Introdução

A forma como nos apresentamos reflete nossa autoconfiança e influencia nossas relações. Unimos psicologia, tecnologia, estilo e organização para oferecer uma experiência transformadora. Os estilistas ajudam você a expressar sua personalidade por meio de roupas, acessórios e cores que se alinhem ao seu estilo de vida e objetivos. Já os organizadores otimizam seu espaço físico para que reflita quem você é e atenda suas necessidades práticas. Trago textos do cotidiano a partir da minha vivência no mundo corporativo de tecnologia, com o olhar da psicologia. Falamos de Inteligência Artificial, Metaverso, Luto, Ansiedade, Carreira, Relacionamentos, entre outras coisas.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Ausência Estratégica

Aprenda a fazer falta. Vivemos em uma sociedade onde estar disponível o tempo todo parece ser uma virtude. Respondemos mensagens instantaneamente, dizemos “sim” a compromissos sem fim e, muitas vezes, nos colocamos em segundo plano para atender às expectativas alheias. Mas, no meio desse ritmo acelerado, há algo poderoso em aprender a fazer falta.

Fazer falta não significa se ausentar por birra ou manipulação, mas sim entender o seu valor e reconhecer que a sua presença, o seu tempo e a sua energia têm um impacto genuíno na vida das pessoas. Não se trata de se afastar para chamar atenção, mas de construir uma relação onde sua ausência seja sentida porque você contribuiu com algo significativo. Quando você aprende a fazer falta, descobre o valor da sua própria essência e ensina os outros a valorizarem também.

Temos medo de nos afastar, acreditando que seremos esquecidos. Mas, na verdade, é justamente no espaço deixado pela sua ausência que o outro percebe a sua importância. Quando você está disponível demais, o que oferece pode ser tomado como garantido. Por outro lado, quando você equilibra presença e ausência, dá espaço para que os outros percebam o quanto você acrescenta à vida deles — seja com palavras, ações ou simplesmente com a sua energia.

Fazer falta é um exercício de autoconfiança. É dizer para si mesmo: "Eu não preciso estar o tempo todo para ser lembrado, apreciado ou amado." Isso significa que você não precisa se desgastar tentando agradar a todos ou estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Fazer falta é ter coragem de se preservar, de respeitar seus próprios limites e, ao mesmo tempo, de confiar que aquilo que você construiu com os outros não desaparece quando você não está.

Também é um exercício de respeito ao próximo. Quando você se ausenta no momento certo, dá às pessoas a oportunidade de refletirem sobre a importância que você tem. E, ao voltar, a conexão se fortalece. Fazer falta é, de certa forma, ensinar aos outros a diferença entre presença genuína e presença automática.

Aprender a fazer falta não significa se distanciar de tudo e de todos. É, na verdade, sobre qualidade. Sobre dar o seu melhor quando está presente e se retirar quando é necessário, sem culpa, sabendo que a sua ausência também pode ser uma forma de fortalecer laços.

Então, cuide da sua energia. Permita-se descansar, priorizar e escolher onde você deseja estar. A ausência estratégica não é egoísmo — é sabedoria. Porque quem realmente importa sempre sentirá sua falta, e quem não sentir talvez nunca tenha merecido sua presença.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Mais um sonho ... vc percebe o quanto mudou qdo volta a um lugar do passado!

Praticando a interpretação dos sonhos. Mais um caso da clínica ...

Projeções à parte, eu me envolvi muito com esse sonho e sua interpretação. Eu não queria falhar!!! 

Por isso que os analistas têm que estar com nossa análise em dia!!! 

Senão a projeção e a contratransferência os aniquilam. rs 

Foi por pouco !!! rs

===== relato da paciente 👇👇👇

Sonhei que estava de volta na empresa onde trabalhei por mais de 10 anos. Eu estava organizando minha mesa, arrumando minhas coisas e tentando me lembrar de como me encaixar naquele lugar, que, embora parecido, estava diferente. Foi quando alguém se aproximou e me informou que minha mesa não ficaria ali, naquele local, mas no segundo andar. Fui então até lá e, para minha surpresa, o segundo andar parecia um ambiente infantil, com monitores e crianças, como um jardim de infância. Fiquei apavorada e, imediatamente, desci de volta, dizendo que não queria trabalhar com crianças, não queria aquela mudança.

Foi quando um colega de trabalho, um superior que eu costumava admirar muito, me viu e me perguntou: "Você voltou? Que bom, vamos conversar." Fiquei ansiosa para falar, mas ele me disse que agora não poderia, pois precisava atender a uma pessoa que estava na minha frente. Ele me pediu para esperar, e eu, com a sensação de que algo estava prestes a acontecer, peguei uma caixa de papelão (alguém me deu) e comecei a colocar todas as minhas coisas nela, porque eu precisaria me mudar para o segundo andar. Enquanto aguardava, fiquei esperando por aquela conversa, mas ela nunca aconteceu. O tempo passou, e eu acordei.

Como o sonho é sempre do sonhador, ela concluiu o sonho dizendo que estava tudo muito nítido e que a mensagem estava clara. Que ela era invisível e infantil e detalhou:

Você é invisível (falo com você depois)

Você é infantil (aqui é para adultos, vá para o segundo andar)

= = = =

Interpretação do sonho:

É isso mesmo!

O sonho que você teve carrega consigo um simbolismo profundo, refletindo não apenas o seu vínculo com o passado, mas também questões relacionadas ao seu processo de adaptação, identidade e a relação com as mudanças que ocorrem na sua vida. Ao retornarem à empresa onde trabalhou por tantos anos, você parece estar revisitando aspectos de sua história, mas também se encontrando em um espaço que, embora familiar, está marcado por uma sensação de deslocamento.

A mesa e o ambiente familiar e ao mesmo tempo diferente: Ao tentar organizar sua mesa, você demonstra um esforço de reconectar-se com o ambiente e com a sua própria identidade profissional. A mesa, símbolo da sua posição e lugar no mundo do trabalho, representa também o local onde você se expressava, onde realizava suas atividades e onde se sentia inserida em uma estrutura. Contudo, ao perceber que as coisas estão "iguais, mas diferentes", você simboliza uma sensação de desajuste diante de uma realidade que, embora pareça ainda familiar, já não se encaixa mais com quem você é agora. A mudança é evidente: você já não se vê ali da mesma forma.

O segundo andar e o ambiente com crianças: A mudança de lugar para o segundo andar, onde há um ambiente infantil, é um ponto crucial do sonho. Ao se deparar com crianças e monitores, um espaço aparentemente distante do que você havia conhecido, surge o temor e o desconforto. Trabalhar com crianças pode simbolizar uma regressão ou um retorno a uma fase de vida que não faz mais parte do seu processo atual de amadurecimento ou de realização profissional. O sonho pode estar refletindo o medo da impotência ou da falta de controle diante de uma situação que não corresponde às suas capacidades ou desejos atuais. Além disso, a sensação de apavoramento diante dessa mudança sugere um certo receio em relação ao que está por vir, um conflito entre a necessidade de se adaptar às novas circunstâncias e a rejeição de se submeter a uma mudança que parece insignificante ou desvalorizadora.

O colega de trabalho e a espera: O superior que antes você admirava e que agora se recusa a conversar com você imediatamente, alegando ter outras prioridades, pode representar o distanciamento ou a desconexão com aspectos de seu passado profissional. A falta de resposta imediata a uma necessidade de diálogo e a espera que se alonga sem que nada aconteça parece refletir um sentimento de frustração ou de desvalorização, como se, após muito tempo investido e envolvido, você estivesse agora sendo deixada de lado. Esse momento também pode simbolizar um medo de que, apesar de suas tentativas de voltar ao jogo, as oportunidades ou o reconhecimento não virão mais da mesma forma.

A caixa de papelão e a mudança de espaço: A caixa que você recebe e onde começa a colocar suas coisas dentro, associada ao ato de mudar de local e de função, parece indicar o processo de despersonalização ou de deslocamento. A caixa é um símbolo de contenção e mudança, onde você tenta reunir e carregar consigo fragmentos de quem você foi, de seu trabalho anterior. Contudo, o fato de ainda estar "esperando" pela conversa, que nunca acontece, pode revelar uma sensação de impotência ou de estar preso em uma fase de transição, onde as respostas e o fechamento ainda não se concretizaram. Essa espera sem fim pode simbolizar a necessidade de ter clareza sobre a direção a seguir, mas também o temor de que essa clareza nunca chegue.

O sonho parece refletir um período de transição em sua vida, possivelmente relacionado ao seu trabalho, à forma como você se vê em relação ao passado e ao presente, e ao medo das mudanças ou da incapacidade de se adaptar a novas situações. O ambiente familiar, mas ao mesmo tempo transformado, as figuras que não mais se comportam como você esperava e o receio de novas funções podem indicar um desejo de retornar a um lugar de estabilidade e identidade, mas ao mesmo tempo, o reconhecimento de que essa estabilidade talvez já não exista mais da mesma forma. O sonho sugere que você ainda está buscando um novo papel, um novo espaço onde possa se encaixar de maneira confortável, mas, por enquanto, permanece no limbo da espera, sem respostas concretas ou fechamento para esse processo.

Esse sonho, portanto, pode ser visto como um reflexo de um momento de sua vida onde você busca reorganizar-se, encontrar novamente um propósito ou lugar que te dê sentido, mas ainda se sente em dúvida, sem a clareza de como fazer essa transição de forma satisfatória. A sensação de espera, a mudança de espaço e a impossibilidade de dialogar com o que te foi importante no passado refletem não só a necessidade de respostas, mas também o medo de que essas respostas possam não ser o que você esperava ou desejava.

Os 5 Deveres do Psicanalista

Os deveres de um psicanalista envolvem uma profunda responsabilidade ética, técnica e emocional com os pacientes e a prática da psicanálise. Aqui estão cinco deveres fundamentais:

1. Manter o Sigilo Profissional

O sigilo é um dos pilares da prática psicanalítica. O psicanalista tem o dever de garantir que tudo o que o paciente compartilha em sessão seja mantido em absoluta confidencialidade. Esse compromisso não apenas protege a privacidade do paciente, mas também cria um ambiente seguro para que ele possa se expressar livremente, sem medo de julgamento ou exposição.

2. Estabelecer uma Escuta Atenta e Livre de Julgamentos

A escuta psicanalítica requer atenção profunda e imparcialidade. O analista deve estar presente de maneira genuína, captando os conteúdos manifestos e latentes do discurso do paciente, sem impor suas opiniões, crenças ou preconceitos. Essa escuta é essencial para compreender os conflitos inconscientes que emergem na fala.

3. Zelar pela Ética da Relação Analítica

A relação analista-paciente é baseada em respeito e ética. O psicanalista deve evitar qualquer comportamento que possa prejudicar o paciente ou comprometer a neutralidade do processo terapêutico, como envolvimentos emocionais, financeiros ou sociais inadequados. Ele também deve reconhecer seus próprios limites e encaminhar o paciente para outro profissional, se necessário.

4. Buscar Formação e Supervisão Contínuas

A prática psicanalítica exige um compromisso constante com o estudo e o aperfeiçoamento. O psicanalista tem o dever de manter sua formação atualizada, participar de grupos de estudo, supervisões e intervisões, além de realizar sua própria análise, para evitar que questões pessoais interfiram no trabalho com o paciente.

5. Promover a Autonomia do Paciente

O objetivo da psicanálise é ajudar o paciente a compreender seus próprios desejos, conflitos e mecanismos psíquicos, promovendo a autonomia emocional e psíquica. O analista deve evitar a dependência emocional do paciente e atuar como facilitador do processo de descoberta e transformação do indivíduo, respeitando o tempo e o ritmo de cada pessoa.

Esses deveres refletem o compromisso do psicanalista com a ética, o cuidado humano e a profundidade do trabalho psicanalítico.

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Depressão, construindo narrativas.

Outro dia, ouvi uma psicanalista dizer que a depressão não é uma desaceleração, mas, na verdade, uma aceleração da velocidade da vida. Essa afirmação ressoou profundamente em mim. Faz todo o sentido quando olhamos para o ritmo frenético que a sociedade moderna impõe. Vivemos correndo, tentando acompanhar prazos, expectativas, demandas e uma enxurrada de informações que chegam sem pausa. A todo instante, somos solicitados a fazer mais, ser mais, entregar mais — e, nesse movimento desenfreado, perdemos a conexão com o que realmente importa: nós mesmos.

