necessário para o funcionamento psicológico diário, permitindo que as pessoas mantenham uma sensação de controle e entendimento sobre suas vidas. Ela ajuda a fazer com que as experiências ou decisões que poderiam ser difíceis de digerir ou que gerariam um mal-estar muito grande sejam interpretadas de maneira mais aceitável. No entanto, quando o fenômeno em questão é mais profundo, mais disruptivo, ou mais enraizado do que a simples lógica consegue abranger, a racionalização se mostra incapaz de lidar com a totalidade da experiência.

O fenômeno de uma crise existencial, por exemplo, vai muito além da simples análise racional. Questões como a busca de significado, o sofrimento existencial ou a sensação de perda de propósito não podem ser explicadas completamente por uma sequência lógica de causas e efeitos. Ao tentar usar a racionalização para dar conta desse fenômeno, se corre o risco de reduzir uma experiência profundamente emocional a uma explicação simplista, que ignora a complexidade do que está acontecendo no nível inconsciente e emocional.

Imagine, por exemplo, uma pessoa que passa por uma perda significativa, como a morte de um ente querido. A racionalização pode levá-la a pensar que "todos nós precisamos passar por isso um dia" ou que "a morte faz parte do ciclo natural da vida". Embora essas afirmações não sejam falsas em si mesmas, elas podem mascarar o luto profundo e os sentimentos de impotência, dor e angústia que surgem nesse processo. A racionalização, então, serve como uma camada de proteção, uma maneira de lidar com a dor sem confrontá-la de forma direta. Mas essa abordagem não resolve o fenômeno em sua totalidade, porque a dor, o vazio e a angústia não podem ser dissociados tão facilmente por uma explicação racional.

Além disso, a racionalização pode falhar ao tentar explicar fenômenos que envolvem aspectos não tão facilmente articuláveis em palavras — como a dimensão do corpo ou da emoção. Por exemplo, a ansiedade pode ser racionalizada como "medo do desconhecido" ou "falta de controle sobre a situação". No entanto, o que não é dito é que a ansiedade é uma experiência profunda, que pode ser sentida fisicamente, que se manifesta no corpo de maneiras complexas, como aceleração do ritmo cardíaco, suor nas mãos, sensação de aperto no peito. A racionalização pode falhar ao tentar reduzir essa experiência intensa e física a uma simples explicação racional. Isso ocorre porque a experiência subjetiva, que é vivida de maneira única por cada pessoa, não pode ser contida ou explicada plenamente por palavras ou por lógicas simples.

Da mesma forma, fenômenos como a paixão, a criatividade ou o inconsciente, frequentemente, transcendem os limites da razão. São manifestações que não podem ser controladas, planejadas ou racionalizadas de maneira que façam sentido em uma estrutura lógica. A lógica da razão entra em colapso quando tentamos aplicar explicações simplistas a esses fenômenos intensos e muitas vezes paradoxais. A tentativa de racionalizar pode resultar em uma falha em compreender o que está sendo vivido na sua totalidade.

Quando a racionalização se mostra insuficiente para lidar com o fenômeno, a solução não está em insistir na razão, mas em buscar uma abordagem mais holística que inclua a emoção, o inconsciente, o corpo e até mesmo a espiritualidade. A terapia psicanalítica, por exemplo, lida com o inconsciente e com os processos mentais mais profundos que não são facilmente acessíveis à lógica ou à razão. O fenômeno humano é multifacetado e, muitas vezes, precisa ser abordado por diferentes ângulos para ser verdadeiramente compreendido.

Uma abordagem integrativa, que leve em consideração tanto os aspectos racionais quanto os emocionais e inconscientes, é a chave para tratar fenômenos complexos. Quando lidamos com uma experiência dolorosa ou um fenômeno disruptivo, a racionalização sozinha não será capaz de proporcionar uma explicação completa ou uma cura verdadeira. A integração da experiência emocional, do entendimento do inconsciente e da busca por um sentido mais profundo são necessários para tratar adequadamente essas questões.

Em última análise, embora a racionalização seja uma ferramenta importante na nossa vida cotidiana, ela não é capaz de dar conta de todos os fenômenos humanos. Quando um fenômeno é complexo, profundamente emocional ou inconsciente, a razão precisa ser complementada por uma compreensão mais ampla da experiência humana. Apenas ao reconhecer que existem dimensões que não podem ser racionalizadas, podemos começar a explorar essas dimensões de uma forma mais livre, mais aberta, mais integradora.

Assim, ao invés de procurar sempre uma explicação racional para tudo, talvez seja necessário aprender a viver com o desconhecido, com o irracional, com o inexplicável. Muitas vezes, é na aceitação do que não sabemos ou não podemos controlar que o verdadeiro crescimento e compreensão podem ocorrer.  

