Hoje, ao atender pacientes que vivem e respiram o mundo corporativo – um mundo do qual eu mesma fiz parte por longos anos – consigo enxergar, com uma clareza dolorosa, como esse ambiente tem a capacidade de desgastar o ser humano até o limite. Eles chegam ao consultório trazendo histórias de exaustão, de noites sem sono e de uma sensação constante de fracasso, como se estivessem sempre um passo atrás de um ideal inalcançável.
O que eles compartilham é assustadoramente comum: metas absurdas, jornadas intermináveis, chefias opressoras e um clima de competitividade insustentável. São profissionais brilhantes que, dia após dia, são consumidos pela ansiedade de produzir mais, de se manterem relevantes, de evitar críticas ou, pior, de não serem descartados. O medo de falhar e o peso da pressão se tornaram companheiros inseparáveis.
O ambiente corporativo, muitas vezes, é um palco de abusos disfarçados de exigência profissional. Lá, a exaustão é romantizada como sinônimo de comprometimento. O silêncio sobre o sofrimento é recompensado, enquanto quem ousa reclamar é rapidamente rotulado como “fraco” ou “não preparado para o desafio”. É um ciclo tóxico em que a vulnerabilidade não tem espaço, e as pessoas se tornam, aos poucos, máquinas funcionais – ou ao menos tentam parecer assim.
E o que acontece quando o corpo e a mente dão sinais de que não conseguem mais suportar? Há uma quebra. Há o colapso. E mesmo esse momento é envolvido em culpa. "Por que não consigo dar conta?" ou "Será que sou eu que não estou sendo bom o suficiente?" são perguntas que ecoam na mente de muitos que me procuram.
Ao ouvi-los, não posso deixar de pensar em como o sistema engole suas vítimas, desumanizando-as. Como profissionais, são reduzidos a números, estatísticas, gráficos de desempenho. Como pessoas, são soterrados por cobranças desmedidas e pela necessidade de manter uma imagem de invencibilidade. E, ainda assim, o mundo corporativo segue vendendo a ilusão do sucesso e do reconhecimento, como se fosse possível alcançar felicidade dentro de estruturas que minam lentamente a saúde mental e emocional de seus integrantes.
Meu papel, como profissional, é ajudar a quebrar esse ciclo. Relembrá-los de que suas vidas não precisam girar em torno de KPIs ou feedbacks de gestores tóxicos. Mostrar que é possível encontrar caminhos de autonomia e autocuidado mesmo dentro de um sistema tão hostil. Não é fácil, eu sei. Mas a cada pequena vitória que eles conquistam – seja estabelecendo limites, seja priorizando sua saúde – o peso do terror corporativo se torna um pouco mais leve.
O mundo corporativo precisa de mudanças profundas, mas enquanto isso não acontece, é urgente oferecer apoio e ferramentas para que esses profissionais sobrevivam sem perder sua essência. Afinal, o sucesso nunca deveria custar a própria humanidade.
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