A busca pela auto-suficiência muitas vezes se coloca como uma armadilha que, ao invés de nos liberar, nos priva das possibilidades mais autênticas de nos conectarmos com o outro. Em uma sociedade que exalta a independência e a autonomia como virtudes supremos, o conceito de amar parece ter se desvirtuado. Amar, em muitas das vezes, se torna um exercício de autoafirmação, onde o outro é visto como algo a ser consumido, validado ou, muitas vezes, como um reflexo de nossas próprias necessidades não atendidas.
A auto-suficiência, quando entendida como o valor supremo, torna-se um escudo contra as vulnerabilidades do afeto. Em nome da preservação de uma imagem idealizada de nós mesmos — fortes, invulneráveis e autossuficientes — nos afastamos da experiência genuína de amar. Afinal, o que é o amor senão a disposição de se expor ao outro, de permitir que ele nos toque e que, de alguma maneira, ele também nos molde? O amor verdadeiro não surge de uma relação em que estamos em posição de quem tem o controle ou de quem não precisa de nada. Ao contrário, ele nasce da entrega, da fragilidade compartilhada e da aceitação do que o outro tem a oferecer, sem esperar que ele seja um mero espelho de nossas carências.
Quando a auto-suficiência se torna um ideal, ela nos convence de que precisamos ser completos antes de nos permitir ser amados. Assim, a expectativa de que devemos estar sempre em plenitude, sem falhas, sem espaços a serem preenchidos, se transforma em uma barreira invisível, impedindo a aproximação verdadeira. O outro é visto como alguém que precisa ser "consertado", "ajustado" ou "perfeito", o que reduz o amor a uma relação de expectativas e frustrações.
Entretanto, o amor não requer que sejamos completos para dar ou receber afeto. Pelo contrário, ele nasce justamente quando somos capazes de reconhecer e aceitar nossas imperfeições, as lacunas que existem em nós e, assim, permitir que o outro nos complemente, nos desafie e até mesmo nos ensine. A auto-suficiência, como antidoto, nos faz acreditar que ser amável é uma fraqueza, que depender do outro é algo indigno. Mas, na verdade, é na vulnerabilidade e no compartilhamento que o amor se intensifica. Amar é abrir-se para a possibilidade de ser modificado, de ser tocado por aquilo que o outro tem a oferecer, sem a necessidade de ser "completo" para isso.
Na vida, o amor não se sustenta na ideia de ser auto-suficiente, mas na construção de algo compartilhado. O amor real não teme a dependência, nem se esquiva da fragilidade, pois sabe que é nesse espaço que ele floresce. Ao adotar a auto-suficiência como a principal virtude, fechamo-nos para as trocas que realmente enriquecem e transformam. Talvez, o maior desafio seja deixar de lado essa ilusão de perfeição e, em vez disso, permitir-se a leveza da vulnerabilidade. Só assim podemos ser verdadeiramente amados, e mais importante ainda, amar com a profundidade que a vida realmente pede de nós.
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