Estar perdida

Estar perdida é uma sensação que, muitas vezes, acompanha os grandes momentos de transformação. Você escolheu mudar de carreira, revisitar amizades, remodelar sua vida. Foi você quem plantou cada semente dessa nova trajetória. Mas agora, olhando para o terreno que você mesma cultivou, sente-se desorientada.

E talvez isso faça parte do processo. Porque para encontrar algo novo, é preciso, antes, se desprender do antigo — e isso cria um vazio, um espaço entre o que você era e o que está se tornando. Estar perdida não significa estar no caminho errado; significa estar atravessando o desconhecido.

O curioso é que, mesmo perdida, você está achada. Porque para aquilo que você se propôs, para os sonhos e propósitos que escolheram você tanto quanto você os escolheu, o caminho está claro. Não é confortável, não é simples, mas é verdadeiro.

Talvez o sentimento de estar perdida seja, na verdade, o reflexo de quanto você tem sido corajosa. Porque se perder é parte de quem ousa se transformar. E, no fundo, você sabe: não há perda real quando a direção que você segue é a sua.

Estudar Psicologia

Estudar Psicologia é intenso, um universo que é, ao mesmo tempo, fascinante e desafiador. Diferente de outras áreas, onde o objeto de estudo é algo externo, na Psicologia, o foco está em nós mesmos: nossas emoções, pensamentos, comportamentos, e a forma como nos relacionamos com o mundo e com os outros.

É impossível percorrer esse caminho sem se transformar. A cada teoria, a cada caso, a cada nova compreensão, algo em você muda. Você começa a enxergar a si mesma com mais clareza, reconhecendo padrões, fragilidades e forças que antes estavam ocultas. Estudar Psicologia não é apenas adquirir conhecimento técnico; é também um processo de conhecimento muito mais profundo profundo e contínuo.

Ao mesmo tempo, essa jornada ensina humildade. Você percebe a complexidade do ser humano, a multiplicidade de perspectivas e as nuances que tornam cada pessoa única. Isso não apenas transforma sua visão sobre o outro, mas amplia sua capacidade de empatia, compreensão e conexão.

A verdade é que não há como estudar Psicologia e permanecer a mesma pessoa. Porque, no fundo, estudar a mente humana é também estudar o que significa ser humano — e isso nos toca, nos move e nos transforma em cada passo do caminho.

Parece que você espera o que não vai chegar, você está em um grupo que não é o seu

Amiga, você me pergunta e já traz a resposta. É isso mesmo. Concordo com você!

Há um tipo de solidão que não se sente na ausência, mas na presença errada. É quando você está cercado por pessoas, mas, ainda assim, sente que não pertence. Suas palavras não encontram eco, suas ações passam despercebidas, e seus esforços para se encaixar parecem em vão. Você espera — reconhecimento, reciprocidade, acolhimento. Mas o que espera nunca chega, porque talvez não possa chegar. Não porque você não seja digno, mas porque está no lugar errado, cercado por pessoas que não conseguem enxergar quem você é. Ficar nesse grupo, esperando que algo mude, é como tentar abrir uma porta com a chave errada. Você se desgasta, insiste, mas a sensação de exclusão só aumenta. Talvez seja hora de parar de esperar e olhar para outro lugar. Pertencer não é forçar conexões onde não existem. É encontrar aqueles que veem, realmente veem, quem você é — e que, naturalmente, fazem com que você se sinta em casa. O grupo certo não precisa ser grande, mas precisa ser verdadeiro. E quando você o encontra, percebe que nunca precisou esperar tanto assim.

Você é inquebrantável

Há uma força que só você conhece. Não é barulhenta, nem sempre visível. Ela existe nas fissuras, nas marcas deixadas por cada queda, cada dor que parecia insuportável. É a força de quem, apesar de tudo, se levanta. Ser inquebrantável não significa não sentir. Pelo contrário, você sente tudo: o peso, o medo, a dúvida. Mas há algo em você que se recusa a ceder. É como uma raiz que cresce na adversidade, que encontra solo mesmo nas pedras, que não desiste de sustentar a vida acima. As tempestades vêm, mas você permanece. Não intacta, porque a vida molda e transforma, mas inteira. É a resiliência de quem sabe que quebrar não é o fim — é apenas o início de uma nova forma de ser. Você é inquebrantável porque, a cada vez que pensou que não aguentaria, descobriu que podia mais. Porque, ao invés de se fragmentar, você se reconstrói, maior, mais forte e mais viva.

Sociedade do Consumo

Oi amiga. saudades.

Sim, eu entendo o que você escreveu, perfeitamente. Sei bem o que vc está sentindo nesse momento.

Se eu pudesse resumir, seria: Você recebe muito pouco ou quase nada dos outros

Posso te dizer que, na fluidez dessa sociedade líquida, onde vínculos se formam e se rompem na velocidade de interesses, o pouco que você recebe parece ser desproporcional ao que você dá. 