A depressão, nesse contexto, não aparece como a ausência de movimento, mas como o resultado de uma vida que corre tão rápido que não nos permite parar e sentir, refletir ou construir significados. Tudo acontece em um ritmo tão intenso que mal conseguimos perceber o que estamos vivendo. Não há tempo para a pausa que transforma uma simples vivência em experiência, para aquilo que realmente dá sentido à vida.

Talvez seja por isso que a depressão, em muitos casos, seja descrita como uma sensação de vazio. Não é que não há nada acontecendo; é que tudo acontece ao mesmo tempo e com tanta pressa que não conseguimos digerir, compreender ou nos apropriar do vivido. É como se a vida fosse uma esteira rolante que nos leva, enquanto tentamos, em vão, alcançar algo que nunca está ao nosso alcance.

Essa reflexão me fez perceber o quanto a aceleração do mundo moderno nos afasta da nossa própria narrativa. Não há espaço para parar, olhar para trás, criar uma história sobre o que vivemos e nos reconhecermos nela. A depressão, então, não seria apenas o sintoma de uma vida sem pausas, mas também a consequência de uma desconexão com o tempo necessário para transformar o caos em ordem, o barulho em sentido.

Nesse ritmo acelerado, acabamos nos tornando espectadores de nós mesmos, como se fôssemos uma história que passa sem protagonista, sem autoria. Por isso, ouvir que a depressão é, muitas vezes, um reflexo dessa aceleração desenfreada mudou minha perspectiva. Mais do que nunca, sinto que precisamos resgatar o tempo da pausa, do silêncio, do sentir — o tempo de simplesmente ser.

Ela dizia que a vivência e experiência são conceitos distintos, embora frequentemente confundidos. Vivenciar algo significa estar presente em um acontecimento, participar de uma situação. Já a experiência transcende a vivência: é quando o vivido ganha significação, torna-se algo que pode ser contado, compartilhado, refletido. É a narrativa que transforma a vivência em experiência, conferindo-lhe um sentido e permitindo que ela se integre à nossa história de vida. Essa diferença é fundamental para compreendermos os impactos do ritmo acelerado da vida contemporânea, particularmente em sua relação com a depressão.

A depressão, diferentemente do senso comum, não é apenas uma redução do ritmo de vida. Pelo contrário, ela surge muitas vezes em um contexto de aceleração extrema. Vivemos em uma época em que o capitalismo nos oferece coisas em uma velocidade vertiginosa, impondo um ritmo frenético de consumo, produtividade e multitarefa. Esse ritmo desumanizador fragmenta nosso tempo e nossas ações, deixando-nos sem espaço para consolidar o que vivemos, sem oportunidade de construir narrativas. Sem narrativa, a vivência torna-se vazia. E é nesse vazio que a depressão encontra terreno fértil.

A narrativa, aqui, deve ser entendida como um dispositivo antidepressivo. É ela que organiza o caos da vivência, que nos permite ancorar o vivido em uma experiência significativa. Contar a própria história — para os outros ou para si mesmo — é um ato que dá consistência à vida, que preenche o vazio existencial com sentido. Quando a narrativa está ausente, a pessoa se perde em um fazer incessante, mecânico, que não reflete quem ela é nem o que ela deseja ser. Tornamo-nos, então, meros executores de tarefas, sem colocar nada de nós mesmos no que fazemos. Nada de nós se reproduz, e o vazio se instala.

Mesmo quem opta por não consumir, quem tenta se desvincular das exigências do mercado, não está imune. Vivemos em uma sociedade de consumo, onde somos bombardeados por propagandas, comparações e padrões inatingíveis. A velocidade não se limita ao ato de consumir; ela marca nossa relação com o tempo, nossas expectativas e a maneira como vivemos o cotidiano. É um movimento que atropela a nossa capacidade de narrar e, consequentemente, de experienciar.

O paradoxo dessa visão em relação à psicanálise é interessante e digno de reflexão. Tradicionalmente, a psicanálise busca esvaziar as fantasias, na medida em que elas alimentam neuroses e criam barreiras para o contato com a realidade. No entanto, no caso da depressão, a fantasia, a imaginação e a capacidade de criar narrativas podem ser um antídoto poderoso. É a fantasia que nos permite ressignificar o vivido, dar cor ao que parece cinza, construir pontes entre o presente e o passado, e projetar futuros possíveis.

A ausência de narrativa na depressão não é apenas uma característica: é uma de suas causas e também de seus sintomas. Sem narrativa, o sujeito não consegue se reconhecer em sua própria vida. É como se ele não fosse o autor, mas apenas um personagem passivo, sem agência, sem voz. A análise, nesse caso, precisa estimular o indivíduo a fantasiar, a imaginar, a construir histórias sobre si mesmo. Trazer à tona as vivências e transformá-las em experiências. Não se trata de negar a realidade, mas de interpretá-la, de dar-lhe significados que permitam ao sujeito se ancorar e se compreender.

É importante lembrar que ninguém nasce depressivo. A depressão é fruto de um contexto, de uma construção que reflete a forma como nos relacionamos com o tempo, com os outros e, sobretudo, conosco mesmos. E, da mesma forma, ninguém nasce com uma narrativa pronta. Construir uma narrativa sobre si é um trabalho constante, um processo de recontar, reinterpretar e dar novo sentido às vivências. É um exercício de subjetivação que nos ajuda a preencher os vazios que a velocidade do mundo contemporâneo insiste em criar.

Nesse sentido, a narrativa não é apenas uma forma de expressão, mas uma forma de resistência. Resistência ao vazio, à aceleração, à desconexão. Narrar-se é tomar posse da própria vida, é se reconhecer como sujeito da própria história. É um ato de coragem e de criação, que nos permite transformar o fazer incessante em ser, e o vazio em sentido.

O Teatro da Vida Moderna

Vivemos em um palco, onde as cortinas nunca se fecham e os personagens raramente abandonam suas máscaras. Este mundo teatral, onde o "parecer" vale mais que o "ser", transformou a autenticidade em uma moeda rara, quase extinta. Somos espectadores e atores, desempenhando papéis que nem sempre escolhemos, enquanto os bastidores da realidade se tornam cada vez mais distantes.

O jogo das aparências ganhou força, e nele, a bajulação virou a moeda de troca mais valiosa. Não importa o que você sabe ou quem você é — importa quem você agrada e o quanto você é capaz de dobrar a própria essência para caber no molde que esperam de você. Muitos se anulam para manter as luzes do palco acesas, diminuem seus valores e se tornam sombras de si mesmos, tudo em nome de uma aceitação efêmera.

Nas redes sociais, o espetáculo é ainda mais cruel. Likes, comentários e seguidores se tornaram a nova métrica de valor humano. É um jogo dos desesperados, onde cada post é uma jogada, cada story é uma peça nesse tabuleiro. As pessoas competem para mostrar vidas perfeitas, momentos felizes e conquistas grandiosas, enquanto por trás das câmeras, o vazio grita. A comparação constante e a necessidade de validação corroem a autoestima e transformam todos em prisioneiros de um jogo que nunca termina.

A tragédia é que, nesse cenário, as conexões reais se perdem. A empatia dá lugar à inveja má (não a que te impulsiona, mas a que te evoca desejo de destruição), e a autenticidade é esmagada pela busca por aprovação. Poucos são os que se despem das máscaras e têm coragem de mostrar suas fraquezas, suas falhas, sua humanidade. A verdade foi substituída pela performance, e o palco da vida real se tornou um terreno escorregadio, onde só os que jogam o jogo conseguem permanecer de pé.

Há uma saída? Há sempre a opção de abandonar o papel imposto, de dizer "não" à farsa e buscar uma vida fora dos holofotes. É possível ser autêntico, mesmo que o preço seja a solidão inicial. Porque, no final, as conexões que realmente importam não são aquelas baseadas no que aparentamos ser, mas no que realmente somos. E esse é o maior ato de coragem: tirar a máscara, recusar o roteiro e escrever sua própria história, sem aplausos obrigatórios.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Clínica Psicanalítica: Novas Perspectivas da Atualidade

A clínica psicanalítica, nascida dos trabalhos pioneiros de Sigmund Freud, permanece uma prática viva e em constante transformação. Se no passado ela estava fortemente ancorada na exploração do inconsciente por meio da associação livre e da análise dos sonhos, a contemporaneidade trouxe novas perspectivas que dialogam com as demandas e complexidades da sociedade atual.

Hoje, a clínica psicanalítica precisa lidar com questões que ultrapassam os limites do consultório tradicional. Vivemos em um mundo marcado por transformações tecnológicas, mudanças nas configurações familiares, questões relacionadas à identidade de gênero e à diversidade, além de crises globais, como pandemias e desastres ambientais. Todos esses fatores impactam a subjetividade e, consequentemente, o trabalho clínico.

Uma das grandes mudanças na prática psicanalítica é a ampliação de seu espaço de atuação. Se antes a clínica era majoritariamente associada ao ambiente presencial, hoje a psicanálise tem se adaptado a novos formatos, como o atendimento online. Embora desafiador, o ambiente virtual permitiu que a prática se tornasse mais acessível, rompendo barreiras geográficas e alcançando indivíduos que, de outra forma, não poderiam se beneficiar desse processo terapêutico.

Outro aspecto relevante é a necessidade de pensar a clínica em relação à diversidade. As novas perspectivas exigem que o psicanalista esteja atento às especificidades culturais, sociais e históricas dos sujeitos que atende. A prática clínica não pode ser universalizada; ela deve reconhecer as diferentes formas de sofrimento psíquico e as singularidades de cada história. Questões como racismo, desigualdade social e preconceitos demandam que o psicanalista atue com sensibilidade e abertura, não apenas como ouvinte, mas como alguém que compreende o impacto dessas forças estruturais na subjetividade.

Além disso, a contemporaneidade traz novos modos de sofrimento psíquico. Termos como "burnout", "ansiedade generalizada" e "depressão digital" emergem como expressões de uma sociedade altamente exigente, conectada e, muitas vezes, alienante. A psicanálise precisa acolher esses fenômenos sem perder sua essência investigativa, mas também sem ignorar o contexto em que surgem. A interlocução com outras áreas do saber, como a neurociência, a sociologia e a filosofia, torna-se um recurso valioso para enriquecer a compreensão do psiquismo humano.

Por fim, as novas perspectivas da clínica psicanalítica destacam a importância de um olhar mais colaborativo e menos hierárquico no trabalho com o paciente. A posição clássica do analista como uma figura distante e neutra vem sendo substituída, em algumas correntes, por uma postura que enfatiza a co-construção do processo terapêutico, respeitando a autonomia do sujeito em análise. Essa abordagem é especialmente importante em tempos em que a saúde mental é amplamente debatida e há maior conscientização sobre a necessidade de práticas éticas e empáticas.

A clínica psicanalítica da atualidade é, portanto, um espaço dinâmico, que precisa se manter fiel às suas raízes enquanto se abre às novas demandas e desafios da sociedade. Essa flexibilidade é o que garante a relevância da psicanálise como prática transformadora, capaz de acompanhar e acolher as transformações do sujeito e do mundo.

Para aquilo que você se propôs, você está “achada” em seu caminho

Quando nos propomos a algo, a jornada deixa de ser apenas um percurso físico e se transforma em uma busca de propósito. Estar “achada” em seu caminho não significa que todas as respostas já foram encontradas, mas que você se reconhece no que está fazendo. É aquela sensação de alinhamento entre o que você é e o que você está construindo.

Esse “achar-se” não é sobre perfeição, mas sobre perceber que o esforço faz sentido, que as escolhas refletem a sua verdade e que, mesmo diante dos desafios, há uma direção clara que ressoa com quem você deseja ser. É um processo de pertencimento à própria história, onde cada passo dado reafirma sua essência.

E, se você sente que está “achada” em seu caminho, celebre isso. Porque não é apenas sobre chegar a um destino, mas sobre estar em paz com o trajeto, com as mudanças que ele provoca em você e com a força que o movimento carrega. Que essa jornada continue sendo um encontro constante com o melhor de si mesma!

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Você Está Ofendido e Sem Aliados

Há momentos em que nos encontramos em uma posição delicada: ofendidos por palavras ou ações de alguém e, para piorar, sem aliados que compreendam ou apoiem nossos sentimentos. Esse cenário, embora solitário, não é incomum, e sua carga emocional pode ser avassaladora. É nesse estado que enfrentamos o desafio de processar o que ocorreu, avaliar nossa reação e decidir como agir diante do isolamento.

