Existe, em muitos de nós, uma expectativa quase invisível, um desejo silencioso: o de ser colocado para dentro. Essa fantasia é a de que, em algum momento, alguém abrirá as portas de um lugar ao qual sentimos que não pertencemos e dirá: "Venha, você é um de nós agora." É a esperança de ser acolhido, reconhecido, validado. De finalmente pertencer.
Essa fantasia, embora pareça reconfortante, muitas vezes nos aprisiona. Ela cria uma espera interminável, uma dependência do olhar do outro para legitimar quem somos. É como se ficássemos na soleira de uma porta, hesitando, torcendo para que alguém a escancare e nos conduza para um espaço onde, finalmente, nos sentiremos aceitos e completos. Mas a pergunta que precisamos nos fazer é: esse lugar realmente existe?
A fantasia de ser colocado para dentro é alimentada pela sensação de exclusão que todos, em algum nível, já sentimos. Seja no grupo de amigos, na família, no trabalho, ou até mesmo em nossas relações mais íntimas, carregamos feridas de momentos em que não fomos vistos, ouvidos, ou aceitos como somos. Esses momentos plantaram em nós a crença de que pertencimento é algo que vem de fora, algo que depende do convite de alguém, de uma aprovação externa.
Mas essa fantasia esconde um paradoxo: quanto mais esperamos ser colocados para dentro, mais nos colocamos para fora. Ao esperarmos que o outro nos valide, que o mundo nos reconheça, negamos a nós mesmos o poder de abrir a porta. Esquecemos que o lugar onde queremos estar não é um espaço físico, nem mesmo um grupo ou um status. O lugar que buscamos é, antes de tudo, dentro de nós mesmos.
A verdade é que ninguém vai nos colocar para dentro porque o pertencimento genuíno não se dá por concessão. Ele é construído por nós, a partir do momento em que paramos de olhar para a porta como algo que nos separa, e começamos a perceber que talvez ela nem exista. O que nos impede de nos sentirmos "dentro" não é a ausência de um convite, mas a crença de que precisamos dele para começar a viver plenamente.
Reconhecer essa fantasia é doloroso, porque implica abrir mão de uma ilusão que, por muito tempo, nos deu conforto. Mas também é libertador. Significa tomar para si a responsabilidade de criar o próprio lugar, de decidir que pertencemos, independentemente de qualquer validação externa.
Você não precisa esperar ser colocado para dentro. Você já está dentro, no único lugar que importa: dentro da sua história, da sua vida, da sua autenticidade. A porta que você acha que precisa atravessar talvez seja apenas um reflexo do medo de se apropriar de quem você é. Abra essa porta — ou melhor, perceba que ela nunca esteve trancada. E entre, não porque alguém o convidou, mas porque esse lugar sempre foi seu.
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