Mas dar, aqui, não é e nunca foi um gesto de equilíbrio — para você é quase uma entrega completa. Você se doa, se adapta, se molda, acreditando que, em algum momento, será acolhida, “colocada para dentro”. Que será reconhecida, amada. Já te disse que tudo se resume sempre a uma demanda de amor (mas isso é outra conversa).

Você é muito generosa. Sempre te disse que essa é a sua marca. A sua maior característica é a generosidade. Você não olha a quem, vc entrega, vc acolhe, vc se faz presente e suporta. É muito bom ter pessoas como vc por perto. Mas infelizmente, nesse mundo, na sociedade do consumo, do "uso e descarto", digamos que vc está no sentido oposto. Lamento mto que seja assim, mas é o que observo e vc reafirma sempre nas nossas conversas, todos os exemplos que vc me traz são sempre em uma única direção, vc é sugada ao máximo, as pessoas perderam até o pudor em te demandar, colocam prazo, não respeitam os limites que vc impõe. Já falamos muito disso. Eu vejo abuso aí.

Não é assim que deveria funcionar. Porque, enquanto você oferece tudo, o outro apenas consome o que precisa e, depois, descarta o que sobra. E sobra você. Sobra o que você é, o que você sentiu, o que você esperou em troca.

Nessa dinâmica, o vazio não é apenas da ausência do que vem do outro, mas também do esgotamento de tudo o que você deu. É uma dança desigual, onde quem espera ser acolhido se torna invisível.

Talvez o caminho seja outro: não dar para ser aceita, mas dar onde e apenas onde há reciprocidade. Não se doar como condição, mas como escolha. Porque, no fim, você não merece pouco — merece o que constrói junto, o que flui em troca e o que não desaparece quando as fantasias acabam.

Você convence o outro da impossibilidade

Quantas vezes, sem perceber, colocamos barreiras nos sonhos de quem está ao nosso lado? Não por maldade, mas pelo peso das nossas próprias crenças, das nossas limitações e medos projetados. Convencemos o outro da impossibilidade, não porque ela é real, mas porque, em nós, há algo que acredita que não dá, que não pode, que não é para agora.

O "não vai dar certo" sai mais rápido do que um "vamos tentar". O "é difícil demais" chega antes do "vamos ver como podemos fazer". E, sem perceber, construímos muros onde o outro esperava pontes.

Convencer alguém da impossibilidade não é apenas limitar o outro — é também perpetuar nossas próprias limitações. Quando acreditamos no potencial alheio, nos permitimos acreditar no nosso. Assim, podemos trocar o "não dá" pelo "como seria possível?".

Porque, talvez, o maior desafio seja este: parar de convencer o outro da impossibilidade e, em vez disso, encorajar o mundo a enxergar as infinitas possibilidades.

Não é o todo que te atinge, é a parte que te atinge

Em nossas experiências, tendemos a perceber o mundo como um todo avassalador — uma sequência contínua de desafios, responsabilidades e sentimentos. Mas, na verdade, o impacto mais profundo não está no todo. É a parte que se infiltra em nossa essência, que toca nossas feridas, nossos medos ou nossos sonhos mais escondidos.

É aquela palavra não dita, o olhar desviado, o gesto inesperado. É a memória específica que ressoa, o instante que insiste em ficar quando todo o resto passa. O todo é apenas o pano de fundo; a parte, essa sim, é o que nos transforma ou nos paralisa.

Nosso crescimento pessoal depende de identificarmos essas partes. O que é que nos fere? O que é que nos move? Ao reconhecer essas nuances, aprendemos a lidar com o que nos atinge — e, mais importante, a transformar impacto em aprendizado.

Porque, no final, não é o todo que te atinge, é a parte que tem o poder de te ensinar a crescer.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

O Uso Abusivo da Internet e as Patologias Contemporâneas sob a Perspectiva Psicanalítica

Vamos falar do impacto do uso abusivo da internet e incluindo a questão das identidades virtuais e suas implicações psíquicas. A internet transformou radicalmente o modo como nos relacionamos com o mundo e com nós mesmos. Mais do que uma ferramenta, ela se tornou um espaço simbólico, onde transitamos entre o real e o virtual, muitas vezes criando outras versões de nossa identidade. Essa dinâmica oferece novas possibilidades de expressão, mas também traz desafios para a saúde psíquica.

Sob a perspectiva psicanalítica, o uso abusivo da internet revela questões fundamentais do sujeito contemporâneo, como o vazio existencial, a busca pelo reconhecimento e os impasses na construção da identidade. Este texto explora como a internet, ao se tornar um palco para o inconsciente, favorece o surgimento de novas patologias, como a dependência digital e a fragmentação identitária.

1. A Internet como Espaço para o Inconsciente

A psicanálise nos ensina que o inconsciente se manifesta em todos os espaços em que o sujeito habita, incluindo o virtual. A internet pode ser vista como um espelho distorcido, onde projetamos fantasias, desejos reprimidos e até nossos conflitos internos.