É importante validar seus sentimentos. A dor, o desconforto e a ofensa que você sente são legítimos. Tentar ignorá-los ou diminuí-los pode prolongar o sofrimento e dificultar o processo de superação. Reconheça o que você está sentindo e permita-se explorar as razões por trás disso: foi algo que feriu seus valores, desrespeitou sua história ou desafiou sua identidade? Saber a origem da ofensa ajuda a ganhar clareza sobre como lidar com ela.

Estar sem aliados não significa estar completamente desamparado. O silêncio das pessoas ao seu redor pode ser resultado de desconhecimento, medo de tomar partido ou até uma visão diferente da situação. Antes de rotular a falta de apoio como indiferença, tente compreender o que pode estar impedindo os outros de se posicionarem. Ainda assim, lembre-se: sua dignidade não depende da aprovação ou validação alheia.

Neste momento, a autorreflexão é sua maior aliada. Pergunte a si mesmo: o que está ao meu alcance fazer? Preciso confrontar a pessoa ou situação que me ofendeu, ou o melhor é me distanciar para proteger minha paz? Nem toda batalha precisa ser travada no calor do momento. Às vezes, o silêncio estratégico e a busca por equilíbrio emocional são as melhores respostas.

Mesmo sem aliados evidentes, você não está sozinho em sua jornada. Outras pessoas, talvez em espaços ou momentos diferentes, podem compartilhar suas experiências e perspectivas. Seja buscando apoio em novos círculos, seja explorando fontes de fortalecimento interno, como a terapia ou a meditação, o mais importante é continuar construindo sua própria força. Sua capacidade de se reerguer, mesmo sem a ajuda de ninguém, é um testemunho da sua resiliência.

Estar ofendido e sem aliados não define quem você é, mas como você decide agir diante dessa adversidade pode moldar sua jornada e revelar sua força interior.


quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

Don't trust anyone.

Don't trust anyone.

Life is full of fake people who pretend to care, but
when you need them the most,
they're nowhere to be found.
It hurts,
but it teaches you to trust yourself.
That keeps your heart safe and lets
the real ones prove they deserve a place in your life.

O desejo como uma construção a posteriori: a aposta do presente

O desejo, ao contrário do que muitas vezes imaginamos, não é algo fixo ou plenamente reconhecível no momento em que emerge. Ele se apresenta como uma aposta: uma escolha que fazemos no presente, carregada de incertezas e expectativas, mas cuja verdadeira natureza só se revela a posteriori, no encontro com as consequências e a experiência vivida.

Lacan, em sua teoria psicanalítica, nos lembra que o desejo não é estático, mas sempre em movimento, sempre em falta. Ele não pode ser completamente preenchido, pois está enraizado naquilo que nos falta e nos impulsiona a buscar. Essa falta estrutural torna o desejo um enigma, algo que nos move sem que, muitas vezes, saibamos exatamente para onde.

Quando desejamos algo — seja um objeto, uma pessoa, uma realização ou um projeto —, estamos apostando que aquilo terá o potencial de nos completar de alguma forma, que será a resposta para uma inquietação ou um vazio interno. Mas é apenas depois de nos aproximarmos, de conquistarmos ou de nos frustrarmos com o objeto de desejo, que começamos a compreender se aquilo que buscamos era, de fato, o que desejávamos.

No presente, ao escolhermos, estamos agindo a partir de uma expectativa, de uma projeção do que acreditamos que algo pode significar ou nos oferecer. Essa aposta é inevitável, porque o desejo nunca é completamente claro no momento em que emerge. Por exemplo, ao escolher uma carreira, um relacionamento, uma mudança de vida, imaginamos que estamos indo ao encontro do que queremos, mas a clareza sobre o desejo só se dará no futuro, quando olharmos para trás e percebermos se aquilo fazia sentido ou se apenas parecia ser a resposta na ocasião.

O desejo é, portanto, retroativo: ele se constitui e se revela no movimento da escolha e no retorno que ela nos proporciona. Como já foi dito, "não sabemos o que queremos até termos o que pensamos querer." O desejo só se torna inteligível à luz do futuro, quando suas consequências já se desenrolaram.

Esse caráter a posteriori do desejo traz consigo uma inevitável dose de incerteza. O risco de "errar" no que desejamos é uma parte fundamental do processo humano. Porém, o erro não deve ser visto como uma falha, mas como parte do caminho de descoberta e construção do sujeito. Ao apostar no desejo, nos permitimos o movimento, a experimentação, o aprendizado.

Além disso, essa incerteza também revela algo essencial sobre o desejo: ele nunca será plenamente resolvido. Porque, ao obtermos o que queremos, outras faltas surgem, outros movimentos se iniciam, e novas apostas são feitas. Essa dinâmica mantém o sujeito vivo, criativo, em busca de novas formas de ser e de se relacionar com o mundo.

Se o desejo é uma construção a posteriori, então viver é aceitar essa condição de incerteza, de incompletude. Isso implica um compromisso ético consigo mesmo: não paralisar diante do medo de errar, mas abraçar o movimento, mesmo sabendo que a clareza sobre o que se deseja só virá depois.

A cada aposta, aprendemos um pouco mais sobre nós mesmos. Não porque o desejo será plenamente realizado, mas porque, no encontro com o objeto, conseguimos discernir melhor o que nos move, o que nos toca, o que nos falta. Desejar, portanto, não é alcançar um destino, mas trilhar um caminho.

Em última instância, o desejo como aposta é o que nos mantém em busca, em transformação. Ele nos lembra que o sentido da vida não está em obter respostas definitivas, mas em continuar perguntando, explorando e, principalmente, desejando.

O sofrimento não é adoecimento. Não se medica sofrimento.

Vivemos em um tempo em que há uma crescente medicalização de aspectos da experiência humana. O sofrimento, uma vivência profundamente humana e inevitável, tem sido cada vez mais confundido com adoecimento, como se qualquer dor emocional ou desconforto precisasse ser imediatamente tratado com medicamentos. Essa perspectiva reduz o sofrimento a algo que deve ser eliminado a qualquer custo, ignorando sua função como parte integrante do desenvolvimento psíquico e existencial.

O sofrimento é parte da condição humana. O sofrimento é um elemento intrínseco à existência humana. Ele surge em momentos de perda, frustração, mudança ou conflito, e carrega em si um potencial transformador. Passar por sofrimentos nos obriga a olhar para dentro, a refletir sobre nossas escolhas, relações e limites. Ele nos conecta à nossa vulnerabilidade, mas também à nossa capacidade de superar e ressignificar as dificuldades.

Por exemplo, o luto diante da perda de um ente querido não é uma patologia; é uma resposta natural à ausência de alguém significativo. A tristeza de um término, o desconforto de enfrentar um desafio ou a ansiedade diante de uma decisão importante também fazem parte do tecido emocional da vida. Esses momentos, por mais difíceis que sejam, não indicam necessariamente um adoecimento, mas uma resposta legítima a situações que exigem adaptação e elaboração psíquica.

Pouco se fala sobre o perigo de medicalizar o sofrimento. Quando o sofrimento é tratado como uma patologia, a resposta imediata muitas vezes é medicamentosa. Antidepressivos, ansiolíticos e outros psicofármacos são importantes e necessários em casos de transtornos mentais diagnosticados. Contudo, o uso desses medicamentos para "anestesiar" sofrimentos legítimos pode trazer mais prejuízos do que benefícios.

Ao medicalizar o sofrimento, corre-se o risco de interromper processos naturais. A dor emocional muitas vezes sinaliza a necessidade de mudanças internas ou externas. Quando ela é silenciada, perde-se a oportunidade de elaborar questões essenciais para o crescimento pessoal. Você reduz a autonomia emocional. Acreditar que o alívio sempre virá de fora — de um medicamento ou solução rápida — pode enfraquecer a capacidade de enfrentar adversidades.

Corre-se o risco de estigmatizar as emoções humanas. Tratar o sofrimento como algo errado ou anormal reforça a ideia de que devemos estar constantemente felizes e "produtivos", desvalorizando a importância de momentos de introspecção e vulnerabilidade.

Sofrimento não é adoecimento. É crucial diferenciar sofrimento de adoecimento. Transtornos mentais como depressão, ansiedade generalizada ou bipolaridade são condições clínicas que demandam acompanhamento especializado e, muitas vezes, intervenção medicamentosa. No entanto, nem toda dor emocional ou desconforto psicológico se enquadra nessa categoria.

O sofrimento, ao contrário de um transtorno mental, é transitório e contextual. Ele está relacionado a situações específicas da vida e, na maioria das vezes, pode ser enfrentado e ressignificado sem a necessidade de medicamentos.

Há muitas maneiras de lidar com o sofrimento sem medicalizá-lo. A começar pela validação das emoções. Reconhecer e aceitar o sofrimento como parte legítima da experiência humana é o primeiro passo para lidar com ele. Permita-se sentir sem pressa de fugir da dor. Passando pelo apoio emocional. Conversar com amigos, familiares ou buscar apoio em terapia são formas saudáveis de enfrentar o sofrimento. A escuta empática pode ser profundamente transformadora. Uma boa dose de reflexão e ressignificação. O sofrimento pode ser uma oportunidade para entender mais profundamente quem somos, o que queremos e o que precisamos transformar em nossa vida. Importante também respeitar o tempo. Sofrer leva tempo. Não há atalhos, e cada pessoa tem seu próprio ritmo para elaborar dores e encontrar novos caminhos. 

Não negligencie a importância do acompanhamento profissional. Isso não significa que o sofrimento deve ser enfrentado sozinho ou sem ajuda. A psicoterapia, por exemplo, é um espaço valioso para acolher e compreender o sofrimento. O papel do psicólogo é ajudar a pessoa a encontrar recursos internos e externos para lidar com as dificuldades, sem recorrer automaticamente à medicalização.

Os medicamentos são ferramentas poderosas e, quando bem indicados, podem salvar vidas. Porém, não devem ser a resposta imediata a toda dor emocional. É preciso diferenciar o que é um sofrimento humano legítimo de uma condição que demanda intervenção clínica.

O sofrimento, por mais difícil que seja, tem um lugar legítimo em nossas vidas. Ele não é algo que precisa ser eliminado ou medicado, mas compreendido e acolhido. Encarar o sofrimento como parte da existência humana nos permite crescer, aprender e encontrar novas formas de nos relacionarmos conosco e com o mundo. Afinal, como nos ensinam os momentos mais desafiadores da vida, não é a ausência de dor que define a saúde, mas a capacidade de enfrentá-la e seguir em frente.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

A família não é uma empresa e o filho não é um produto

Na sociedade contemporânea, onde a lógica do desempenho, da produtividade e da eficiência parece permear todos os aspectos da vida, muitas vezes observamos essa mentalidade empresarial sendo projetada sobre a dinâmica familiar. Pais, com as melhores intenções, acabam encarando a criação dos filhos como um projeto com metas específicas, indicadores de sucesso e um produto final: a criança ideal. Entretanto, essa abordagem pode desumanizar as relações familiares e gerar consequências prejudiciais tanto para os filhos quanto para os próprios pais.

A família não é uma instituição de resultados. Ao comparar a família a uma empresa, entra-se em uma lógica de controle e previsibilidade. Essa perspectiva sugere que, se os pais seguirem um determinado "plano estratégico" — seja por meio de métodos educacionais, atividades extracurriculares ou investimentos materiais —, eles "produzirão" filhos bem-sucedidos, felizes e realizados. No entanto, essa visão reduz a complexidade da vida familiar a uma equação simplista, ignorando os fatores emocionais, imprevisíveis e subjetivos que fazem parte das relações humanas.

A família não é uma organização com um organograma, metas de desempenho ou critérios de avaliação. Ela é um espaço de vínculos, afeto e crescimento mútuo, onde as pessoas podem ser quem são, com suas imperfeições, desafios e singularidades. Transformar a dinâmica familiar em algo mecanizado e orientado por resultados retira sua essência: um espaço de amor incondicional e aceitação.

O filho não é um produto. Quando se trata os filhos como produtos de um esforço parental, há uma expectativa implícita (ou explícita) de que eles devem atender aos ideais projetados pelos pais. Isso pode incluir ser bem-sucedido academicamente, comportar-se de maneira exemplar, seguir uma carreira de prestígio ou formar uma família tradicional. Essa visão ignora a subjetividade e a singularidade de cada criança, que não é um reflexo direto das ações dos pais, mas um ser humano com desejos, necessidades e trajetórias próprias.

