É difícil olhar para nossas relações e reconhecer que estamos recebendo muito pouco, ou quase nada. Esse “pouco” não é apenas sobre gestos ou palavras, mas sobre cuidado, reciprocidade e respeito. O abuso, em muitos casos, não se revela em atos extremos ou óbvios. Ele pode ser silencioso, sutil, embutido na dinâmica cotidiana, na forma como somos tratados — ou ignorados.
Quando você dá muito e recebe quase nada, a balança emocional da relação está desequilibrada. E esse desequilíbrio não acontece por acaso. Às vezes, está profundamente ligado à forma como nos percebemos e ao que acreditamos merecer. Ser abusado não significa apenas ser explorado de maneira consciente pelo outro, mas também aceitar, talvez sem perceber, um papel de constante doador, de alguém que prioriza o outro ao ponto de se esquecer de si mesmo.
Esse padrão de receber tão pouco pode vir de histórias antigas. Talvez, em algum momento da sua vida, você tenha aprendido que amor é algo que se conquista, algo que você precisa merecer. Que, para ser aceito, você deve fazer mais, ser mais, dar mais. Essa crença, muitas vezes invisível, pode fazer com que você permaneça em relações onde é desconsiderado, na esperança de que, um dia, o outro veja o seu valor e mude.
Mas eis a verdade dolorosa: quando uma relação se fundamenta em você dar tudo e receber quase nada, o problema não é a quantidade do que você oferece. Não importa o quanto você se esforce ou se doe, porque o outro, muitas vezes, nem percebe o desequilíbrio — ou não se importa em corrigir. Abusos emocionais e relacionais, por vezes, se sustentam na lógica de que “se você está aqui, é porque aceita isso”. E, sem perceber, você acaba reforçando o ciclo.
Ser abusado não é uma questão de fraqueza, mas de uma posição que, com o tempo, se torna confortável na sua normalidade. Você pode estar acostumado a ser aquele que sempre se adapta, que carrega o peso emocional da relação, que tenta preencher lacunas que, na verdade, são responsabilidades do outro. Mas até onde isso é sustentável? Até quando você vai se permitir viver com tão pouco?
Reconhecer o abuso emocional não é fácil. Porque ele não vem só do outro; ele também se alimenta da nossa dificuldade de dizer basta, de perceber que merecemos mais, que merecemos relações onde exista troca, e não exploração. O primeiro passo é admitir que algo está errado. O segundo, e mais difícil, é quebrar o ciclo.
Você não precisa aceitar relações onde recebe tão pouco. Não precisa carregar o peso de relações que te esgotam e te roubam a energia vital. É preciso coragem para olhar para isso e dizer: “Eu não aceito mais viver assim”. E, mais ainda, é preciso amor-próprio para colocar limites e, se necessário, ir embora.
Lembre-se: você merece o que dá. Se você oferece amor, cuidado, paciência e dedicação, deveria receber isso de volta. Relações não são medidas pela perfeição, mas pelo equilíbrio. Não aceite menos do que você merece, porque receber tão pouco não é amor — é abuso.
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