Criação de avatares e identidades virtuais: Muitas pessoas criam perfis que representam o “ideal do eu” ou uma versão idealizada de si mesmas. Essa possibilidade de brincar com identidades pode gerar uma confusão entre o que é real e o que é fantasiado.

O anonimato e a pulsão de morte: Ambientes online, muitas vezes anônimos, dão vazão à agressividade e à descarga pulsional, refletindo os conflitos que o sujeito não consegue elaborar em sua vida cotidiana.

2. Patologias Contemporâneas e a Internet

A relação do sujeito com a internet muitas vezes reflete dinâmicas psíquicas mais amplas. Sob a ótica psicanalítica, algumas condições podem ser entendidas como formas de lidar com angústias profundas ou de evitar o confronto com a falta.

Dependência Digital como Refúgio do Real - A dependência digital, marcada pelo uso compulsivo da internet, pode ser interpretada como uma fuga da realidade ou da angústia existencial. A ilusão de completude: A internet oferece estímulos constantes e imediatos, criando a fantasia de que a falta pode ser preenchida. No entanto, essa busca incessante resulta em frustração, pois o desejo nunca é plenamente satisfeito. A desconexão com o corpo: O sujeito, ao passar horas imerso no mundo virtual, negligencia o corpo e as sensações reais, alienando-se de sua própria existência material.

A Fragmentação da Identidade - A possibilidade de assumir múltiplas identidades no ambiente digital, embora pareça libertadora, pode levar a uma fragmentação psíquica. O sujeito dividido: No espaço online, o sujeito pode se sentir dividido entre o “eu” real e o “eu” virtual, experimentando dificuldades em integrar essas diferentes versões de si mesmo. Confusão de papéis: Perfis e avatares se tornam extensões do inconsciente, onde fantasias são encenadas. Isso pode gerar conflitos quando o sujeito não consegue diferenciar claramente o que é representação simbólica do que é sua própria identidade.

Ansiedade e Isolamento - O uso abusivo da internet pode intensificar sentimentos de ansiedade e isolamento, especialmente em redes sociais. Busca pelo olhar do outro: Sob a lente da psicanálise, o sujeito online busca incessantemente pelo reconhecimento e aprovação dos outros, representados pelos likes e comentários. Esse ciclo, no entanto, reforça a sensação de inadequação quando a validação externa não corresponde às expectativas. Isolamento como defesa: Paradoxalmente, o excesso de conexões virtuais pode resultar em isolamento real, uma defesa contra a angústia das relações presenciais.

3. Internet e a Pulsão

Na teoria freudiana, as pulsões de vida e morte (Eros e Tânatos) encontram expressão no ambiente online.

A pulsão de vida no virtual: A internet é um espaço criativo, onde o sujeito pode experimentar novas formas de se relacionar, aprender e se expressar.

A pulsão de morte nas redes sociais: O cyberbullying, os discursos de ódio e a compulsão pelo consumo digital revelam o lado destrutivo das relações virtuais, onde a agressividade é projetada no outro.

4. A Função da Falta e a Ilusão de Plenitude

Um dos conceitos centrais da psicanálise é a noção de falta, que impulsiona o desejo humano. A internet, no entanto, apresenta-se como um espaço que promete preencher essa falta de maneira ilusória.

A falta como motor do desejo: No mundo virtual, o desejo é constantemente estimulado, mas nunca satisfeito, levando o sujeito a um ciclo de busca incessante.

O excesso como defesa contra o vazio: O uso abusivo da internet pode ser compreendido como uma tentativa de evitar o confronto com o vazio existencial e a angústia que ele provoca.

5. Intervenções Psicanalíticas no Contexto Digital

A psicanálise, ao trabalhar com o inconsciente, oferece ferramentas valiosas para compreender e tratar os conflitos relacionados ao uso abusivo da internet.

Escuta do desejo: O analista ajuda o sujeito a identificar o que está buscando no espaço virtual e como isso se relaciona com sua história psíquica.

Reconexão com o real: O setting analítico pode ser um espaço para o sujeito refletir sobre suas experiências no mundo virtual e encontrar formas mais autênticas de se relacionar consigo mesmo e com os outros.

Integração da identidade: A análise pode auxiliar o sujeito a integrar as diferentes facetas de sua identidade, reduzindo a fragmentação psíquica.

 

O uso abusivo da internet é um fenômeno que transcende explicações simplistas, revelando questões profundas do sujeito contemporâneo. A psicanálise nos permite olhar além dos sintomas, explorando as dinâmicas inconscientes que sustentam esse comportamento.

Mais do que um problema tecnológico, o uso excessivo da internet é uma questão psíquica, enraizada nos desafios de lidar com a falta, o desejo e a identidade. Ao abordar essas questões no setting analítico, é possível ajudar o sujeito a navegar pelo mundo virtual de maneira mais consciente e saudável, integrando o real e o simbólico em sua experiência de vida.