Tratar o filho como um produto também coloca uma pressão imensa sobre ele, gerando angústia e um sentimento de inadequação caso não consiga atender às expectativas. Em vez de ser amado pelo que é, a criança pode sentir que precisa constantemente "provar seu valor", o que afeta sua autoestima e seu bem-estar emocional. A aplicação da lógica empresarial na família pode gerar uma série de problemas, como:

Relações distantes: Quando os pais estão focados em metas e resultados, podem negligenciar a escuta ativa, o tempo de qualidade e a construção de vínculos genuínos com os filhos.

Ansiedade e frustração: Tanto os pais quanto os filhos podem experimentar altos níveis de ansiedade ao perceberem que o "produto final" não corresponde às expectativas.

Falta de espontaneidade: A busca por eficiência pode inibir a espontaneidade e a criatividade, que são fundamentais para o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças.

Despersonalização: A criança deixa de ser vista como um indivíduo único e passa a ser encarada como um reflexo ou uma extensão dos pais.

Há uma nova perspectiva: relações autênticas e humanas. Reconhecer que a família não é uma empresa e que os filhos não são produtos exige uma mudança de mentalidade. É preciso valorizar as relações humanas acima da lógica do desempenho. Isso significa:

Aceitar a imperfeição: Tanto os pais quanto os filhos têm direito de errar, aprender e se reconstruir.

Focar no vínculo emocional: Investir em relações baseadas no amor incondicional, na escuta e na compreensão, em vez de buscar resultados.

Respeitar a singularidade: Cada criança tem seu próprio ritmo, suas próprias características e desejos. Respeitar isso é fundamental para que ela se sinta valorizada por quem é, e não pelo que faz.

Priorizar o processo, não o resultado: A criação de filhos é uma jornada, não um projeto com um fim determinado. O que importa é o caminho percorrido, não apenas o destino.

Em última análise, a família deve ser um espaço onde o amor, o respeito e a singularidade prevaleçam. Os filhos não são produtos a serem moldados para atender expectativas externas, mas indivíduos únicos que florescem em ambientes que acolhem sua humanidade. Essa é a verdadeira riqueza de uma família: o encontro autêntico entre seus membros, sem metas ou resultados, apenas pelo prazer de estar junto e crescer juntos.

Os Grandes Equívocos na Criação dos Filhos

Criar filhos nunca foi uma tarefa simples, mas parece que, atualmente, os desafios têm adquirido uma nova dimensão. Vivemos em uma época de informações abundantes, com guias, blogs e fóruns na internet oferecendo passos detalhados para a educação "perfeita". Os pais, em busca de segurança e garantias, tentam seguir essas receitas como se criar um ser humano fosse um processo linear, previsível e passível de controle total. No entanto, a realidade é muito mais complexa, e essa busca por certezas pode levar a grandes equívocos na criação dos filhos.

O desejo por garantias é um mito moderno. É compreensível que os pais queiram o melhor para seus filhos. Eles desejam protegê-los do sofrimento, guiá-los para o sucesso e assegurar-lhes uma vida plena e feliz. Mas o problema surge quando essa preocupação se transforma em uma busca obsessiva por garantias de que tudo sairá "como planejado".

Na tentativa de evitar erros, muitos pais recorrem à internet, onde encontram um fluxo interminável de dicas e fórmulas. Desde como disciplinar sem traumas até métodos para garantir a felicidade e o sucesso escolar, esses conteúdos prometem respostas fáceis para questões complexas. No entanto, o desenvolvimento humano não é uma equação exata, e os filhos não são projetos cujos resultados possam ser garantidos.

O controle se torna uma armadilha. Essa busca por segurança frequentemente leva ao controle excessivo. Pais que seguem rigidamente "manuais" de criação podem acabar sufocando a espontaneidade dos filhos, tentando moldá-los a partir de ideais externos, em vez de observá-los e ouvi-los.

Além disso, a ideia de que é possível evitar completamente erros ou frustrações na criação é ilusória. O erro faz parte da parentalidade, assim como a frustração faz parte do crescimento das crianças. Ao tentar proteger os filhos de tudo, muitos pais acabam criando uma geração que não sabe lidar com desafios ou contratempos.

Os pais atualmente não consideram a necessidade de oposição, que é o ciclo natural do crescimento. Um equívoco comum é o medo de que os filhos se oponham às ideias e valores dos pais. Muitos pais veem a discordância como um sinal de fracasso, mas, na verdade, ela é uma parte essencial do desenvolvimento da autonomia.

A nova geração precisa se opor à anterior. É através desse movimento que os filhos constroem sua própria identidade. A oposição não é um ataque, mas um processo natural e necessário para que as crianças e adolescentes se tornem indivíduos independentes. Quando os pais tentam evitar esse confronto, seja pela imposição rígida de regras ou pela superproteção, acabam limitando o espaço dos filhos para explorar, errar e crescer.

Os riscos de criar crianças sem espaço para erros são enormes. Educar é, em grande parte, um exercício de confiança no processo. Isso significa aceitar que não há garantias e que nem tudo será como planejado. É permitir que os filhos experimentem o mundo, mesmo que isso envolva quedas e frustrações.

Ao criar crianças sem espaço para errar, os pais podem contribuir para uma geração insegura, ansiosa e pouco resiliente. Isso é especialmente perigoso em um mundo que exige flexibilidade e capacidade de adaptação. Crianças que nunca enfrentaram desafios sozinhas ou que nunca questionaram seus pais podem ter dificuldades para encontrar seu lugar no mundo adulto.

A criação de filhos é uma aposta. No fundo, criar um filho é sempre uma aposta no futuro. Não há fórmulas, garantias ou atalhos. Cada criança é única, e o papel dos pais é mais de guia do que de controlador. Educar é um processo que exige paciência, abertura para o erro — tanto dos pais quanto dos filhos — e confiança na capacidade dos filhos de encontrar seus próprios caminhos.

Os pais precisam entender que a criação perfeita não existe, e que, muitas vezes, é no espaço entre o ideal e a realidade que se dá o verdadeiro aprendizado. É nesse espaço que os filhos crescem, se rebelam, erram, amadurecem e, finalmente, se tornam indivíduos capazes de enfrentar o mundo por conta própria.

Portanto, talvez o maior equívoco atual seja justamente tentar evitar os riscos e as incertezas que fazem parte do processo de educar. Não se trata de garantir o futuro dos filhos, mas de prepará-los para que eles próprios possam construí-lo — com liberdade, coragem e, acima de tudo, humanidade.

As Cinco Portas de Entrada na Terapia: Caminhos que Conduzem à Busca por Ajuda

Muitos me perguntam quais são as principais portas de entrada na terapia, ou seja, os caminhos que levam alguém a buscar a ajuda de um terapeuta ou analista. Eu costumo dizer que são cinco:

Relação amorosa: Questões relacionadas aos vínculos afetivos e amorosos, sejam elas decepções, dificuldades em manter relacionamentos, padrões repetitivos ou crises dentro de um vínculo existente, frequentemente levam as pessoas a buscar ajuda.

Relação familiar: Conflitos com pais, irmãos, filhos ou outros membros da família, além de dinâmicas familiares disfuncionais, são outro motivo comum. Muitas vezes, é no núcleo familiar que se manifestam as primeiras dores psíquicas e as marcas mais profundas.

Aspectos culturais, sociais e religiosos: Questões relacionadas à identidade, à pressão social, aos papéis atribuídos pela cultura ou à vivência da fé podem gerar conflitos internos que levam alguém a buscar um espaço para elaborar essas experiências.

Trabalho ou estudo: Dificuldades profissionais ou acadêmicas, como insatisfação, estresse, burnout ou questões de identidade relacionadas à carreira, também são uma entrada frequente para a terapia. O espaço de trabalho e estudo costuma revelar inseguranças, desafios e crises de propósito.

Orgânicos e doenças: A experiência com doenças físicas ou transtornos psicossomáticos frequentemente trazem à tona o sofrimento psíquico. A relação entre corpo e mente é um caminho potente para explorar dores mais profundas e encontrar maneiras de lidar com a vulnerabilidade humana.

Essas portas não são isoladas, mas costumam se entrelaçar. Muitas vezes, o sofrimento inicial que leva alguém à terapia é apenas o começo de uma jornada mais ampla, na qual outras questões emergem e ajudam a compor a complexidade da experiência humana. O papel do terapeuta é acolher e ajudar a desvelar o que está por trás dessas buscas, com respeito e sensibilidade.

A Sensação de Ter Sido Roubada de Sua Vida

A sensação é como se você tivesse sido roubada da sua própria vida, aquela que gastou anos — talvez décadas — construindo. Cada escolha, cada passo, cada momento parecia cuidadosamente traçado para chegar a algo que agora lhe parece perdido, arrancado sem aviso, sem justificativa. É como se tivesse investido tanto tempo, tanto esforço, tanta esperança, e, de repente, tudo fosse diluído, como areia entre os dedos.

Você Olha para trás e vê o que construiu: os sonhos que imaginou concretizar, as vitórias que esperava celebrar, as relações que cultivou com tanto zelo. Todos esses pilares foram erigidos com a convicção de que, com o tempo, iriam lhe proporcionar um sentido de realização, uma segurança emocional, uma paz interior. E agora, diante de uma realidade que não pediu, sente como se essa edificação tivesse sido destruída, como se tivesse sido arrancada de você sem permissão.

O pior não é apenas o que foi perdido, mas o vazio profundo que se segue. Percebe que, por mais que você tente buscar explicações ou soluções, nada preenche o buraco deixado por essa sensação de despojo. É como se seu próprio "eu" tivesse sido invadido, como se o controle sobre sua vida tivesse sido retirado de uma forma brusca e irrevogável. Você se vê como espectadora do que deveria ser sua história, e não como protagonista dela.

Essa sensação de roubo não vem de uma perda material, mas de uma perda existencial, de algo intangível e, por isso, ainda mais devastador. Você sabia quem você era, sabia para onde estava indo, sabia o que queria e o que precisava, mesmo que imaginariamente. Mas agora, o que resta é uma sensação de deslocamento, de que tudo foi desfeito sem que você tivesse tido a chance de impedir. Não é uma simples desilusão; é como se a sua identidade tivesse sido subtraída, como se o direito de viver plenamente a sua jornada tivesse lhe sido negado. É o real batendo à sua porta.

O tempo que passou construindo sua vida, os sonhos que nutria, a pessoa que você era — tudo isso parece ter sido em vão. Não é um lamento simples, é uma sensação de que você foi impedida de viver a vida que você mesma planejou, como se, em algum ponto, alguém tivesse decidido que o que você construiu não merecia ser vivido. E a dor disso é imensa, porque a sensação não é só de perda, mas de injustiça, de que o tempo e a energia investidos em algo que parecia sólido foram jogados ao vento, sem mais nem menos.

Agora, tudo o que resta é tentar entender o que sobrou dessa experiência. O resto, a falta, o real, o objeto a. Como reconstruir, como ressignificar, como buscar, de alguma forma, a força para continuar? Porque, apesar da dor, ainda há algo em você que busca a possibilidade de reconstruir, de retomar a vida roubada ou de sublimar. Talvez não seja mais a mesma vida, mas é a sua, e isso, por mais que seja difícil, ainda lhe pertence.

Acho que eu consigo te ajudar ... Se você se identificou, entre em contato!


sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Autoerotismo -> Narcisismo -> Amor de Objeto

Na psicanálise, não há fórmulas mágicas ou respostas prontas, mas é possível organizar o pensamento em torno de uma linha mestra que ajude a compreender a complexidade da vida psíquica. Uma dessas linhas é a trajetória que vai do autoerotismo ao narcisismo e, finalmente, ao amor de objeto.

No autoerotismo, a satisfação está vinculada ao próprio corpo e às necessidades básicas. No narcisismo, surge a capacidade de investir em si mesmo como um todo, construindo a autoestima e a percepção de identidade. Já no amor de objeto, ocorre a abertura para o outro, quando o indivíduo é capaz de estabelecer vínculos afetivos genuínos, investindo no mundo externo sem perder a própria singularidade.

