Protagonizar a própria vida parece, muitas vezes, uma tarefa monumental. A ideia de ser o centro das decisões, o autor das escolhas e o responsável pelos desdobramentos soa poderosa, mas pode se tornar um peso esmagador. Não é sempre que conseguimos segurar a caneta da nossa história com firmeza, e em muitos momentos o enredo parece fugir do nosso controle, como se fosse escrito por mãos impiedosas.
Quando algo nos é tirado — seja uma relação, uma oportunidade ou uma expectativa —, o discurso comum é enxergar isso como um "livramento". Um conceito reconfortante: talvez aquilo não fosse bom para nós. Talvez fosse uma distração do nosso caminho. Mas o que fazer quando, em vez de alívio, o que sentimos é a dor da perda? Quando, ao invés de gratidão pelo livramento, o que fica é a sensação de humilhação?
A humilhação tem um jeito cruel de nos despir diante de nós mesmos. É como se aquilo que perdemos fosse mais do que um pedaço da nossa vida — fosse um pedaço do nosso valor. O fim de uma relação, o fracasso em um projeto, a rejeição ou a decepção nos colocam frente a frente com a ideia de que não fomos suficientes. E, nesse confronto interno, o protagonismo parece se distanciar. Como protagonizar uma história que, aos nossos olhos, está desmoronando?
A questão é que, ao vivermos esses momentos, raramente conseguimos enxergar o quadro completo. O "livramento", enquanto estamos dentro da dor, parece uma palavra vazia. Um consolo distante, quase cruel, oferecido por quem não está sentindo o peso que carregamos. Porque, para quem vive, o agora dói. E aceitar que o que foi tirado pode ter sido para o nosso bem é um ato que exige tempo, clareza e, acima de tudo, distância emocional.
Mas talvez o verdadeiro protagonismo comece aqui: no meio da dor e da confusão, quando tudo parece perdido. Protagonizar não é ter todas as respostas nem estar no controle o tempo todo. Protagonizar é aceitar que a história tem altos e baixos, que a humilhação de hoje pode ser a força de amanhã. É confiar que, mesmo que o roteiro pareça desordenado, você ainda está escrevendo.
Transformar humilhação em aprendizado é um processo lento. Primeiro, precisamos aceitar a dor pelo que ela é. Não forçar a ideia de "livramento" quando ainda não estamos prontos para acreditar nela. Permitir-se sentir o que for preciso sentir, sem se julgar por isso. Só depois conseguimos olhar para trás e, talvez, encontrar sentido no que parecia tão injusto.
O protagonismo não está na ausência de quedas, mas na capacidade de se levantar. E, acima de tudo, de continuar andando, mesmo quando o caminho está encoberto. Um dia, talvez, você olhe para essa fase e veja não uma humilhação, mas um ponto de virada. Não porque foi fácil, mas porque você teve coragem de seguir.
Seja gentil consigo mesmo nesse processo. A dor de hoje não invalida o valor que você tem. O livramento, se for real, será reconhecido no momento certo. Até lá, lembre-se: ser o protagonista da sua vida não significa ter todas as certezas, mas sim seguir escrevendo, mesmo quando a história parece difícil de ler.
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