Jogos Eletrônicos: Violência, Catarse ou Sublimação

Os jogos eletrônicos estão cada vez mais presentes em nossas vidas, atraindo públicos de diferentes idades e interesses. Mas o que eles representam no campo da psicologia? Entre debates sobre seu impacto na agressividade e seu potencial para aliviar tensões, é importante entender as nuances desse universo.

Violência: o mito e a realidade

Um dos temas mais controversos relacionados aos jogos eletrônicos é a ideia de que jogos violentos podem gerar comportamentos agressivos. Estudos mostram que, em alguns casos, a exposição prolongada a conteúdos violentos pode influenciar emoções e reações momentâneas, mas não há consenso de que isso leve a comportamentos violentos no mundo real. Aqui, é essencial considerar o contexto individual: a personalidade, o ambiente e as experiências de vida do jogador são determinantes.

Além disso, muitos jogos violentos não são apenas sobre a violência em si, mas trazem histórias complexas e escolhas morais que desafiam os jogadores a refletirem sobre suas ações, permitindo um espaço de aprendizado e autoconhecimento.

Catarse: aliviando tensões

Os jogos também podem funcionar como uma ferramenta de catarse. Na teoria psicanalítica, a catarse é o processo de liberar emoções reprimidas. Para muitos, atirar em inimigos digitais ou superar desafios intensos em jogos oferece um espaço seguro para descarregar tensões do dia a dia, reduzindo o estresse e trazendo uma sensação de alívio.

Diferentemente de comportamentos destrutivos na vida real, aqui a ação é simbolizada e restrita a um ambiente controlado, o que pode ajudar o jogador a lidar com sentimentos de frustração ou ansiedade de forma produtiva.

Sublimação: transformando o impulso em criação

Freud descreveu a sublimação como a capacidade de transformar impulsos instintivos em atividades socialmente aceitas e criativas. Os jogos eletrônicos oferecem um vasto território para isso:

Desenvolvimento de habilidades: jogos que exigem estratégia, criatividade e cooperação permitem que o jogador canalize energias para o desenvolvimento de competências.

Exploração de mundos internos: ao se identificarem com personagens ou criarem narrativas próprias, os jogadores podem expressar sentimentos e desejos que seriam difíceis de abordar em outras esferas da vida.

Comunidades virtuais: muitos jogos promovem interações sociais, onde jogadores constroem relacionamentos, trabalham em equipe e desenvolvem empatia ao se colocar no lugar de outros.

O equilíbrio é essencial

Embora os jogos possam oferecer benefícios emocionais e psicológicos, é importante estar atento ao tempo de exposição e ao equilíbrio entre o virtual e o real. O uso excessivo pode gerar isolamento, e a ausência de critérios na escolha de jogos pode expor indivíduos a conteúdos inadequados para sua faixa etária ou estado emocional.

Os jogos eletrônicos, longe de serem apenas uma forma de entretenimento, podem ser uma rica ferramenta para compreender o comportamento humano, trabalhar emoções e até mesmo transformar impulsos. Quando utilizados com moderação e consciência, eles se tornam uma ponte para o crescimento pessoal e social.

E você? Como enxerga o impacto dos jogos eletrônicos em sua vida ou na de alguém próximo? 

Relacionamentos via internet, características e desdobramentos

Sobre relacionamentos via internet, abordando características e desdobramentos


1. "Conexão Digital ou Superficial?"

Relacionamentos iniciados online são cada vez mais comuns. Mas será que a conexão virtual é suficiente para criar vínculos profundos? Vamos explorar os desafios e benefícios dessa forma de interação.
tópicos:

  • Rapidez na formação de vínculos.
  • A idealização do outro por meio de perfis.
  • Como a falta de contato físico impacta a percepção do relacionamento.

interação:
📲 Você já começou um relacionamento pela internet? O que mais te atraiu na outra pessoa no início?


2. "A Influência dos Algoritmos no Amor"

Aplicativos e plataformas têm um papel importante em quem conhecemos. Mas até que ponto os algoritmos ajudam ou limitam nossas escolhas afetivas?
tópicos:

  • Como os algoritmos criam “matchs” e os vieses por trás disso.
  • O impacto da personalização no comportamento humano.
  • Relação entre autoestima e validação nos aplicativos.

interação:
❤️ Já pensou como os algoritmos podem moldar sua vida amorosa? Vamos refletir juntos!


3. "Intimidade à Distância: É Possível?"

Relacionamentos à distância sempre foram desafiadores, mas a tecnologia trouxe novas formas de estar presente na vida do outro. Quais são os limites da intimidade mediada pela internet?
tópicos:

  • Comunicação instantânea e o impacto na frequência das interações.
  • O papel de vídeo chamadas e mensagens para criar proximidade emocional.
  • A importância de um planejamento para encontros presenciais.

interação:
🤔 Você acredita que a tecnologia pode substituir o contato físico? Compartilhe sua visão!