Essa progressão não é linear ou rígida, mas ajuda a iluminar como nos desenvolvemos afetivamente, nos movendo entre a busca pelo próprio prazer e a capacidade de amar e se conectar com o outro. É uma maneira de compreender a dinâmica da psique sem cair na ilusão de soluções simplistas.

Os livros são possibilidades de nomeação do sofrimento

Os livros, desde os primórdios da humanidade, têm ocupado um papel essencial na tentativa de dar forma àquilo que, muitas vezes, parece inexprimível: o sofrimento humano. Eles não apenas descrevem as dores e angústias de uma época ou de um indivíduo, mas oferecem uma possibilidade singular de nomear o que se sente, permitindo que experiências antes indefinidas encontrem significado.

Nomear o sofrimento é um ato profundamente humano. É um processo de dar contorno ao que está disperso, de traduzir emoções que, sem linguagem, permanecem um emaranhado de sensações e desconfortos. Quando lemos um livro que captura algo que ressoa com o que sentimos — seja tristeza, solidão, medo ou perda —, ele se torna uma espécie de espelho. O autor, com suas palavras, oferece a quem lê um vocabulário emocional e simbólico que talvez estivesse fora de alcance.

Mais do que espelhos, os livros também são janelas. Eles abrem perspectivas sobre formas de lidar com o sofrimento que ultrapassam a experiência individual. Ao ler sobre a dor do outro, seja em um romance, uma poesia, ou até em textos filosóficos e psicanalíticos, somos convidados a pensar sobre nossa própria dor de maneiras que talvez nunca tivéssemos considerado. Um autor pode transformar a experiência mais visceral em algo estruturado e comunicável, e é nesse processo que os leitores encontram novas possibilidades de compreender, aceitar ou transformar o próprio sofrimento.

Além disso, os livros oferecem uma oportunidade de deslocamento. Eles nos permitem sair de nós mesmos e mergulhar em histórias, culturas, e tempos distintos. Paradoxalmente, é nesse afastamento que muitas vezes nos aproximamos de nós mesmos. Ao acompanhar as dores e superações de personagens fictícios ou reais, nos sentimos menos isolados em nossa própria dor. O sofrimento, que tantas vezes parece intransponível e exclusivamente nosso, se revela como parte de uma condição compartilhada.

Em sua função terapêutica, os livros podem ser comparados a um espaço de acolhimento simbólico, onde quem lê encontra não só palavras, mas também validação e compreensão. Por isso, muitos textos vão além de nomear o sofrimento: eles apontam caminhos para elaborá-lo. Na literatura clássica, na poesia contemporânea ou mesmo em livros de autoajuda, o ato de leitura pode se transformar em um processo de cura, em um modo de ressignificar o sofrimento e abrir espaço para novos sentidos.

Nomear o sofrimento não significa eliminá-lo, mas organizá-lo dentro de uma narrativa compreensível. É transformar o caos interno em algo que possa ser enfrentado, entendido, talvez até aceito. Nesse sentido, os livros são companheiros silenciosos, mas poderosos. Eles nos mostram que, por mais avassaladora que a dor possa parecer, ela pode ser traduzida, contada e, com o tempo, integrada à nossa história.

Assim, os livros, em suas infinitas possibilidades, não são apenas meios de contar histórias. São formas de escuta, tradução e expressão. Eles nos convidam a falar sobre o que nos machuca e, ao mesmo tempo, nos ensinam que o sofrimento não nos define, mas pode ser nomeado, explorado e, por fim, transformado. 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Outro sonho: o roubo das obras de arte

Praticando a interpretação dos sonhos. Mais um caso da clínica ...

Ela contou que estava em sua mansão, enorme, organizando uma festa grandiosa para muitas pessoas. A casa estava lotada de convidados que ela reconhecia, como sua família, mas também havia muitas outras pessoas desconhecidas, como se fossem agregados. Todos pareciam se divertir muito. Ela descreveu a festa como impecavelmente planejada, com enfeites deslumbrantes, bebidas, comidas e garçons, todos vestidos de gala. A mansão, segundo ela, estava repleta de obras de arte valiosas e impressionantes. No entanto, em determinado momento, algumas pessoas começaram a pegar as obras de arte e a roubá-las. Ela contou que, desesperada, tentou orientá-las, pedindo com urgência que não levassem nada. “Por favor, não as levem, são minhas!”, dizia ela no sonho.  

= = = = 

Interpretação do sonho:

Este sonho parece simbolizar um cenário de excessos e contrastes, onde a opulência e a generosidade convivem com o medo da perda e a sensação de impotência diante daquilo que foi conquistado.

A mansão, em primeiro lugar, pode representar o seu sentido de identidade, um símbolo de status ou de algo que você construiu ao longo do tempo. O fato de ser grande e cheia de pessoas indica que sua vida está cheia de interações e diferentes relações, algumas das quais podem ser mais superficiais ou desconhecidas para você, como as pessoas "agregadas" que não faziam parte do seu círculo íntimo. Esse detalhe pode refletir um sentimento de sobrecarga ou até confusão sobre quem você realmente considera próximo e quem faz parte da sua vida de forma genuína.

A festa, grandiosa e bem planejada, sugere uma fase de realização, de sucesso e prazer. No entanto, há um contraste com o momento em que as obras de arte começam a ser roubadas. As obras de arte, que podem simbolizar o seu trabalho, suas conquistas ou aspectos de sua identidade pessoal e criativa, são tomadas sem seu consentimento. Isso pode representar um medo inconsciente de que as coisas que você mais valoriza, seja no campo profissional ou pessoal, possam ser apropriadas ou usurpadas por outros, ou até que você perca algo essencial de sua essência. A tentativa de intervir e pedir para que não levem as obras revela uma sensação de impotência, como se você estivesse tentando proteger o que é seu, mas sentisse que, talvez, não tenha controle total sobre as situações que envolvem suas conquistas e aquilo que mais preza.

As pessoas que roubam as obras de arte podem representar partes de sua vida que você sente que estão fora de seu controle ou até figuras que você sente que querem se beneficiar do seu sucesso de maneira indevida. Esse roubo pode, então, estar relacionado a uma sensação de vulnerabilidade diante de ameaças externas ou uma insegurança sobre a integridade de suas conquistas.

No nível emocional, esse sonho pode refletir um medo de ser desvalorizada ou de ver suas realizações desfeitas ou tomadas por outros, sem que você tenha a chance de proteger o que é seu. Esse temor pode surgir em situações em que você sente que não pode confiar totalmente nas pessoas ao seu redor ou em que sente que precisa proteger sua identidade e suas conquistas de formas mais ativas. A festa, que inicialmente é uma celebração, acaba sendo marcada pela presença de um perigo silencioso, que é a perda de algo importante para você.

Por fim, a ação de tentar proteger as obras de arte também pode ser uma representação de um desejo de controle sobre o seu destino, mas o fato de não conseguir impedir o roubo sugere uma sensação de impotência diante de forças externas. Isso pode ser uma reflexão de como você se sente em relação a certos aspectos da vida que parecem estar além da sua capacidade de defesa ou controle.

Esse sonho parece, então, sinalizar uma necessidade de reforçar a segurança emocional e o sentido de proteção sobre suas conquistas, seja no campo material, emocional ou relacional, e talvez também de questionar até que ponto você está permitindo que outros invadam ou utilizem algo que você considera íntimo e essencial. 


Um sonho: um dente caiu

Praticando a interpretação dos sonhos. Mais um caso ...

Hoje, ao acordar, ele relatou que a sensação do sonho ainda estava viva em sua mente, como se o eco de sua imagem tivesse se colado nele. Ele descreveu estar no meio de uma conversa banal e, de repente, sentir uma sensação estranha na boca. Ao olhar para o espelho, com uma mistura de espanto e perplexidade, percebeu que um de seus dentes havia caído. Não foi uma queda simples, disse ele, mas uma sensação profunda, como se algo essencial tivesse sido arrancado de dentro de si.

O primeiro pensamento que teve foi de pânico. O dente estava ali, agora ausente, e a sensação de vazio parecia avassaladora. A falta era como um buraco que não poderia ser preenchido. Ele disse sentir que uma parte de si tinha se perdido, mas, estranhamente, começou a experimentar uma sensação de alívio. Algo que estava preso, algo que talvez não fosse mais necessário, finalmente se foi.


Ele descreveu a imagem do dente caído no sonho como algo tão vívido que começou a se perguntar por que aquele símbolo o visitara. Será que refletia algo sobre sua vida? Para ele, o dente, que simboliza tanto a vitalidade quanto o envelhecimento e o cuidado consigo mesmo, agora perdido, parecia carregar um significado mais profundo. Ele concluiu que talvez estivesse diante de um momento de transição, de algo que não podia mais ser mantido, mesmo que isso causasse dor ou desconforto. A perda, embora dolorosa, parecia também ser um sinal de renovação, de uma mudança inevitável.

No sonho, ele contou, ninguém parecia se importar muito com a perda do dente. Era como se, ao contrário dele, o mundo ao seu redor seguisse sem grandes questionamentos. Isso o fez refletir sobre a sensação de invisibilidade que, por vezes, experimentamos na vida, como se nossos medos e inseguranças estivessem ali, expostos, enquanto outros simplesmente seguiam em frente, indiferentes.

Ao despertar, disse ter ficado com uma sensação misturada entre preocupação e reflexão. Para ele, o dente caído não era apenas uma perda física no sonho, mas uma perda simbólica, talvez de algo que precisasse ser liberado, de um peso emocional que já não fazia mais sentido carregar. Ao mesmo tempo, o sonho parecia um lembrete de que, ao perder algo, ainda há uma parte de nós que precisa se reconstruir, se adaptar à nova realidade, à nova versão de si mesmo que nasce da experiência de perda.

Ele terminou dizendo que ficou pensando sobre o que, em sua vida, talvez precisasse "deixar ir", o que, como o dente, já tivesse cumprido seu ciclo e precisasse ser expulso para que algo mais saudável pudesse surgir. O sonho o deixou com uma sensação de questionamento e possibilidade — de que, mesmo na perda, há espaço para o novo, para a renovação, para a transformação. E, por fim, refletiu, disse que talvez, no fundo, o sonho quisesse lhe dizer exatamente isso: que o que cai não é o fim, mas uma oportunidade de recomeçar.

Ele mesmo havia interpretado seu próprio sonho. E é isso mesmo. O sonho é do sonhador.

Assim, terminava a sessão. Inicio, Meio e Fim. A analista não disse uma única palavra !!! 

O pior de todos!

O pior de todos - 

Eu me salvei de rodar aqui e rodar ali sem chegar a nenhum lugar! 

Os entendedores me entenderam! 

Antes de conhecê-lo de perto, confesso que a impressão que tinha era bem diferente. Eu o via como alguém simpático, talvez inteligente —  Mas a convivência tem o poder de revelar aquilo que o exterior não consegue esconder por muito tempo. E, nesse caso, a aparência logo se esvaiu. Porque o que permanece, é um conjunto: está nas atitudes, no caráter, na forma de tratar os outros. E nada disso estava lá.

Conviver com ele foi como testemunhar uma máscara se desmanchando. O que antes parecia ser charme, se revelou arrogância. O que parecia inteligência, não passava de prepotência vazia. A convivência trouxe à tona a verdade: por mais que alguém possa parecer aceitável à primeira vista, quando falta essência, tudo perde o brilho.

A você, que me ensinou tanto pelo avesso, deixo aqui minha mais sincera homenagem. Não pelo que fez de bom — afinal, disso nada posso recordar —, mas pela clareza com que me mostrou o que não quero ser. Você é a personificação de tudo aquilo que me esforço para evitar: a prepotência disfarçada de confiança, a grosseria mascarada de "autenticidade" e o puxa-saquismo que veste a roupa da diplomacia. Cada palavra ácida, cada gesto mesquinho e cada atitude egoísta foram lições que jamais esquecerei.

Você me ensinou que a arrogância não é força, mas fraqueza. Que tratar os outros com desprezo é sinal de insegurança, não de superioridade. Que se esconder atrás de sorrisos falsos para quem está acima e virar as costas para quem está ao lado é o caminho mais curto para o isolamento. Talvez esse é o motivo de você estar sempre só ou mal acompanhado.

Por tudo isso, agradeço. Obrigado por ter me sacaneado tanto. Por ter feito de cada obstáculo uma oportunidade de me reinventar. Por me obrigar a crescer na marra, enquanto você, na sua pequena bolha de vaidade, segue patinando no mesmo lugar. Obrigado por ser o anti-exemplo que me impulsionou a ser melhor, a tratar os outros com respeito, a construir relações verdadeiras e a ter orgulho de quem sou, sem precisar pisar em ninguém para isso.

