Há momentos na vida em que o coração se parte diante de uma injustiça. Algo nos foi tirado: a dignidade, o respeito, a paz ou até mesmo a confiança no mundo. Ficamos à espera de que algo maior — a justiça, seja divina ou dos homens — conserte aquilo que foi quebrado. Mas, enquanto esperamos, uma força pode crescer dentro de nós: o desejo de vingança.
Esperar pela justiça é um exercício de paciência e, muitas vezes, de fé. É acreditar que o universo tem uma ordem, que há um equilíbrio natural que pune aqueles que erram e recompensa os que foram feridos. Mas, e quando essa justiça tarda? E quando ela parece cega, surda, distante? Nessas horas, é como se uma voz interna dissesse: “Se ninguém fará justiça por você, faça você mesmo”.
Planejar vingança é ceder a essa voz. É sentir, por um instante, que podemos tomar de volta o controle que nos foi tirado. Que podemos equilibrar a balança com nossas próprias mãos. É imaginar, em silêncio, o momento em que o outro sentirá na pele o que nos fez sentir. O plano, muitas vezes, não é apenas sobre causar dor ao outro, mas sobre reafirmar o nosso valor, provar que não somos vítimas indefesas. A vingança surge como uma tentativa de restaurar o que nos foi roubado: o poder.
Mas a vingança, por mais certa que pareça no imaginário, é perigosa. Ela consome, ocupa os pensamentos, molda as atitudes. É um veneno que bebemos aos poucos, esperando que o outro sofra, sem perceber o quanto já nos corroeu por dentro. Planejá-la pode dar uma falsa sensação de alívio, mas também nos aprisiona à dor, como se estivéssemos vivendo uma eterna repetição do momento em que fomos feridos.
Entre a justiça que não chega e a vingança que consome, há uma terceira via: o desapego. Não é fácil, não é rápido, e nem sempre parece justo. Mas soltar a corda que nos mantém ligados ao que aconteceu é o único caminho para encontrar paz verdadeira. A justiça, afinal, pode vir, mas nunca desfará o passado. E a vingança pode até acontecer, mas não trará de volta o que perdemos.
Então, talvez a maior vitória não seja esperar justiça nem planejar vingança, mas encontrar a força para seguir em frente. Transformar a dor em aprendizado, o ódio em indiferença, e o desejo de retribuição em uma decisão de viver melhor do que antes. Isso não significa esquecer ou perdoar imediatamente, mas sim não deixar que a injustiça nos defina.
Esperar justiça é humano. Planejar vingança também é. Mas escolher a liberdade é um ato de coragem — um que poucos conseguem alcançar, mas que nos devolve algo ainda maior do que o que nos tiraram: o controle sobre quem somos e para onde queremos ir.
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