4. "Os Perigos dos Relacionamentos Online"

Apesar de oferecer oportunidades incríveis, relacionamentos pela internet também trazem riscos. Vamos falar sobre catfishing, golpes emocionais e o impacto psicológico das decepções virtuais.
tópicos:

  • O que é catfishing e como se proteger.
  • Como a exposição online pode gerar vulnerabilidades emocionais.
  • Dicas para criar conexões seguras.

interação:
⚠️ Você já passou por algo inesperado em um relacionamento online? Deixe seu relato nos comentários (ou no privado, se preferir).


5. "Relacionamentos Híbridos: O Melhor dos Dois Mundos?"

Já parou para pensar como relacionamentos híbridos, que misturam interações virtuais e presenciais, têm se tornado comuns? Vamos entender como equilibrar essas duas dimensões.
tópicos:

  • A importância de criar momentos presenciais para fortalecer a conexão.
  • Como manter a comunicação fluida entre os dois formatos.
  • Diferenças de expectativas entre o virtual e o real.

interação:
Qual é a sua fórmula ideal para equilibrar vida online e offline nos relacionamentos?


😊

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Mudar vem acompanhado de muitas despedidas

Sim, mudar significa abraçar o novo, mas também deixar para trás aquilo que já foi parte de nós. Cada despedida traz um misto de saudade e crescimento, porque é nos espaços deixados que o novo encontra lugar para florescer. 🌱

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Injustiça

 E sobre abrir mão de entender a injustiça?

Abrir mão de entender a injustiça pode parecer contraintuitivo, especialmente quando somos ensinados a buscar explicações, justiça ou reparação. No entanto, existem momentos em que insistir em compreender o porquê de algo injusto ter acontecido nos aprisiona mais do que nos liberta.

A injustiça muitas vezes não faz sentido porque desafia nosso desejo por equilíbrio e previsibilidade. Queremos acreditar que o mundo é regido por uma lógica justa, em que esforço é recompensado e erros são corrigidos. Quando isso não acontece, a busca por entender pode se transformar em uma ferida que continuamos a cutucar, esperando que uma resposta a feche.

Mas e se não houver uma resposta que traga paz? E se a injustiça for fruto do caos, do egoísmo alheio ou de circunstâncias além do nosso controle? Nesse caso, insistir em entender pode nos manter presos a um ciclo de dor.

Abrir mão de entender não significa resignar-se à injustiça, mas sim reconhecer os limites do que podemos controlar. É um ato de auto-preservação, um passo em direção à paz interior.

Aceitar o inexplicável: Algumas coisas simplesmente não terão respostas satisfatórias. Reconhecer isso é um ato de coragem, não de fraqueza.

Focar no presente: A injustiça aconteceu, mas a vida continua. Investir energia em cuidar de você, em construir novas experiências, é um modo de não deixar o passado ditar o seu futuro.

Separar o que é seu do que é do outro: A injustiça cometida diz mais sobre quem a perpetrou do que sobre quem a sofreu. Liberar-se do peso de "entender" os outros é um ato de libertação.

Quando você abre mão de entender a injustiça, não está perdoando ou esquecendo. Está dizendo: "Não vou mais deixar isso consumir minha energia." Está escolhendo colocar seu foco no que constrói, no que fortalece, no que lhe devolve a si mesma.

Abrir mão de entender é uma forma de recusar a perpetuação do impacto que a injustiça tem sobre você. Não é apagar a dor, mas decidir que ela não terá a última palavra. E isso, por si só, já é uma forma de justiça que você dá a si mesma.

O que é a transmissão para Lacan?

Para Jacques Lacan, transmissão é um conceito fundamental que está relacionado à forma como o saber psicanalítico e os elementos inconscientes são comunicados, perpetuados e vividos dentro de um contexto relacional, especialmente no campo analítico. 

A transmissão para Lacan é um processo que atravessa o simbólico, o imaginário e o real, colocando em jogo o saber inconsciente e a experiência subjetiva. Ela não é um simples repasse de informações, mas uma passagem de algo que se vive e se ressignifica no campo da linguagem e da transferência. É através da transmissão que o legado da psicanálise se mantém vivo, adaptando-se às singularidades de cada encontro clínico e às nuances do desejo humano.

Trata-se de um processo que ultrapassa a mera transferência de informações, envolvendo uma dimensão simbólica e experiencial. Aqui estão os principais aspectos da transmissão para Lacan:

1. Transmissão como Comunicação do Saber

Lacan distingue o saber (savoir) do conhecimento tradicional. O saber, na psicanálise, não é apenas algo que pode ser ensinado, mas é algo que emerge do inconsciente, que está em jogo na transferência e na relação analítica. Assim, a transmissão do saber psicanalítico não ocorre como em um modelo didático, mas como uma experiência viva, onde o analista encarna o lugar de suporte para que algo do inconsciente do analisante se manifeste.