De certa forma, você me deu um presente. Não pela sua intenção, é claro, mas pelo efeito contrário que sua presença teve na minha vida. Então, em nome do aprendizado que você nunca quis ensinar, mas que, ironicamente, ensinou tão bem: obrigado por ser exatamente quem é.  

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Você É Muito Eficiente, Tem Que Fazer Um Furo

A eficiência é, sem dúvida, uma virtude. Em um mundo que exige tanto de nós, ser eficiente é algo que nos coloca em movimento, que nos dá resultados, que nos faz sentir capazes. Mas, como toda virtude, ela também pode se tornar uma armadilha. Quando somos muito eficientes, nos tornamos máquinas de resolver, de fazer, de executar. E, sem perceber, a eficiência começa a preencher todos os espaços — até aqueles que deveriam ficar vazios para que algo novo pudesse surgir.

E é aí que entra a necessidade do furo.

Fazer um furo significa interromper o fluxo incessante da produtividade. Significa criar um vazio, um intervalo, um espaço onde a eficiência não seja protagonista. Um furo no tecido perfeito das obrigações, das metas, dos prazos. Um furo no controle excessivo que você exerce sobre si mesmo e sobre tudo ao redor. Não para que você se torne menos capaz, mas para que possa respirar e perguntar: o que realmente importa aqui?

A eficiência, muitas vezes, nos coloca em um ritmo que não permite questionamento. Estamos sempre resolvendo o que aparece, apagando os incêndios, entregando o que nos pedem. Mas será que sempre sabemos por que estamos fazendo o que fazemos? Será que, nessa eficiência implacável, não estamos deixando de lado a oportunidade de criar algo que vá além do imediato? Fazer um furo é permitir que a luz passe, que algo inesperado entre, que o incômodo surja. É deixar de apenas funcionar e começar a se perguntar se você está, de fato, vivendo.

O furo é incômodo porque ele quebra o ritmo. Ele expõe fragilidades que a eficiência costuma mascarar: cansaço, insatisfação, a sensação de que algo está sempre faltando, mesmo quando tudo parece em ordem. É no vazio do furo que essas questões aparecem, e é exatamente por isso que ele é tão necessário. Ele nos obriga a parar e encarar aquilo que a eficiência não consegue resolver.

Fazer um furo não é negligência, não é preguiça, não é desistência. É um ato de coragem. É olhar para além da produtividade, além do sucesso mensurável, e se conectar com o que realmente importa para você. Porque, no fim das contas, eficiência sem propósito é como correr em círculos: você pode até se sentir ocupado, mas não está indo a lugar algum.

Faça um furo. Interrompa o automático. Permita que o silêncio, o espaço vazio, a incerteza, se tornem parte do processo. Porque é nesses furos que a criatividade nasce, que o verdadeiro sentido aparece. A eficiência é importante, mas não define tudo o que você é. Às vezes, é no vazio que você encontra a sua maior riqueza.

Você Tem Uma Fantasia de Que Será Colocado Para Dentro

Existe, em muitos de nós, uma expectativa quase invisível, um desejo silencioso: o de ser colocado para dentro. Essa fantasia é a de que, em algum momento, alguém abrirá as portas de um lugar ao qual sentimos que não pertencemos e dirá: "Venha, você é um de nós agora." É a esperança de ser acolhido, reconhecido, validado. De finalmente pertencer.

Essa fantasia, embora pareça reconfortante, muitas vezes nos aprisiona. Ela cria uma espera interminável, uma dependência do olhar do outro para legitimar quem somos. É como se ficássemos na soleira de uma porta, hesitando, torcendo para que alguém a escancare e nos conduza para um espaço onde, finalmente, nos sentiremos aceitos e completos. Mas a pergunta que precisamos nos fazer é: esse lugar realmente existe?

A fantasia de ser colocado para dentro é alimentada pela sensação de exclusão que todos, em algum nível, já sentimos. Seja no grupo de amigos, na família, no trabalho, ou até mesmo em nossas relações mais íntimas, carregamos feridas de momentos em que não fomos vistos, ouvidos, ou aceitos como somos. Esses momentos plantaram em nós a crença de que pertencimento é algo que vem de fora, algo que depende do convite de alguém, de uma aprovação externa.

Mas essa fantasia esconde um paradoxo: quanto mais esperamos ser colocados para dentro, mais nos colocamos para fora. Ao esperarmos que o outro nos valide, que o mundo nos reconheça, negamos a nós mesmos o poder de abrir a porta. Esquecemos que o lugar onde queremos estar não é um espaço físico, nem mesmo um grupo ou um status. O lugar que buscamos é, antes de tudo, dentro de nós mesmos.

A verdade é que ninguém vai nos colocar para dentro porque o pertencimento genuíno não se dá por concessão. Ele é construído por nós, a partir do momento em que paramos de olhar para a porta como algo que nos separa, e começamos a perceber que talvez ela nem exista. O que nos impede de nos sentirmos "dentro" não é a ausência de um convite, mas a crença de que precisamos dele para começar a viver plenamente.

Reconhecer essa fantasia é doloroso, porque implica abrir mão de uma ilusão que, por muito tempo, nos deu conforto. Mas também é libertador. Significa tomar para si a responsabilidade de criar o próprio lugar, de decidir que pertencemos, independentemente de qualquer validação externa.

Você não precisa esperar ser colocado para dentro. Você já está dentro, no único lugar que importa: dentro da sua história, da sua vida, da sua autenticidade. A porta que você acha que precisa atravessar talvez seja apenas um reflexo do medo de se apropriar de quem você é. Abra essa porta — ou melhor, perceba que ela nunca esteve trancada. E entre, não porque alguém o convidou, mas porque esse lugar sempre foi seu.

Auto-suficiência: Antídoto para Amar

A busca pela auto-suficiência muitas vezes se coloca como uma armadilha que, ao invés de nos liberar, nos priva das possibilidades mais autênticas de nos conectarmos com o outro. Em uma sociedade que exalta a independência e a autonomia como virtudes supremos, o conceito de amar parece ter se desvirtuado. Amar, em muitas das vezes, se torna um exercício de autoafirmação, onde o outro é visto como algo a ser consumido, validado ou, muitas vezes, como um reflexo de nossas próprias necessidades não atendidas.

A auto-suficiência, quando entendida como o valor supremo, torna-se um escudo contra as vulnerabilidades do afeto. Em nome da preservação de uma imagem idealizada de nós mesmos — fortes, invulneráveis e autossuficientes — nos afastamos da experiência genuína de amar. Afinal, o que é o amor senão a disposição de se expor ao outro, de permitir que ele nos toque e que, de alguma maneira, ele também nos molde? O amor verdadeiro não surge de uma relação em que estamos em posição de quem tem o controle ou de quem não precisa de nada. Ao contrário, ele nasce da entrega, da fragilidade compartilhada e da aceitação do que o outro tem a oferecer, sem esperar que ele seja um mero espelho de nossas carências.

Quando a auto-suficiência se torna um ideal, ela nos convence de que precisamos ser completos antes de nos permitir ser amados. Assim, a expectativa de que devemos estar sempre em plenitude, sem falhas, sem espaços a serem preenchidos, se transforma em uma barreira invisível, impedindo a aproximação verdadeira. O outro é visto como alguém que precisa ser "consertado", "ajustado" ou "perfeito", o que reduz o amor a uma relação de expectativas e frustrações.

Entretanto, o amor não requer que sejamos completos para dar ou receber afeto. Pelo contrário, ele nasce justamente quando somos capazes de reconhecer e aceitar nossas imperfeições, as lacunas que existem em nós e, assim, permitir que o outro nos complemente, nos desafie e até mesmo nos ensine. A auto-suficiência, como antidoto, nos faz acreditar que ser amável é uma fraqueza, que depender do outro é algo indigno. Mas, na verdade, é na vulnerabilidade e no compartilhamento que o amor se intensifica. Amar é abrir-se para a possibilidade de ser modificado, de ser tocado por aquilo que o outro tem a oferecer, sem a necessidade de ser "completo" para isso.

Na vida, o amor não se sustenta na ideia de ser auto-suficiente, mas na construção de algo compartilhado. O amor real não teme a dependência, nem se esquiva da fragilidade, pois sabe que é nesse espaço que ele floresce. Ao adotar a auto-suficiência como a principal virtude, fechamo-nos para as trocas que realmente enriquecem e transformam. Talvez, o maior desafio seja deixar de lado essa ilusão de perfeição e, em vez disso, permitir-se a leveza da vulnerabilidade. Só assim podemos ser verdadeiramente amados, e mais importante ainda, amar com a profundidade que a vida realmente pede de nós.

A vida é bela

Sim, alguns pacientes realmente deixam uma marca profunda na gente. Eles trazem histórias tão únicas, com desafios e superações que nos fazem repensar nossa própria visão de mundo. A forma como conseguem lidar com situações tão complexas ou, às vezes, até inovadoras na maneira de enfrentar suas dificuldades, nos inspira e nos ensina muito. Quando um paciente sai da "caixa", faz algo inesperado ou encontra soluções criativas para os seus problemas, é impossível não se envolver, torcer pelo seu progresso e até aprender com eles. Esses momentos nos lembram da importância de cada ser humano, da força que carregam dentro de si e de como a nossa função é, muitas vezes, apenas dar o apoio necessário para que eles possam revelar o melhor de si.


Vou tentar resumir um desses casos. De uma mãe de duas filhas, já na casa dos 60+. Ela me contou em uma sessão como ela fez para não transferir suas dores para suas filhas e eu achei o seu depoimento muito rico. Vou transcrever aqui tentando, ao máximo, usar as palavras dela:

= = = = = 

Minha história com minhas filhas é um pouco parecida com o que acontece no filme A Vida é Bela. Eu as protegi de muitas coisas ruins, tanto da minha família quanto da família do meu marido. Queria que elas vivessem uma infância distante das duras realidades que eu mesma passei. O meu objetivo sempre foi criar um ambiente onde elas pudessem se desenvolver de forma saudável, sem o peso das dificuldades externas. Eu tentava "enfeitar" a cena quando necessário, para que a infância delas fosse cercada de amor e explicações que ajudassem a suavizar as situações difíceis. Eu "maquiava" a realidade, explicando de forma simplificada, para que elas entendessem o que estava acontecendo sem que precisassem internalizar o sofrimento. Isso permitiu que elas formassem vínculos afetivos saudáveis e preservassem a inocência emocional.

Elas puderam brincar com os primos, se relacionar com eles de maneira natural, e em nenhum momento precisaram entender as discussões dos adultos, os maus relacionamentos ou as tensões entre os membros da família. Tudo isso passou batido, sem que elas internalizassem nenhum tipo de conflito ou desconforto. Eu e meu marido fizemos questão de nunca fazer críticas severas a outros familiares na presença delas. Criamos uma atmosfera onde parecia que todos se davam bem, que tudo estava bem e que tudo era saudável. Assim, elas puderam vivenciar os conflitos normais da idade, aqueles com os quais eram capazes de lidar, sem que os problemas dos adultos invadissem o seu mundo infantil.

Eu as cercava de um ambiente de afeto, onde o amor era a base para que pudessem crescer protegidas, sem o peso das dificuldades externas que eu sabia que seriam difíceis demais para elas. Eu sabia que, na infância, certos sofrimentos não poderiam ser compreendidos sem causar um impacto emocional profundo. Quando elas cresceram, revisitaram o passado e tiraram suas próprias conclusões, enfrentando a realidade. Como o garotinho do filme, que viveu a guerra sem entender o terror ao seu redor, achando que tudo era uma brincadeira, minhas filhas viveram sua infância sem internalizar os sofrimentos e as complexidades do mundo adulto. Isso foi possível porque, naquele momento, eu sabia que seria muito pesado para elas. Só depois, com mais maturidade, elas conseguiram compreender o valor do amor que ofereci e o quanto isso as protegeu emocionalmente.

Esse gesto de proteção, que para alguns pode ter sido incompreendido, foi um ato profundo de amor. Ao blindá-las de certas realidades, eu criei um espaço seguro onde o vínculo afetivo fosse o alicerce de suas vidas. Elas cresceram sem a interferência direta das complexidades e dores do mundo adulto. Assim, puderam se desenvolver com carinho e sem o peso das adversidades, formando seus próprios vínculos e memórias saudáveis.

