Para Lacan, a angústia é um afeto central em sua teoria psicanalítica, com uma posição bastante específica: a angústia não engana. Enquanto outros afetos podem ser ilusórios ou distorcidos pelas defesas psíquicas, a angústia é um sinal puro, um indicador de algo real no sujeito. Ela é inseparável da relação do sujeito com o desejo e com o que Lacan chama de "o Real" – o que está além do simbólico e do imaginário, aquilo que não pode ser plenamente representado ou simbolizado.
A angústia como relacionada à falta e ao desejo: Para Lacan, a angústia surge quando o sujeito confronta algo que ameaça a estrutura da falta que organiza o desejo. Em vez de haver uma "falta" que possibilita o desejo (como "falta do objeto amado"), a angústia aparece diante de algo que ocupa ou preenche essa falta de maneira perturbadora.
A relação com o "objeto a": A angústia está intimamente ligada ao conceito de objeto a, o objeto causa do desejo. Esse "objeto" é algo que está perdido ou inalcançável, mas que orienta o desejo do sujeito. Quando o sujeito se depara com o objeto a em sua dimensão real, em vez de mantê-lo como uma ausência simbólica, surge a angústia. Isso significa que a angústia aparece quando o sujeito é confrontado com algo que o aproxima de um núcleo do desejo ou do gozo que é excessivo.
A angústia não tem um objeto claro: Embora Lacan afirme que "a angústia não é sem objeto", esse objeto é sempre parcial e relacionado ao objeto a, ou seja, algo que não pode ser claramente identificado ou plenamente conhecido. Isso diferencia a angústia do medo, que tem um objeto claro e específico.
A angústia como sinal do Real: Lacan insere a angústia no registro do Real, que é aquilo que escapa à simbolização e não pode ser integrado plenamente no campo do discurso ou da linguagem. Assim, a angústia é uma espécie de confronto com o Real, um momento em que a estrutura simbólica falha em organizar a experiência.
Angústia e a relação com o Outro: Lacan também relaciona a angústia ao desejo do Outro: o que o Outro quer de mim? Qual é o lugar que ocupo no desejo do Outro? Essas questões geram angústia porque lidam com algo que é incognoscível e muitas vezes invasivo.
Diferença entre angústia e outros afetos: A angústia não é simplesmente um estado emocional desconfortável, como tristeza ou medo. Para Lacan, ela é mais fundamental e relacionada à estrutura do sujeito. O medo, por exemplo, tem um objeto claro que pode ser nomeado ou identificado; já a angústia é um afeto ligado à incerteza e à incapacidade de simbolizar plenamente a experiência.
Na prática psicanalítica, a angústia é vista como um ponto crucial. Para Lacan, ela pode ser uma espécie de bússola clínica, indicando onde estão os impasses do desejo e os pontos em que o sujeito se aproxima do Real. Além disso, é muitas vezes um indicador de transformação e mudança, já que confronta o sujeito com o que é mais essencial.
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