2. Transmissão e o Campo do Outro

No ensino de Lacan, o inconsciente é estruturado como uma linguagem e está inscrito no campo do Outro (o grande Outro, o locus simbólico). Nesse sentido, a transmissão implica a passagem de elementos simbólicos entre sujeitos, mediada pela linguagem, que permite a constituição de sentidos e significados.

3. A Transmissão na Formação do Analista

Lacan enfatiza que o analista é um produto de sua própria análise, ou seja, é através de sua própria experiência analítica que ocorre a transmissão. Essa ideia sublinha que a formação de um psicanalista não é apenas teórica ou técnica, mas vivencial. O processo de transmissão, nesse contexto, é altamente subjetivo e único para cada um, ocorrendo na interseção entre o simbólico e o real.

4. Transmissão e Transferência

A transmissão está intimamente ligada ao conceito de transferência. Na relação analítica, o saber do analista não é explícito ou consciente, mas é operante no campo transferencial. É através da transferência que algo do desejo, do saber inconsciente e das estruturas psíquicas é transmitido. O analista ocupa um lugar vazio, um semblante, que permite que o saber inconsciente do analisante se desdobre.

5. O Intransmissível

Embora Lacan reconheça a importância da transmissão, ele também enfatiza o que é intransmissível — aquilo que escapa à linguagem e que só pode ser apreendido na experiência singular do sujeito. Nesse ponto, ele introduz o conceito do real, que é o núcleo impossível de ser simbolizado e, portanto, de ser transmitido plenamente. Essa lacuna no processo de transmissão é central para a psicanálise, pois reforça a ideia de que o saber inconsciente é sempre fragmentado e contingente.

6. A Transmissão na Ética Psicanalítica

Para Lacan, a transmissão também diz respeito à ética do desejo. O analista deve transmitir uma abertura para que o sujeito encontre sua posição diante de seu desejo, sem impor valores, verdades ou dogmas. Essa ética da transmissão é um ponto crucial para que o processo analítico seja genuíno e respeite a singularidade do analisante.

 


Porque surge raiva de você mesma em situações abusivas?

A raiva de si mesma em situações abusivas é uma reação comum, embora profundamente dolorosa e complexa. Ela costuma surgir porque, em vez de direcionar toda a indignação para quem causou o dano, muitas vezes a vítima internaliza o abuso, se questiona e se culpa. Isso acontece por uma combinação de fatores emocionais, sociais e psicológicos.

1. A Cultura da Culpa

Vivemos em uma sociedade que frequentemente transfere a responsabilidade da agressão para a vítima. Frases como "Mas por que você não saiu antes?" ou "Você devia ter reagido" acabam plantando a ideia de que você, de alguma forma, foi responsável pelo que aconteceu. Esse peso cultural da culpa pode levar a pessoa a sentir raiva de si mesma, como se ela tivesse "permitido" o abuso.

2. A Ilusão de Controle

Outra razão para essa raiva interna é a necessidade de encontrar uma explicação para o que aconteceu. É doloroso aceitar que, em muitos casos, não havia como evitar a situação. Culpar a si mesma dá uma falsa sensação de controle: "Se eu fiz algo errado, então posso mudar isso no futuro." Apesar de ilusório, esse pensamento pode parecer mais suportável do que encarar a impotência diante do abuso.

3. O Efeito da Manipulação

Em relações abusivas, os abusadores frequentemente manipulam suas vítimas, minando sua autoestima e distorcendo sua percepção da realidade. Eles fazem a vítima acreditar que é responsável pelo comportamento do abusador: "Se você não tivesse dito aquilo, eu não teria reagido assim." Com o tempo, essa manipulação pode levar a vítima a internalizar essas mensagens e se sentir raivosa consigo mesma.

4. A Raiva Reprimida

Muitas vezes, a raiva que deveria ser dirigida ao abusador não encontra espaço para ser expressa. Isso pode acontecer por medo de represálias, por dependência emocional ou porque a pessoa ainda não percebeu plenamente o abuso. Como essa raiva não pode ser direcionada ao outro, ela se volta para dentro, gerando sentimentos de autodepreciação.

5. O Luto pela Autonomia Perdida

Estar em uma situação abusiva pode gerar uma sensação de perda de autonomia e identidade. A pessoa olha para trás e se pergunta: "Por que eu não vi os sinais? Por que eu não agi diferente?" Essa frustração com o próprio passado muitas vezes se transforma em raiva, dificultando o processo de aceitação e autocuidado.


Como Lidar com Essa Raiva

Reconheça que você não é culpada: Lembre-se de que o abuso é sempre uma escolha do abusador, não uma consequência de algo que você fez ou deixou de fazer.

Permita-se sentir raiva: Direcione essa emoção para o lugar certo — para o sistema que perpetua o abuso, para o comportamento do abusador ou até para as circunstâncias que te mantiveram presa. Isso pode ser libertador.