Quando minhas filhas se tornaram adultas, começaram a revisar o passado com os olhos de quem já tinha maturidade para entender a complexidade da realidade. Elas passaram a compreender, por si mesmas, o que estava além da proteção que eu havia criado. Como o menino do filme, que ao crescer entendeu a realidade da guerra e o sacrifício do pai, minhas filhas, ao amadurecerem, foram capazes de perceber o valor profundo da proteção que eu lhes dei.

Esse processo de revisitar o passado não significa que elas rejeitem a proteção ou a maneira como as coisas aconteceram. Ao contrário, significa que entenderam a importância do amor e da proteção que ofereci, os quais foram fundamentais para que elas se mantivessem emocionalmente seguras. Elas passaram a perceber como o cuidado e o amor foram essenciais para que pudessem crescer com segurança e, mais tarde, com maturidade emocional. Assim como o garoto do filme, que ao crescer entendeu a necessidade de ser protegido do terror da guerra, minhas filhas, ao revisitar sua história, perceberam o quanto o amor que receberam foi crucial para seu crescimento emocional saudável.

E, mesmo hoje, entendendo que houve, sim, uma blindagem, elas mantêm um profundo respeito pelos avós e uma adoração imensa pelos primos. Suas memórias da infância são recheadas de momentos incríveis, de uma infância saudável, protegida pelo amor e pela construção de vínculos genuínos. Elas compreendem o que fiz por elas, mas a admiração e o carinho pelas pessoas que fazem parte de sua história permanecem inabaláveis. Isso mostra que a proteção e o amor foram fundamentais para que, apesar das dificuldades, elas tivessem um ambiente onde cresceram felizes e plenas.

terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Nas Suas Relações, Você Recebe Muito Pouco ou Quase Nada

É difícil olhar para nossas relações e reconhecer que estamos recebendo muito pouco, ou quase nada. Esse “pouco” não é apenas sobre gestos ou palavras, mas sobre cuidado, reciprocidade e respeito. O abuso, em muitos casos, não se revela em atos extremos ou óbvios. Ele pode ser silencioso, sutil, embutido na dinâmica cotidiana, na forma como somos tratados — ou ignorados.

Quando você dá muito e recebe quase nada, a balança emocional da relação está desequilibrada. E esse desequilíbrio não acontece por acaso. Às vezes, está profundamente ligado à forma como nos percebemos e ao que acreditamos merecer. Ser abusado não significa apenas ser explorado de maneira consciente pelo outro, mas também aceitar, talvez sem perceber, um papel de constante doador, de alguém que prioriza o outro ao ponto de se esquecer de si mesmo.

Esse padrão de receber tão pouco pode vir de histórias antigas. Talvez, em algum momento da sua vida, você tenha aprendido que amor é algo que se conquista, algo que você precisa merecer. Que, para ser aceito, você deve fazer mais, ser mais, dar mais. Essa crença, muitas vezes invisível, pode fazer com que você permaneça em relações onde é desconsiderado, na esperança de que, um dia, o outro veja o seu valor e mude.

Mas eis a verdade dolorosa: quando uma relação se fundamenta em você dar tudo e receber quase nada, o problema não é a quantidade do que você oferece. Não importa o quanto você se esforce ou se doe, porque o outro, muitas vezes, nem percebe o desequilíbrio — ou não se importa em corrigir. Abusos emocionais e relacionais, por vezes, se sustentam na lógica de que “se você está aqui, é porque aceita isso”. E, sem perceber, você acaba reforçando o ciclo.

Ser abusado não é uma questão de fraqueza, mas de uma posição que, com o tempo, se torna confortável na sua normalidade. Você pode estar acostumado a ser aquele que sempre se adapta, que carrega o peso emocional da relação, que tenta preencher lacunas que, na verdade, são responsabilidades do outro. Mas até onde isso é sustentável? Até quando você vai se permitir viver com tão pouco?

Reconhecer o abuso emocional não é fácil. Porque ele não vem só do outro; ele também se alimenta da nossa dificuldade de dizer basta, de perceber que merecemos mais, que merecemos relações onde exista troca, e não exploração. O primeiro passo é admitir que algo está errado. O segundo, e mais difícil, é quebrar o ciclo.

Você não precisa aceitar relações onde recebe tão pouco. Não precisa carregar o peso de relações que te esgotam e te roubam a energia vital. É preciso coragem para olhar para isso e dizer: “Eu não aceito mais viver assim”. E, mais ainda, é preciso amor-próprio para colocar limites e, se necessário, ir embora.

Lembre-se: você merece o que dá. Se você oferece amor, cuidado, paciência e dedicação, deveria receber isso de volta. Relações não são medidas pela perfeição, mas pelo equilíbrio. Não aceite menos do que você merece, porque receber tão pouco não é amor — é abuso.


Esperando Justiça e Planejando Vingança

Há momentos na vida em que o coração se parte diante de uma injustiça. Algo nos foi tirado: a dignidade, o respeito, a paz ou até mesmo a confiança no mundo. Ficamos à espera de que algo maior — a justiça, seja divina ou dos homens — conserte aquilo que foi quebrado. Mas, enquanto esperamos, uma força pode crescer dentro de nós: o desejo de vingança.

Esperar pela justiça é um exercício de paciência e, muitas vezes, de fé. É acreditar que o universo tem uma ordem, que há um equilíbrio natural que pune aqueles que erram e recompensa os que foram feridos. Mas, e quando essa justiça tarda? E quando ela parece cega, surda, distante? Nessas horas, é como se uma voz interna dissesse: “Se ninguém fará justiça por você, faça você mesmo”.

Planejar vingança é ceder a essa voz. É sentir, por um instante, que podemos tomar de volta o controle que nos foi tirado. Que podemos equilibrar a balança com nossas próprias mãos. É imaginar, em silêncio, o momento em que o outro sentirá na pele o que nos fez sentir. O plano, muitas vezes, não é apenas sobre causar dor ao outro, mas sobre reafirmar o nosso valor, provar que não somos vítimas indefesas. A vingança surge como uma tentativa de restaurar o que nos foi roubado: o poder.

Mas a vingança, por mais certa que pareça no imaginário, é perigosa. Ela consome, ocupa os pensamentos, molda as atitudes. É um veneno que bebemos aos poucos, esperando que o outro sofra, sem perceber o quanto já nos corroeu por dentro. Planejá-la pode dar uma falsa sensação de alívio, mas também nos aprisiona à dor, como se estivéssemos vivendo uma eterna repetição do momento em que fomos feridos.

Entre a justiça que não chega e a vingança que consome, há uma terceira via: o desapego. Não é fácil, não é rápido, e nem sempre parece justo. Mas soltar a corda que nos mantém ligados ao que aconteceu é o único caminho para encontrar paz verdadeira. A justiça, afinal, pode vir, mas nunca desfará o passado. E a vingança pode até acontecer, mas não trará de volta o que perdemos.

Então, talvez a maior vitória não seja esperar justiça nem planejar vingança, mas encontrar a força para seguir em frente. Transformar a dor em aprendizado, o ódio em indiferença, e o desejo de retribuição em uma decisão de viver melhor do que antes. Isso não significa esquecer ou perdoar imediatamente, mas sim não deixar que a injustiça nos defina.

Esperar justiça é humano. Planejar vingança também é. Mas escolher a liberdade é um ato de coragem — um que poucos conseguem alcançar, mas que nos devolve algo ainda maior do que o que nos tiraram: o controle sobre quem somos e para onde queremos ir.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

Relato de uma paciente ... tem como não se emocionar?

A clínica é realmente fascinante. Carregamos uma enorme responsabilidade, pois o paciente deposita em nós expectativas altíssimas. Ele acredita que podemos ajudá-lo, e muitas vezes somos surpreendidos. Como não se emocionar diante disso?

Segue um trecho do relato de uma dessas pacientes. O que ela talvez não saiba é o quanto ela me ajuda, muito mais do que eu a estou ajudando.

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Quase perdi tudo, tudo mesmo. Quase não sobrou mais nada.

Foi um daqueles momentos em que o peso da vida parece tomar conta de tudo e, de repente, você percebe que está no limite, à beira do abismo, sem saber se vai conseguir dar o próximo passo. O que parecia certo desmoronou, e tudo o que eu acreditava ter construído se dissipou diante de mim como areia escorrendo pelas mãos. Foi um turbilhão de decisões erradas, de caminhos que tomei sem pensar nas consequências, e da sensação de estar vivendo em um ciclo sem fim de frustração e medo.

Aos poucos, vi a minha vida se desintegrando. Relacionamentos que pareciam sólidos se quebraram com palavras não ditas, com atitudes impulsivas, com mentiras que foram ficando cada vez mais difíceis de sustentar. Minhas escolhas me afastaram das pessoas que mais importavam, e eu vi as portas se fechando uma a uma. As amizades, aquelas que eu pensava que seriam para sempre, começaram a se desfazer como névoa ao amanhecer. O que restava eram os ecos vazios do que foi perdido, os fragmentos de algo que já não fazia mais sentido.

E a vida não era mais uma questão de escolhas – era uma questão de sobrevivência. Eu estava lutando para manter a cabeça acima da água, mas cada vez mais me sentia afundando. O medo de perder mais, de ver tudo desaparecer, era insuportável. E eu quase perdi tudo. Minhas certezas, minha confiança, minha paz... tudo parecia ter se ido. Olhei para mim mesma e não consegui encontrar mais quem eu era, o que me fazia sorrir, o que me dava forças para seguir.

Naquele ponto, foi como se tivesse chegado ao fundo do poço. Não havia mais para onde ir. O que parecia impossível de ser reconstruído era a única coisa que eu poderia tentar salvar – a mim mesma. E, então, comecei a perceber que, embora quase nada tivesse sobrado, ainda havia algo dentro de mim que não tinha sido totalmente destruído: a minha vontade de recomeçar.

Aos poucos, foi preciso aceitar que a perda faz parte do processo de crescimento, e que não se reconstrói algo sem antes dar espaço para o novo. Quase perdi tudo, mas o que restou foi a oportunidade de aprender com cada erro, com cada falha. Porque, mesmo quando a vida nos leva ao limite, sempre existe a chance de começar de novo, de resgatar o que é essencial. O que eu pensava que era o fim, acabou sendo a oportunidade de renascer e, finalmente, entender o quanto a perda pode nos ensinar a revalorizar o que realmente importa.

Quase perdi tudo, mas o que ficou foi mais forte do que tudo o que eu pensava ter perdido.

Livramento ou Humilhação?

Protagonizar a própria vida parece, muitas vezes, uma tarefa monumental. A ideia de ser o centro das decisões, o autor das escolhas e o responsável pelos desdobramentos soa poderosa, mas pode se tornar um peso esmagador. Não é sempre que conseguimos segurar a caneta da nossa história com firmeza, e em muitos momentos o enredo parece fugir do nosso controle, como se fosse escrito por mãos impiedosas.

Quando algo nos é tirado — seja uma relação, uma oportunidade ou uma expectativa —, o discurso comum é enxergar isso como um "livramento". Um conceito reconfortante: talvez aquilo não fosse bom para nós. Talvez fosse uma distração do nosso caminho. Mas o que fazer quando, em vez de alívio, o que sentimos é a dor da perda? Quando, ao invés de gratidão pelo livramento, o que fica é a sensação de humilhação?

A humilhação tem um jeito cruel de nos despir diante de nós mesmos. É como se aquilo que perdemos fosse mais do que um pedaço da nossa vida — fosse um pedaço do nosso valor. O fim de uma relação, o fracasso em um projeto, a rejeição ou a decepção nos colocam frente a frente com a ideia de que não fomos suficientes. E, nesse confronto interno, o protagonismo parece se distanciar. Como protagonizar uma história que, aos nossos olhos, está desmoronando?

A questão é que, ao vivermos esses momentos, raramente conseguimos enxergar o quadro completo. O "livramento", enquanto estamos dentro da dor, parece uma palavra vazia. Um consolo distante, quase cruel, oferecido por quem não está sentindo o peso que carregamos. Porque, para quem vive, o agora dói. E aceitar que o que foi tirado pode ter sido para o nosso bem é um ato que exige tempo, clareza e, acima de tudo, distância emocional.

