Quando você está livre, algo paradoxal acontece dentro de você. A liberdade, que deveria ser o espaço de autossuficiência e de escolha plena, se torna um peso. Ela se revela insuportável, uma vastidão silenciosa que grita a ausência de vínculos, de referências externas que possam te ancorar. E é nesse momento que você se apressa em se sujeitar a alguém, a se prender novamente a algo ou a alguém que possa dar sentido àquela liberdade avassaladora.
A liberdade não é o que ela parece ser à primeira vista. Ela não é um campo aberto de prazeres ou realizações sem restrições. Para muitos, ela se torna uma sensação de vazio, de não saber o que fazer com o excesso de possibilidades, o temor do próprio poder de escolha. E, no instante em que se vê livre de tudo, surge a necessidade de se atar a um novo "outro", de se submeter a um novo compromisso, a uma nova estrutura. A liberdade parece então desprovida de sustentação, e a dor de estar só consigo mesma se torna maior do que a dor da dependência ou do sofrimento.
É quase como se, ao ser livre, você estivesse confrontando a vastidão do desconhecido, o abismo do que não está mais delimitado, e isso te assusta. O que fazer com essa autonomia? Como lidar com a pressão interna de ser completamente responsável por sua própria escolha, sem a segurança de um guia, de uma referência externa que te moldasse?
É nesse ponto que a liberdade vira um fardo. E, em um movimento quase desesperado, o ser humano procura a sujeição. A sujeição ao outro, ao sistema, à ideia de pertencimento, torna-se uma forma de fugir do terror do infinito de opções. O sofrimento, portanto, se torna preferível à solidão da liberdade, pois ele é previsível, conhecido e controlável. Mesmo que doam, os limites impostos pelo sofrimento são mais fáceis de suportar do que o abismo da indeterminação que acompanha a liberdade.
Nesse contexto, a escolha de sofrer em vez de ser livre pode ser vista como um mecanismo de defesa, uma forma de evitar a desconstrução interna que a total liberdade impõe. E o paradoxo está aí: a busca por sofrimento em nome da liberdade é, de alguma forma, a busca pela segurança que o sofrimento ilusoriamente oferece.
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