Busque apoio: Terapia ou grupos de apoio podem ajudar a ressignificar essas emoções e a reconstruir sua autoestima.

Cultive o perdão a si mesma: Não como um ato de ignorar o que aconteceu, mas como um gesto de carinho e aceitação.

Transformar essa raiva em força é possível. Com o tempo, é possível entender que não é sua culpa e que o que você merece é cuidado, proteção e respeito — de você para você mesma.

a verdade não é uma teoria, a verdade é uma experiência

A verdade não é algo que pode ser simplesmente teorizado ou explicado em palavras; ela é, antes de tudo, uma experiência vivida. Enquanto as teorias tentam captar a verdade em conceitos, a experiência a revela em seu poder transformador e direto. A verdade, no fundo, não se limita a uma explicação lógica ou racional, mas se manifesta no que sentimos, no que vemos, no que vivemos.

Cada pessoa tem sua própria verdade, moldada por suas vivências, emoções e interpretações do mundo. O que é verdade para um pode não ser para outro, e isso ocorre porque a verdade é vivenciada de forma única, de acordo com os olhos de quem a observa e os momentos que a formam.

Portanto, a verdade é algo que se experimenta no presente, nos gestos cotidianos, nas relações e nos sentimentos. Não se trata de um conceito rígido, mas de um processo contínuo, pessoal e transformador, que surge no encontro com o mundo e consigo mesmo. A verdade, por ser uma experiência, é algo que vai além do saber; ela é um sentir profundo, uma compreensão que só se realiza ao ser vivida.

Agora é o momento de enlutar, não de lutar!

Agora é o momento de enlutar, não de lutar. O luto é o processo silencioso e profundo de aceitar o que não pode ser mudado, de dar espaço à dor e às emoções que surgem com a perda, seja de algo, de alguém ou de um sonho. É o tempo de parar, respirar e permitir-se sentir. Muitas vezes, a sociedade nos impulsiona a seguir em frente, a "lutar" pela superação imediata, pela vitória sobre as dificuldades. Mas, neste momento, o que é necessário não é a força para seguir, mas a sensibilidade para vivenciar o vazio, para reconhecer a ausência e aprender com ela.

A luta pode ser útil em tempos de ação, mas o luto é a chave para a transformação interior. Não se trata de vencer ou de provar nada a ninguém, mas de aceitar que o processo de cura começa com o reconhecimento do que se perdeu. O luto não é fraqueza, é coragem de ser vulnerável, de confrontar as próprias emoções sem pressa de superá-las.

Agora, é preciso honrar o tempo do luto, respeitar o silêncio que ele exige e entender que, para seguir em frente, primeiro é necessário acolher o que ficou para trás. Enlutar é dar permissão ao próprio coração para sentir o peso da perda, para refletir sobre o que realmente importa, para reconstruir-se com mais sabedoria, mais empatia e mais compreensão. 

Quando o luto for vivido com sinceridade, o caminho da luta será mais leve, pois será fundado em um novo entendimento do que realmente significa crescer, aprender e seguir em frente.

Propósito

Acordar não para trabalhar e sim para manifestar seu propósito. Este é o objetivo da vida, saber quem você é e a partir daí expressar seu eu verdadeiro, compartilhando seus dons sem esforço e sofrimento e sim com alegria e amor. Não é o lugar que determina isso e sim a sua consciência.

Postagem em Destaque

Você passou de fase! Parabéns! 💔 Bem vindo ao Próximo Nível.

Olá Querida , ouvi sua mensagem. Na verdade, ouvi sua mensagem algumas vezes, até estar aqui e responder. Sua mensagem é bonita, é carinhosa...

Um presente

Você é mais do que um irmão, é um amigo, um presente e me acompanha nos momentos alegres e nas aflições. Me dá sempre os melhores conselhos.
Compartilhamos a paixão pelo futebol.💙 Irmã de menino é assim mesmo, junto com as bonecas, a gente vira goleiro, aprende a lavar carros, instalar chuveiro, chef de cozinha. Rs. Trocamos afilhados. E as muitas viagens, nem se fala, as que deram certo e as “roubadas” que nos metemos.
Compartilhamos a mesma casa e a mesma educação, crescemos juntos, vivemos juntos e ninguém nos conhece melhor do que nós mesmos, por isso, quero que saiba que te amo de todo coração, e que, se precisar de algo, estarei bem aqui para te ajudar, para te dar minha força.
Admiro você, sua família, sua empresa ... sua alma, sua jornada nessa vida!!!!
Você sabe que pode sempre contar e confiar em mim. Estamos unidos para o que der e vier, somos cúmplices, não importa o que aconteça.
Quero lhe desejar tudo de bom neste dia, você merece o melhor! Obrigada pela sua amizade, você é a minha certeza e torço bastante por você. Que estejamos cada vez mais unidos.
Seja muito Feliz! Te admiro muito. Tenha um Feliz Aniversário! 🎁

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