Mas talvez o verdadeiro protagonismo comece aqui: no meio da dor e da confusão, quando tudo parece perdido. Protagonizar não é ter todas as respostas nem estar no controle o tempo todo. Protagonizar é aceitar que a história tem altos e baixos, que a humilhação de hoje pode ser a força de amanhã. É confiar que, mesmo que o roteiro pareça desordenado, você ainda está escrevendo.

Transformar humilhação em aprendizado é um processo lento. Primeiro, precisamos aceitar a dor pelo que ela é. Não forçar a ideia de "livramento" quando ainda não estamos prontos para acreditar nela. Permitir-se sentir o que for preciso sentir, sem se julgar por isso. Só depois conseguimos olhar para trás e, talvez, encontrar sentido no que parecia tão injusto.

O protagonismo não está na ausência de quedas, mas na capacidade de se levantar. E, acima de tudo, de continuar andando, mesmo quando o caminho está encoberto. Um dia, talvez, você olhe para essa fase e veja não uma humilhação, mas um ponto de virada. Não porque foi fácil, mas porque você teve coragem de seguir.

Seja gentil consigo mesmo nesse processo. A dor de hoje não invalida o valor que você tem. O livramento, se for real, será reconhecido no momento certo. Até lá, lembre-se: ser o protagonista da sua vida não significa ter todas as certezas, mas sim seguir escrevendo, mesmo quando a história parece difícil de ler.

Entre Autonomia e Sujeição

Quando você está livre, algo paradoxal acontece dentro de você. A liberdade, que deveria ser o espaço de autossuficiência e de escolha plena, se torna um peso. Ela se revela insuportável, uma vastidão silenciosa que grita a ausência de vínculos, de referências externas que possam te ancorar. E é nesse momento que você se apressa em se sujeitar a alguém, a se prender novamente a algo ou a alguém que possa dar sentido àquela liberdade avassaladora.

A liberdade não é o que ela parece ser à primeira vista. Ela não é um campo aberto de prazeres ou realizações sem restrições. Para muitos, ela se torna uma sensação de vazio, de não saber o que fazer com o excesso de possibilidades, o temor do próprio poder de escolha. E, no instante em que se vê livre de tudo, surge a necessidade de se atar a um novo "outro", de se submeter a um novo compromisso, a uma nova estrutura. A liberdade parece então desprovida de sustentação, e a dor de estar só consigo mesma se torna maior do que a dor da dependência ou do sofrimento.

É quase como se, ao ser livre, você estivesse confrontando a vastidão do desconhecido, o abismo do que não está mais delimitado, e isso te assusta. O que fazer com essa autonomia? Como lidar com a pressão interna de ser completamente responsável por sua própria escolha, sem a segurança de um guia, de uma referência externa que te moldasse?

É nesse ponto que a liberdade vira um fardo. E, em um movimento quase desesperado, o ser humano procura a sujeição. A sujeição ao outro, ao sistema, à ideia de pertencimento, torna-se uma forma de fugir do terror do infinito de opções. O sofrimento, portanto, se torna preferível à solidão da liberdade, pois ele é previsível, conhecido e controlável. Mesmo que doam, os limites impostos pelo sofrimento são mais fáceis de suportar do que o abismo da indeterminação que acompanha a liberdade.

Nesse contexto, a escolha de sofrer em vez de ser livre pode ser vista como um mecanismo de defesa, uma forma de evitar a desconstrução interna que a total liberdade impõe. E o paradoxo está aí: a busca por sofrimento em nome da liberdade é, de alguma forma, a busca pela segurança que o sofrimento ilusoriamente oferece. 

Filigramas

Não É Tudo Que Te Atinge. É Uma Parte Que Te Atinge

Nem sempre percebemos, mas somos feitos de partes — camadas, filigramas, detalhes que nos compõem de forma única. E é curioso como nem tudo que nos toca consegue atravessar essas camadas. As palavras, os gestos, as situações da vida chegam até nós como ondas, mas não é o todo que nos atinge; é sempre uma parte. Um detalhe, às vezes quase invisível, que encontra um espaço em nós, uma fresta aberta, uma lembrança, um significado oculto. É essa parte que nos atinge.

A vida é cheia de ruídos, cheia de acontecimentos que passam por nós sem grande impacto, como vento que não encontra resistência. Mas, de vez em quando, algo menor — quase sutil — encontra uma ressonância em nosso interior. Não é o que foi dito, mas como foi dito. Não é o fato em si, mas o tom, o olhar, o silêncio que veio depois. Essa é a parte que nos atravessa, o detalhe que toca um lugar que, às vezes, nem sabíamos estar exposto.

São as filigramas da experiência, os pequenos ornamentos emocionais que carregamos e que moldam a forma como sentimos o mundo. Um comentário que, para outro, seria banal, em você encontra uma memória de rejeição. Uma ausência que poderia passar despercebida, para você se torna um eco de perdas anteriores. Nem tudo te atinge porque nem tudo fala diretamente com as suas partes mais sensíveis, com os seus significados mais íntimos.

Mas essas partes não existem por acaso. Elas são nossas marcas, nossos traços singulares. E, embora muitas vezes pareçam frágeis, são também nossa força, porque nos lembram de quem somos, do que vivemos e do que ainda precisamos cuidar. São as filigramas que nos tornam humanos.

Reconhecer que não é o todo que nos fere, mas apenas uma parte, é uma forma de lidar com o impacto das coisas. É entender que o que dói em nós talvez nem exista para o outro, e vice-versa. É um convite à reflexão, à pausa, ao olhar cuidadoso para si mesmo: o que, exatamente, está me atingindo? Por que isso encontrou espaço em mim?

A resposta para essas perguntas nem sempre é clara, mas o processo de buscá-la é libertador. Porque, ao identificar a parte que te atinge, você também descobre a parte que pode se curar. Você percebe que o que te atravessa não define o todo de quem você é — é apenas um detalhe, uma filigrana entre tantas outras. E isso significa que há mais em você, muito mais, do que aquilo que te atinge.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Saturação

Há momentos na vida em que tudo parece saturado. É como se a vida fosse um copo constantemente preenchido, onde cada gota que cai transborda, algo que já está cheio. Não é apenas cansaço físico ou mental, mas uma exaustão difusa que se estende por todos os aspectos da existência. Trabalho, relacionamentos, responsabilidades, desejos, até os próprios pensamentos: tudo parece ocupar espaço demais, deixando pouco ou nenhum lugar para respirar.

Essa sensação de saturação não se limita a uma área específica. É um acúmulo que invade o cotidiano, como se cada pequeno detalhe do dia a dia, antes suportável ou até indiferente, agora exigisse demais. O ruído do mundo parece mais alto, as demandas mais intensas, as expectativas mais opressoras. Até os prazeres, antes refúgio, perdem o brilho e passam a pesar. Nada parece leve. Nada parece simples.

O curioso é que, muitas vezes, essa saturação não nasce de um excesso evidente, mas de algo mais sutil e silencioso: o desencontro entre o que estamos vivendo e o que, em algum lugar dentro de nós, sabemos que precisamos. A vida se torna uma sobrecarga, um mar de obrigações e vontades acumuladas, mas sem direção. É como caminhar com as mãos cheias de coisas que não pedimos, mas que, de alguma forma, aceitamos carregar.

A saturação é um grito abafado que pede pausa, mesmo que não saibamos como ou onde encontrar essa pausa. Não é fraqueza, nem falta de capacidade. É um sinal. Um alerta de que estamos nos afastando de algo essencial. Talvez do silêncio. Talvez de um espaço vazio que nos permita sentir o que realmente importa. Talvez de nós mesmos.

Mas como lidar com isso? Como esvaziar o copo? 

Talvez a resposta não esteja em buscar mais ou fazer mais, mas em soltar, em abrir mão. Soltar o que não é essencial. Soltar o que só ocupa espaço. Permitir que o vazio tenha lugar. Porque é no vazio que as coisas respiram, e é nele que reencontramos o sentido.

Saturação, afinal, é um convite disfarçado. Um convite para parar, olhar para dentro e redescobrir o que ainda pulsa, mesmo sob o peso de tudo o que transborda. É um momento difícil, mas também uma oportunidade: a de começar de novo, com menos peso e mais verdade.

Você Autorizou o Outro a Não Te Dar Nada

Em nossas relações, conscientes ou não, criamos contratos invisíveis. Eles não são escritos, nem assinados, mas se manifestam em cada gesto, palavra ou silêncio. E, muitas vezes, sem perceber, autorizamos o outro a nos dar nada. Parece contraditório, até doloroso admitir, mas é uma verdade que carregamos em pequenas concessões que vão se acumulando como grãos de areia até formarem desertos.

Quando aceitamos migalhas em vez de cuidado, quando nos adaptamos a ausências que nos ferem, quando justificamos o que não pode ser justificado, estamos, de certa forma, dizendo ao outro: "Está tudo bem assim. Eu aceito." Mas será que realmente aceitamos? Ou estamos apenas calando o grito interno que pede mais, tentando evitar o confronto com a falta que nos atravessa?

Essa autorização não nasce do desejo de menos, mas do medo de perder até mesmo aquilo que já é tão pouco. Por isso, nos acomodamos em trocas desiguais, sustentamos relações que drenam mais do que nutrem e nos silenciamos diante de expectativas frustradas. O paradoxo é que, ao permitir que o outro não nos dê nada, também nos retiramos da relação. Permitimos que a ausência dele encontre eco na nossa própria ausência de nós mesmos.

Mas e se, em vez de autorizarmos o vazio, autorizássemos a abundância? Isso exige coragem, claro. Coragem de colocar limites, de pedir o que nos falta, de reconhecer que merecemos mais. Não se trata de exigir o impossível do outro, mas de entender que toda relação é um espaço compartilhado, e que esse espaço precisa ser preenchido por ambos.

Se você autorizou o outro a não te dar nada, pode ser hora de revogar essa permissão. Não como uma punição ao outro, mas como um ato de amor por si mesmo. Porque merecer algo mais começa em reconhecer o que estamos dispostos a aceitar. E, no momento em que você se autoriza a querer mais, a exigir reciprocidade, algo dentro de você começa a mudar. Você deixa de ser uma superfície vazia onde o outro apenas reflete sua ausência e se torna uma presença, inteira e suficiente, que pede para ser vista, ouvida e respeitada.

O primeiro passo é sempre difícil. Rever contratos invisíveis é um processo doloroso, mas libertador. Porque, no fim das contas, não é sobre o que o outro pode ou não te dar. É sobre o que você decide não aceitar mais. É sobre permitir-se ser preenchido apenas por aquilo que faz sentido, que cuida e que constrói.

Propósito

Acordar não para trabalhar e sim para manifestar seu propósito. Este é o objetivo da vida, saber quem você é e a partir daí expressar seu eu verdadeiro, compartilhando seus dons sem esforço e sofrimento e sim com alegria e amor. Não é o lugar que determina isso e sim a sua consciência.

Postagem em Destaque

Você passou de fase! Parabéns! 💔 Bem vindo ao Próximo Nível.

Olá Querida , ouvi sua mensagem. Na verdade, ouvi sua mensagem algumas vezes, até estar aqui e responder. Sua mensagem é bonita, é carinhosa...

Um presente

Você é mais do que um irmão, é um amigo, um presente e me acompanha nos momentos alegres e nas aflições. Me dá sempre os melhores conselhos.
Compartilhamos a paixão pelo futebol.💙 Irmã de menino é assim mesmo, junto com as bonecas, a gente vira goleiro, aprende a lavar carros, instalar chuveiro, chef de cozinha. Rs. Trocamos afilhados. E as muitas viagens, nem se fala, as que deram certo e as “roubadas” que nos metemos.
Compartilhamos a mesma casa e a mesma educação, crescemos juntos, vivemos juntos e ninguém nos conhece melhor do que nós mesmos, por isso, quero que saiba que te amo de todo coração, e que, se precisar de algo, estarei bem aqui para te ajudar, para te dar minha força.
Admiro você, sua família, sua empresa ... sua alma, sua jornada nessa vida!!!!
Você sabe que pode sempre contar e confiar em mim. Estamos unidos para o que der e vier, somos cúmplices, não importa o que aconteça.
Quero lhe desejar tudo de bom neste dia, você merece o melhor! Obrigada pela sua amizade, você é a minha certeza e torço bastante por você. Que estejamos cada vez mais unidos.
Seja muito Feliz! Te admiro muito. Tenha um Feliz Aniversário! 🎁

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